Em 2014, os executivos do Itaú começaram a estudar o ecossistema de inovação do Vale do Silício, nos Estados Unidos. E perceberam como a engrenagem por trás daquela “máquina” de criar empresas que mudam o mundo funcionava. De forma resumida, jovens que saem de universidades de ponta, muito capital de investidores, possibilidade de testar e errar e conexão com grandes empresas são os ingredientes que criam um círculo virtuoso.
Foi a partir dessa constatação que o Cubo, um espaço de inovação que abriga startups, foi criado em 2015, como uma pequena peça para tentar replicar aquele modelo do Vale do Silício. Mas o mais importante foi que esse “momento Eureka” abriu a cabeça dos executivos do Itaú e foi fundamental para a transformação tecnológica que o banco viveu nos últimos anos.
“O nome do jogo hoje é velocidade”, diz Ricardo Guerra, chief information officer (CIO), que está à frente da área de tecnologia do Itaú Unibanco desde 2015 – hoje, ela tem mais de 17 mil profissionais, quase 20% do total de funcionários do banco. “Velocidade de testar hipóteses e entregar experiências, jornadas, produtos e serviços melhores aos clientes. E isso numa empresa estabelecida com múltiplas unidades de negócios.”
Não chega a ser surpresa, portanto, segundo uma análise feita por IA pelo NeoFeed, que a palavra “tecnologia” foi a mais falada durante o Itaú Day, que aconteceu no começo de setembro deste ano, e reuniu toda a cúpula do Itaú Unibanco, dos copresidentes do conselho, Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, ao presidente, Milton Maluhy Filho.
No evento, o Itaú Unibanco anunciou seu plano de migrar 75% de sua base de clientes para modelos digitais nos próximos três anos, melhorar seu índice de eficiência, expandir seu mercado endereçável e dobrar a carteira de crédito nos próximos cinco anos, com destaque para a expansão em segmentos até então evitados, como o varejo massificado.
A tecnologia será fundamental para atingir essa meta. Um dos primeiros bancos incumbentes a promover mudanças rumo à era digital – como uma forma de enfrentar fintechs muito menores, mas muito mais ágeis –, o Itaú Unibanco começa agora a colher os frutos dessa estratégia de investimentos pesados em tecnologia.
Mas não foi uma trajetória em linha reta. Ao contrário. O desafio do Itaú foi atualizar sua plataforma tecnológica sem parar o banco – ou, numa analogia mais clara, trocar os pneus de um carro de Fórmula 1 com ele em movimento. Atualmente, de acordo com Guerra, 70% do banco está modernizado. A meta é que, em 2028, seja 100%.
“Por modernizado, isso significa um banco sem legado, onde a plataforma tecnológica é competitiva e não deve nada para nenhuma empresa, seja ela incumbente, newcomer e de outras indústrias”, afirma Guerra.

O Itaú foi, pouco a pouco, “desativando” sua arquitetura antiga e substituindo-a por outra componentizada e baseada em microserviços. Não é só uma plataforma mais escalável, como também é baseada em computação em nuvem.
Um exemplo do que isso significa é imaginar que, com a tecnologia antiga, um novo serviço poderia demorar mais de um ano para sair da área de negócios, passar pelo crivo de tecnologia e chegar até o consumidor final. Hoje, são poucos meses.
Um número que ilustra essa velocidade é que, de 2018 a 2025, o Itaú Unibanco aumentou em 2.099% (isso mesmo, não está digitado errado) o volume de implantações de mudanças e atualizações tecnológicas. Ao mesmo tempo em que aumentou em três vezes os investimentos no desenvolvimento de soluções, o custo de infraestrutura caiu 25%, no mesmo período.
Atualmente, o Itaú tem, em curso, 1,9 mil iniciativas que envolvem revisão, simplificação, otimização de processos, automação de atividades e uso de dados e analytics em implantação. E são mais de 2,2 mil planejadas.
Entre essas iniciativas estão a automação de 15 mil análises jurídicas por mês, análise de 40 milhões de documentos e redução de 98% em incidentes críticos desde 2018. O índice de eficiência deve se aproximar de 30% até 2030 – hoje está em 39%.
A inteligência artificial está não só aumentando essa velocidade de entrega de produtos, como também ajudando no próximo passo do Itaú Unibanco: a hiperpersonalização, estratégia que usa IA para criar experiências, produtos e serviços altamente personalizados e únicos para cada cliente.
Observe o agente de investimentos, que ainda está sendo testado por poucos usuários, anunciado em julho deste ano pelo Itaú. Baseado em inteligência artificial generativa, ele consulta 50 bases de dados e faz 22 mil simulações antes de oferecer uma sugestão para o investidor.
“É uma vantagem competitiva”, afirma Guerra. “A nossa IA usa o conhecimento interno do banco para dar recomendações em cima de nossos modelos proprietários.”
Outro exemplo da hiperpersonalização é o Emps e o SuperApp do Itaú. O primeiro é uma conta jurídica digital grátis para empreendedores baseada em inteligência artificial. Ele conta com recursos como gestão de fluxo de caixa e performance de vendas. “E tenta recomendar produtos e serviços que são importantes para a empresa”, diz Guerra.
O SuperApp, conhecido internamente como One Itaú, pois seu objetivo é levar para dentro do aplicativo do Itaú clientes que não são correntistas de banco, mas usam algum produto, já conseguiu migrar 10,1 milhões de pessoas, sendo que 53% dos clientes já possuem três ou mais produtos contratados.
Mas de nada vale esse discurso, se ele não trouxer resultados para o banco. O NeoFeed conversou com alguns gestores para tentar entender, sob a lógica de quem investe no Itaú Unibanco, a percepção de sua agenda tecnológica.
“O Itaú tem uma agenda de melhor custo e a tecnologia vai auxiliar nessa linha”, diz Rafael Furlan, sócio da Norte Asset. “Tem uma bala de prata? Não é o que parece, mas são várias iniciativas pequenas que, somadas, fazem a diferença.”
Outro gestor acredita que o Itaú, ao longo do tempo, caminha para ser visto como uma empresa tecnológica. “A IA, por exemplo, pode ser usada para muitas coisas. E o banco tem capacidade de utilizar milhões de dados simultaneamente com velocidade e acurácia”, afirma André Gordon, sócio da GTI.
Em relatório, a Genial escreveu que acredita que o banco tenha sustentado, por algum tempo, uma vantagem competitiva que deve levar a uma expansão estrutural do ROE. “Uma simulação simples indica que a melhora do índice de eficiência para 30% poderia elevar o ROE para 26%, bem acima do custo de capital em torno de 15%, justificando um valuation com prêmio sobre os pares.”
Esse prêmio da ação se reflete no desempenho do Itaú no mercado de capitais. O banco está avaliado em R$ 389,3 bilhões. Suas ações sobem 38,3% neste ano. Em 12 meses, o avanço do papel é de 15,2%.