No último dia 27 de março, a Hapvida fechou um acordo de sale & leaseback - venda seguida pela locação dos imóveis à própria empresa –, no valor de R$ 1,25 bilhão, para a venda de 10 imóveis de sua propriedade à família Pinheiro, fundadora e controladora da operadora de planos de saúde.

Passados sete dias, a companhia está oficializando o segundo passo previsto nessa estratégia de resgate da sua operação. O grupo anunciou na noite de ontem, dia 2 de abril, que seu Conselho de Administração aprovou a realização de uma oferta pública de distribuição primária de ações ordinárias.

Com um lote inicial de 329,3 milhões de novas ações a serem emitidas e, caso se identifique uma demanda, a colocação de um pacote adicional de 65,8 milhões de ações, voltado exclusivamente a investidores institucionais no exterior, a oferta em questão pode levantar mais de R$ 1 bilhão.

Segundo fato relevante divulgado pela companhia, o preço da ação será fixado após a conclusão do bookbuilidng do follow on. Esse potencial de captação bilionária leva em conta, porém, o preço de R$ 2,62 do papel no fechamento do pregão da última sexta-feira, 31 de março.

Com base nessa última cotação da ação, o lote inicial resultaria em recursos da ordem de R$ 862,8 milhões. Levando-se em conta a totalidade das ações adicionais, esse montante chegaria a R$ 1,03 bilhão.

Conforme já havia sido informado há uma semana pela Hapvida, a família Pinheiro se comprometeu a subscrever e integralizar ações no valor total de R$ 360 milhões na nova oferta, considerando a colocação integral das ações adicionais nesse processo.

Com o fim do prazo de subscrição em 11 de abril, a oferta tem o Bank of America Merrill Lynch como coordenador-líder e a participação dos bancos Itaú BBA, UBS e BTG Pactual. Segundo o grupo, os recursos captados serão destinados integralmente ao fortalecimento de sua estrutura de capital.

O pacote de “socorro” à Hapvida para melhorar a liquidez da operação se explica por uma série de fatores, que inclui questões como os custos médicos elevados, a sinistralidade alta o cenário macroeconômico instável.

Como agravante, o negócio tem sido afetado pelo processo de integração do Grupo Notre Dame Intermédica (GNDI). A fusão entre as duas empresas foi anunciada em fevereiro de 2021 e obteve a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) exatamente um ano depois.

Um dos ruídos na combinação dos dois negócios veio à tona em novembro de 2022, quando a Hapvida anunciou que Irlau Machado Filho estava deixando o conselho de administração e o cargo de co-CEO da empresa, posto que assumiu no processo da fusão com o Grupo NotreDame Intermédica.

A medida despertou a desconfiança do mercado e, diante dessa reação, duas semanas depois, o grupo reavaliou a decisão e divulgou que o executivo permaneceria no board até 2024, além de integrar outros comitês da empresa.

A Hapvida voltou a ficar em xeque, no entanto, no último dia 1º de março, quando divulgou seu balanço referente ao quarto trimestre e ao ano consolidado de 2022. Entre outubro e dezembro, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 316,7 milhões, contra um lucro líquido de R$ 200,2 milhões em igual período, um ano antes.

Entre outros indicadores que desagradaram investidores e analistas, a sinistralidade caixa da operação avançou 8,1 pontos percentuais nesse intervalo, para 72,9%. Já a sinistralidade total cresceu 9,7 pontos percentuais, para 76,9%.

Como reflexo, naquele dia, as ações da empresa fecharam o pregão cotadas a R$ 3,02, o que representou uma queda de 32,74%. Levando-se em conta a cotação de R$ 2,62 da última sexta-feira, 31 de março, os papéis acumulam uma desvalorização de 48,42% em 2023. A empresa está avaliada em R$ 18,6 bilhões.