Eles já se conheciam de longa data quando, em dezembro de 2021, a Open Co levantou R$ 600 milhões em uma rodada liderada pelo Softbank. Bruno Baratta, pela Lazard, assessorou a captação da fintech de crédito, cofundada por Rafael Pereira.

Pouco mais de dois anos depois, a dupla volta a se sentar no mesmo lado da mesa. Dessa vez, porém, em uma casa diferente e com outro objetivo em comum: expandir as fronteiras do Houlihan Lokey, banco de investimentos independente, no Brasil.

Avaliado em US$ 8,5 bilhões, o banco americano desembarcou no Brasil há um ano, quando contratou Baratta para comandar o escritório, sua primeira operação na América Latina. E, agora, está anunciando a chegada de Pereira como senior advisor para ganhar terreno nos setores de tecnologia e fintech.

“Tech e fintech eram assuntos que já vinham na nossa cabeça há um bom tempo”, diz Baratta, head do escritório do Houlihan Lokey no Brasil, ao NeoFeed. “E o Rafael é a ponte perfeita entre a especialização e a cobertura que temos fora do País com o ecossistema e a realidade desses dois setores no Brasil.”

Pereira, que segue como acionista da Open Co, mas fora do dia a dia da fintech, ressalta que essa nova etapa coincide com um momento de amadurecimento dos dois segmentos no Brasil, especialmente diante de um período recente de menor liquidez no mercado.

“O fato de ter essa especialização coloca o Houlihan em uma posição única no Brasil”, afirma Pereira. “Estamos vendo um ciclo com mais transações entre empresas do próprio ecossistema, além dele e com companhias de fora do País.”

O próprio Pereira foi um precursor dessa onda, ao ser um dos arquitetos da fusão entre a Rebel e a Geru, em 2021. A transação criou a Open Co, que levantou mais de US$ 1 bilhão em capital e dívida com nomes como Goldman Sachs e International Finance Corporation, além do já citado Softbank.

Suas credenciais não se esgotam nessa história. Ele traz mais de duas décadas de experiência como empreendedor, em projetos como a Rebel; como executivo, em empresas como Enova, KPMG e IBM; como conselheiro do Paraná Banco e como presidente da Associação Brasileira de Fintechs.

“Conheço os empreendedores, os fundos que atuam mais localmente e tenho um entendimento das particularidades do Brasil”, diz Pereira. “Então, o meu papel, junto com o time global do banco, é conectar essas duas pontas.”

Baratta acrescenta: “Ele passou por todas as etapas e entende as dores dessas empresas. É o quarterback perfeito para esse negócio. É difícil ter alguém com esse perfil. Normalmente, o que você encontra é o banker clássico.”

Globalmente, o Houlihan também tem uma bagagem pesada nessas duas esteiras. Com 40 escritórios no mundo, sua operação tem cerca de 230 bankers 100% focados em tecnologia e fintech. A primeira vertical, por exemplo, tem 40 managing directors e cobre 35 subsetores.

O batalhão nesse front foi reforçado por uma aquisição. Em 2021, o Houlihan Lokey comprou a GCA Advisors, em um acordo de US$ 561 milhões.

“Até então, o Houlihan tinha uma cobertura abaixo da média de mercado”, afirma Baratta. “Passamos a ter o maior time do mercado em tech e fintech. E, claramente, ainda não estávamos atacando esses setores com o foco condizente no Brasil.”

Agora, esse ataque será apoiado pela proximidade do Houlihan Lokey com financial sponsors, traduzida na cobertura ativa e nos diálogos semanais com cerca de 2,5 mil fundos de private equity, de venture capital e de crédito, além de grandes family offices.

M&As e capital raising

O banco enxerga mais potencial e quer acelerar os negócios de assessoria a M&As, tanto no buy side quanto no sell side, e de levantamento de capital.

Na visão do Houlihan, a proximidade com esse ecossistema global é relevante não apenas para assessorar essas captações, mas também para pescar oportunidades nas empresas que compõem o portfólio desses fundos. No Brasil, esse cenário se replica com as conexões de Pereira.

“Muitas empresas captaram entre o início e o fim de 2021 e esticaram os recursos o quanto deu”, diz Baratta. “E esse ‘o quanto deu’ provavelmente está acabando agora. E há muitos captables que precisam ser solucionados. Então, vemos uma boa agenda nessas discussões nos próximos 12 meses.”

Com esse foco, o escritório brasileiro também busca se aproximar da operação global do Houlihan, onde os M&A e o capital raising são o carro-chefe. De abril a dezembro de 2023, quando se encerrou o terceiro trimestre fiscal da empresa, a receita dessas atividades foi de US$ 870,7 milhões, dentro de uma receita total de US$ 1,36 bilhão do banco.

Globalmente, esse braço responde, em média, por cerca de 60% do negócio. Outros 20% a 25% estão relacionados a reestruturações de dívida e operações de distressed, com 10% a 15% ligados a serviços para fundos.

No Brasil, o braço de reestruturações de dívida está mais avançado, com o Houlihan assessorando boa parte dos credores financeiros de empresas como a Oi e a Unigel. O banco também trabalhou ou está envolvido em processos de companhias como Gol, InterCement e Ocyan.