Dona da Riachuelo, a Guararapes vem se acostumando a superar suas próprias marcas nas últimas temporadas de balanços. E trouxe novas peças para essa coleção ao divulgar seu resultado do terceiro trimestre na noite desta quarta-feira, 5 de novembro.
Entre julho e setembro, a companhia apurou um lucro líquido de R$ 74 milhões, um crescimento de 63% sobre o mesmo intervalo, um ano antes, e a maior cifra já registrada pela empresa em um terceiro trimestre.
Esse mesmo recorde também foi entregue na linha do Ebitda ajustado consolidado, que registrou uma expansão de 14,8%, para R$ 402 milhões. Já a margem Ebitda de 16,4%, uma evolução de 1,2 ponto percentual, também foi a maior já reportada nesse período.
A grande marca, porém, veio em outro indicador, a margem bruta de vestuário, que cresceu 2,5 pontos percentuais, para 57,3%. Esse patamar também representou um recorde na série histórica da empresa para um terceiro trimestre, além do oitavo trimestre consecutivo de evolução no indicador.
“Nossa margem já está entre as melhores do setor e ainda temos alavancas para extrair e espaço para crescer mais”, diz André Farber, CEO da Guararapes, ao NeoFeed. “Com mais avanços nessa linha, temos mais musculatura para investir. E margem é ar puro. Ela te permite crescer com muita saúde.”
Uma série de medidas que começou a ser implementada desde que Farber assumiu o comando da operação, em maio de 2023, ajuda a explicar de onde a Guararapes está tirando esse fôlego. Boa parte delas ligada ao modelo verticalizado da companhia.
Esse trabalho incluiu, por exemplo, o crescimento do volume de produção internalizado na fábrica do grupo em Natal (RN), de um índice de aproximadamente 35%, em 2023, para o nível atual em torno de 50%. Nesse intervalo, o grupo saiu de 27 milhões de peças anuais fabricadas na planta para 38 milhões.
Batizado de “make or buy”, um dos projetos nessa esteira envolve uma revisão constante em relação ao que faz mais sentido produzir internamente ou comprar “fora de casa”, levando em conta questões como escala, margem, produtividade e tipos de matéria-prima.
“Hoje, nós já temos muita clareza, em termos de eficiência operacional, sobre qual é a vocação da nossa fábrica’, afirma Miguel Cafruni, CFO da Guararapes. “Por isso estamos capturando essa expansão de margem por oito trimestres consecutivos.”
Nessa equação, o plano, a princípio, não é buscar um patamar ainda mais elevado de produção interna. Com pequenas variações no patamar atual, a empresa também vê vantagens em reservar espaço para fornecedores nacionais e internacionais. E quer evoluir agora em outras iniciativas.
“Nós ocupamos melhor nossa planta, o que reverteu na margem total da companhia”, diz Farber. “Mas ainda temos a oportunidade de fazer uma segunda e uma terceira camada para integrar ainda mais o planejamento do varejo com a fábrica. São fases do jogo.”
Em uma etapa anterior, a Guararapes implantou processos, fortemente apoiados por tecnologia, que permitem à empresa planejar, fazer alterações e ajustar a produção de acordo com a demanda, a partir de dados coletados na ponta do varejo.
“Nós fazemos essas mudanças respondendo à velocidade da venda e estamos tornando os tempos de reação cada vez mais cursos”, afirma Farber. “Esse planejamento, por exemplo, era mensal. Mas já estamos indo agora para um processo semanal.”
Ao mesmo tempo, o executivo enxerga oportunidades para avançar em outras vertentes que também estão por trás dos recordes reportados recentemente pelo grupo. Entre elas, a estratégia de precificação comercial.
“Temos evoluído muito nossos algoritmos de planejamento, de envios para loja e também os de precificação”, afirma o CEO. “E estamos trabalhando com bases de dados mais robustas e usando mais inteligência artificial”, diz o CEO.
Outros recordes. E uma potencial venda
No balanço dessas frentes, a empresa registrou um crescimento de 7,3% em vendas mesmas lojas. O Ebitda ajustado de mercadorias de R$ 256,3 milhões, por sua vez, teve alta de 19,2% e também foi recorde para o período. A margem Ebtida de mercadorias evoluiu 1,6 ponto percentual, para 14,2%.
A receita líquida consolidada da companhia foi de R$ 2,45 bilhões no trimestre, 6,6% superior à cifra registrada um ano antes. Já a dívida líquida ficou em R$ 839,3 milhões, com alavancagem de 0,5 vez, contra R$ 869,7 milhões e o patamar de 0,6 vez reportado em igual período de 2024.
No trimestre, a Midway, braço financeiro do grupo, registrou um Ebitda de R$ 119 milhões, o que representou uma expansão de 6,5% sobre o mesmo intervalo de 2024.
Enquanto contabiliza esses números, a Guararapes procura um destino para uma terceira frente do seu ecossistema – o Midway Mall. Em outubro, o grupo informou que contratou o BTG Pactual como assessor para uma potencial venda da participação detida no shopping center.
“Não temos urgência de vender”, diz Farber. Ele ressalta, porém, que a Guararapes definiu de forma muito clara que tem dois negócios core – o negócio de varejo de moda e a operação de serviços financeiros.
“Estamos all-in para focar e investir nesses negócios”, afirma ele. “E se tivermos boas oportunidades de monetizar o que consideramos menos core e tivermos um bom retorno, estamos abertos.”