Em um ano que deve ser marcado pela volatilidade da eleição presidencial, o BNP Paribas se vê preparado para capturar as oportunidades de longo prazo, seja no financiamento de projetos de infraestrutura, seja nas tendências de investimentos dos brasileiros.
“Este ano foi um ano em que o banco fez uma capitalização, em setembro, se preparando e olhando para criar as condições para o próximo ciclo de crescimento que vê no Brasil nos próximos anos”, disse Ricardo Guimarães, CEO do BNP Paribas Brasil, na terça-feira, 2 de dezembro.
Em almoço com jornalistas para fazer um balanço de 2025 e projetar 2026, Guimarães e os executivos responsáveis por tocarem as operações do banco francês no Brasil destacaram a agenda de infraestrutura como um dos focos, diante da perspectiva de retomada das grandes obras.
A aposta do banco é de que este é um tema que deve ocorrer independentemente de quem estiver no Planalto e nos governos estaduais a partir de 2027. “O setor de infraestrutura vai liderar a nova fase de crescimento nos próximos anos e muito do movimento que fizemos é em função dessa visão”, afirmou Guimarães.
Se não prejudica a agenda de infraestrutura, a política coloca uma interrogação na situação fiscal, que precisa ser endereçada depois do pleito, segundo Fernanda Guardado, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina.
“Se o Brasil fosse uma empresa, ele seria uma empresa extremamente alavancada”, afirmou. “Não é difícil de ver que está no caminho da recuperação judicial.”
Ainda assim, ela destaca que a economia brasileira deve crescer de forma resiliente, fazendo com que o aperto monetário produza apenas um pouso suave - o banco estima que o PIB expandirá 1,8% em 2026, acima do avanço de 1,6% que esperava anteriormente.
Além da infraestrutura, o BNP Paribas Brasil está trabalhando para avançar em temas de investimentos que conquistaram os brasileiros nos últimos anos.
O CEO da BNP Paribas Asset Management Brasil, Aquiles Mosca, falou do esforço de disponibilizar fundos internacionais nas plataformas de investimentos e bancos.
Já Maria Luiza Gregório, líder de securities services do BNP Paribas para o Brasil, destacou o avanço no mercado local de ETFs, segmento em que o banco tem quase 50% de market share como provedor de serviços e soluções de custódia e administração de ativos.
Acompanhe, a seguir, os principais trechos do encontro:
CRESCER EM INFRAESTRUTURA
GUIMARÃES: 2025 foi um ano em que o banco fez uma capitalização, em setembro, se preparando e olhando para criar as condições para o próximo ciclo de crescimento que vê no Brasil nos próximos anos. E onde que estamos vendo crescimento é um pouco a continuação do que vimos neste ano, que é o setor de infraestrutura, que ainda vai liderar o crescimento econômico no Brasil, principalmente na nossa base de clientes.
À PROVA DE POLÍTICA
GUIMARÃES: Independentemente do cenário político, a agenda de infraestrutura está muito forte no Brasil. Vamos ver o setor de saneamento, com a universalização, atingindo mais de R$ 1 trilhão de capex nos próximos cinco, seis anos. Uma agenda muito forte de infraestrutura digital, com torres, fibra, data center, isso vai acontecer independente de quem for o governo, se o Congresso for A ou B, vai acontecer igual. Uma agenda de infraestrutura de mobilidade urbana, muitas das concessões rodoviárias feitas nos anos 1990 sendo renovadas, expansões de metrô, trens, portos e aeroportos. É uma agenda que continuará forte. E energia, que começa a olhar mais para infraestrutura de transmissão e geração. O setor de infraestrutura vai liderar a nova fase de crescimento nos próximos anos e muito do movimento que fizemos é em função dessa visão.
CRESCIMENTO RESILIENTE NO BRASIL E NO MUNDO
GUARDADO: 2026 ainda será um ano de crescimento saudável. Acabamos de revisar nossa projeção de crescimento de 1,6% para 1,8% [no Brasil]. O mundo ainda será resiliente, com um crescimento relativamente ok, com os Estados Unidos apresentando um comportamento melhor que o esperado após esse choque motivado pela política comercial do governo Trump. Outro ponto é que ainda será um mundo com depreciação do dólar, com efeitos positivos sobre o processo de desinflação aqui do Brasil. E haverá espaço para os bancos centrais continuarem cortando juros.
PAÍS CAMINHA PARA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
GUARDADO: A eleição presidencial ainda tem uma percepção meio binária do ponto de vista dos mercados. Porque o Brasil tem um desafio muito grande do lado fiscal. Se o Brasil fosse uma empresa, ele seria uma empresa extremamente alavancada, operando com prejuízo, com os bancos cobrando cada vez mais para emprestar. Não é difícil de ver que está no caminho da recuperação judicial. Não há nenhuma expectativa de que as questões fiscais, que exigem um acordo entre o Executivo e o Legislativo em torno de medidas impopulares, que vão demandar capital político, sejam endereçadas em 2026. Mas a partir de 2027 é um tópico que precisa ser endereçado.
SELIC E O POUSO SUAVE
GUARDADO: Revisamos a projeção de crescimento para cima apesar de manter inalterada a projeção para a taxa Selic, a mesma visão que temos desde o começo do ano. Achávamos que a Selic ia para 15%, o BC teria que ficar parado por um período bastante longo, até março do ano que vem. O mais interessante é que o BC trouxe o juros para 15%, ficou em 15% durante um bom período e o máximo que o BC vai conseguir gerar é um pouso suave. Um crescimento de 1,8% é próximo do crescimento potencial da economia. Ninguém está falando de recessão, apesar desses juros muito altos. A economia tem mostrado uma resiliência além do esperado. O BC só terá possibilidade de iniciar um ciclo crível de corte de juros a partir de março. E é mais fácil falar com algum grau de confiança sobre quando esse ciclo começa, do que quando termina. Nossa projeção é de que a Selic caia até 12% ao ano ao final de 2026. Mas tenho menos confiança nesse cenário.
A GRANDE APOSTA
MOSCA: Os fundos de infraestrutura são uma grande aposta para o ano que vem, com o benefício fiscal para a pessoa física e para os investidores institucionais. Continua um foco muito grande no crédito privado, tivemos neste ano uma compressão muito forte dos spreads no primeiro semestre. De certa forma antecipou isso, saindo de risco corporativo para risco bancário e encurtamos o duration da carteira no primeiro semestre. No segundo semestre, voltamos a observar um aumento do spread do crédito privado, o que nos fez voltar às compras. É dessa forma que vamos entrar o próximo ano.
FUNDOS ESTRANGEIROS, OUTRA APOSTA
MOSCA: com exterior, vem acontecendo uma coisa bastante interessante, diferente do que vinha acontecendo até então, com o brasileiro abrindo conta no exterior, as pessoas físicas. O que fizemos neste ano foi incluir nossos fundos nas ofertas das plataformas brasileiras no exterior, pegar esse recurso que vai para fora. Foi um movimento forte nosso e que vamos continuar no ano que vem, colocando fundos de ações, renda fixa, europeus, americanos, asiáticos, para que estejam na oferta dessas plataformas, a principal forma do brasileiro pessoa física de investir no exterior. Nos fundos de pensão, estamos participando de sete processos de fundos de pensão para o exterior. A maioria dos fundos está revisitando suas políticas de investimentos para o ano que vem e estão ampliando o espaço para investimento no exterior, colocando de 10% a 15% dos recursos no exterior.
ETFs EM FOCO
GREGÓRIO: Neste ano vimos um crescimento expressivo no número de ETFs. Sabemos que ainda é um tipo de fundo pequeno perto da indústria, que sempre foi focada em fundos de renda fixa, mas dentro do seu universo cresceu bastante. Só aqui na casa lançamos oito e até o fim do ano vamos lançar mais seis, com os mesmos clientes de sempre, mas vemos novas assets buscando entender como estruturar e fazer ETFs. Temos a inteligência de apoiar nossos clientes na jornada deles, apoiando nas conversas complexas sobre infraestrutura. O mercado de ETFs é muito relevante no momento em que estamos vivendo, com a mudança regulatória que traz mais transparência nos fees de distribuição de fundos. Vemos mais casas buscando ETFs, para ter uma grade mais completa.