O iFood anuncia o lançamento de seu próprio LLM (Large Language Model), de olho na fidelização de usuários através da hiperpersonalização de seus serviços e ofertas.
Ao contrário dos modelos de linguagem de uso geral disponíveis no mercado, a tecnologia desenvolvida pelo iFood — chamada de Large Commercial Model (LCM) — é focada no mercado de alimentação e e-commerce brasileiro. Ela foi criada utilizando dados e a experiência acumulada pela empresa ao longo de 14 anos, com informações do banco global de transações comerciais da Prosus, sua controladora.
Segundo Thiago Viana, diretor de inovação e parcerias no iFood, o objetivo é criar produtos e funcionalidades capazes de compreender o perfil do usuário e oferecer recomendações assertivas, engajando ainda mais os cerca de 60 milhões de consumidores do aplicativo no Brasil.
“Somos um negócio hiperlocal”, afirmou Viana. “Ao contrário dos marketplaces, que têm distribuição centralizada e fazem ofertas semelhantes em todo o país, precisamos personalizar as ofertas, pois os restaurantes estão próximos do cliente. Não existe restaurante genérico.”
O modelo já está em operação e vem apresentando resultados. De acordo com Thiago Cardoso, diretor de dados e IA, as notificações enviadas com o novo sistema geraram quatro vezes mais conversão no aplicativo.
Além disso, ao desenvolver o modelo internamente, com tecnologia própria, o iFood reduziu significativamente os custos operacionais, com o mesmo nível de performance dos LLMs do mercado. “Estamos falando de uma redução de custos 60 vezes, essencial para escalar os volumes processados pela empresa”, disse Cardoso.
O LCM servirá de base para a construção de novos produtos para o iFood. O primeiro deles, anunciado junto com o modelo, é o Ailo, o agente de IA generativa que consegue sugerir refeições aos usuários com base em suas buscas no app.
No estilo do ChatGPT, o usuário pode inserir comandos genéricos como “quero comer uma comida light”, e a ferramenta apresenta opções personalizadas.
Em fase beta desde junho, o Ailo já foi testado por 70 mil usuários, registrando mais de 100 mil interações. A ferramenta está disponível no WhatsApp e a ideia é ir liberando a funcionalidade aos poucos. A empresa projeta que ela alcance 1 milhão de pedidos até março de 2026, ainda distante dos 120 milhões de pedidos mensais do iFood.
Segundo Isabella Piratininga, diretora de transformação disruptiva, os dados mostram que usuários que pesquisam via Ailo têm 48% mais chance de concluir a compra, com pedidos finalizados 33% mais rapidamente.
“A oferta é altamente qualificada para o que o cliente busca naquele momento”, afirmou Isabella. “O Ailo reduz a carga cognitiva da navegação, entregando diretamente o que se procura.”
O LCM, segundo o iFood, foi desenvolvido para ser agnóstico e escalável, podendo ser aplicado em outras empresas do grupo Prosus, como Decolar, Sympla e OLX.
Quarta fase
A hiperpersonalização marca a quarta fase da adoção de IA no iFood, iniciada em 2018 com a criação do primeiro time de dados e o lançamento de ferramentas antifraude.
A nova etapa inclui o uso de agentes de IA por todos os 8 mil funcionários da empresa, em todos os níveis, até março de 2026. Segundo Viana, a meta é viável graças à evolução da GenAI. “Com a tecnologia, passamos de 200 para 3,5 mil agentes operando no iFood em pouco tempo”, disse o diretor de inovação e parcerias no iFood.
Essa fase também envolve a expansão da IA física, com robôs autônomos para ampliar a logística. Isso inclui o avanço da Ada, veículo desenvolvido com a Synkar, para entregas pouco rentáveis ou em locais de difícil acesso, além de drones em parceria com a Speedbird para entregas complexas por terra.
Segundo os executivos, até a terceira fase, a IA teve um impacto positivo de 30% no Ebitda da empresa. A expectativa é de ganhos adicionais, embora sem projeções divulgadas.
O iFood acredita que essas iniciativas preparam a empresa para enfrentar novos concorrentes, especialmente asiáticos como Meituan, que trouxe sua marca internacional Keeta, ao Brasil, e 99Food, retornou ao mercado de delivery brasileiro. Ambos contam com grandes investimentos em tecnologia.
“Quando analisamos o que o iFood entrega em indicadores como antifraude, escalabilidade e estabilidade, não ficamos atrás de nenhum player internacional”, afirmou Viana.