Uma maré de pessimismo toma as projeções sobre o o Banco do Brasil nesta sexta-feira, 16 de maio, após a divulgação do resultado do primeiro trimestre. No período, o lucro contábil do banco teve um recuo anual de  22,9%, para R$ 6,77 bilhões. Na comparação trimestral, o ROE (return on equity) caiu de 20,8% para 16,7%.

A queda de 7,2% na margem financeira, o aumento de 18,9% no custo de crédito e de 7% nas despesas administrativas contribuíram para a perda de rentabilidade. As ações do banco caem cerca de 12% neste manhã, negociadas a R$ 25,94. A maior preocupação se concentra na carteira de empréstimos para o agronegócio, onde o banco vem enfrentando um aumento da inadimplência.

Dado o maior risco de crédito nesse segmento, as provisões contra perdas no agro saltaram de R$ 3 bilhões para R$ 5,2 bilhões no trimestre - quase metade da perda esperada de R$ 10,9 bilhões da carteira interna. A inadimplência da carteira agro subiu 59 pontos-base na comparação trimestral para 3,04%.

Diante do agravamento da inadimplência no setor — no qual o Banco do Brasil tem a maior exposição entre seus pares —, a diretoria da instituição colocou em revisão uma série de projeções para 2025. Entre elas, a margem financeira bruta e o lucro líquido do ano.

“Esperávamos um aumento dessa deterioração. Mas não nessa magnitude. Isso nos pegou de surpresa. A gente sabe o fenômeno das RJs e temos combatido bastante essa ideia de buscar a recuperação judicial. Isso é ruim para o próprio produtor porque o esteriliza completamente de pegar novos financiamentos no setor financeiro”, disse Giovanni Tobias, CFO do Banco do Brasil, em apresentação de resultados.

Apesar do aumento dos riscos, a carteira expandida do Banco do Brasil encerrou o primeiro trimestre com alta de 14,1% frente ao mesmo período do ano passado, alcançando R$ 1,228 trilhão.

“Fica difícil entender se a forte expansão da carteira de crédito está sendo feita a qualquer custo, por obrigação. Foi um resultado muito ruim, com o ROE caindo expressivamente”, afirmou um gestor de ações ligado a um grande banco.

Os números do Banco do Brasil também foram amplamente malvistos pelos analistas de sell-side, com Goldman Sachs e BTG Pactual já antecipando a reação negativa antes da abertura do pregão. No BTG, que havia incluído os papéis da estatal na carteira recomendada de maio, os analistas cogitaram rebaixar a recomendação após o balanço. “O Banco do Brasil não tem ROE recorrente e sustentável acima de 20%.”

Ainda assim, os analistas do BTG veem espaço para recuperação, dado o valuation atual da ação. “Por outro lado, ninguém precificava ROE recorrente acima de 20%, nem perto disso. Por ora, mantemos a recomendação de compra, mas com viés negativo.”

Mesmo com a desvalorização desta sexta, as ações do Banco do Brasil acumulam alta de 9,6% em 2025. O desempenho, no entanto, fica abaixo do Ibovespa, que já avançou 14% no ano. Seus principais concorrentes também registram valorização mais expressiva: Itaú sobe 41%, Bradesco (PN), 36%, e Santander, 27%.