No início deste mês, a Tenda captou R$ 234,4 milhões em seu follow on, com a ação precificada a R$ 12,50 na oferta. O valor veio abaixo da projeção inicial de R$ 14,92, mas trouxe um novo fôlego para a incorporadora que vem tentando virar a chave após um período mais turbulento nos últimos dois anos.
O mercado ainda aguarda os desdobramentos dessa jornada, que inclui ainda outras perspectivas mais favoráveis, como as recentes reformulações do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), o programa do governo federal.
Já há sinais, no entanto, de um olhar mais otimista para a companhia. É o caso do Itaú BBA. Apesar de ainda apontar a Direcional como uma das suas preferências nesse espaço, o banco já tem uma visão mais construtiva para o papel da Tenda.
Depois de se reunir com Luiz Mauricio de Garcia, CFO da empresa, o Itaú BBA publicou relatório nesta quinta-feira definindo um preço-alvo de R$ 17 para a ação em 2024 (upside de pouco mais de 25% sobre o preço atual em tela), contra a faixa anterior de R$ 9, para 2023.
“A recuperação da empresa está no caminho certo. As recentes revisões no programa Minha Casa, Minha Vida estão apoiando a melhoria da margem bruta e esperamos que o botton line retorne a um território positivo em 2024”, escreve o time de analistas comandado por Daniel Gasparete.
A última linha do balanço é, de fato, um dos pontos de atenção na operação. A Tenda registrou prejuízos consecutivos nos últimos sete trimestres. Entre abril e junho deste ano, porém, a companhia reduziu sua perda em 90,8%, para R$ 10,5 milhões.
A perspectiva mais favorável sob a ótica do Itaú BBA também encontra justificativa em pontos discutidos na conversa com o CFO da Tenda. O executivo falou sobre o forte impulso da operação, com os lançamentos e vendas em julho e agosto superando o ritmo registrado no segundo trimestre.
Os analistas ressaltam, no entanto, que a incorporadora decidiu tirar o pé do acelerador em setembro e, ao mesmo tempo, elevar os preços. O plano é aproveitar as melhores condições no quarto trimestre, com a expectativa da entrada em vigor de questões como o FGTS Consignado.
Garcia também observou que a Tenda está confortável com a capacidade de executar seu pipeline de lançamentos. Nesse ano, ele vê espaço para um volume combinado de 20 mil unidades nas divisões Tenda e Alea, essa última, mais recente, é focada em casas pré-fabricadas de wood-frame.
Nessa equação, o Valor Geral de Vendas (VGV) em 2023, levando-se em conta um preço médio de R$ 200 mil por unidade, seria de aproximadamente R$ 4 bilhões. Já para 2024, a perspectiva é alcançar a marca de 21 mil unidades.
Em outra questão, o CFO afirmou que o Pode Entrar, programa de habitação para a baixa renda da prefeitura de São Paulo, está atrasado e não vem avançando conforme o esperado. Caso a iniciativa não vingue, a expectativa é de que os projetos da Tenda possam ser incluídos no Minha Casa Minha Vida.
No programa do governo federal, Garcia reconheceu que a concorrência está aumentando, especialmente com a entrada de players que, habitualmente, não exploram esse perfil de empreendimentos, como a You,Inc., entre outros nomes.
Ele ressaltou, porém, que essa movimentação não deve trazer grandes riscos para a empresa, dado que muitas desses “rivais” estão sinalizando a entrada nas faixas 2 e 3, as mais altas em termos de renda do programa. Enquanto a Tenda se concentra mais na faixa 1 da iniciativa.
As ações da Tenda estavam sendo negociadas com queda de 0,59% por volta de R$ 12h40 na B3, com cotação de R$ 13,56. No acumulado do ano, os papéis da companhia, que está avaliada em R$ 1,66 bilhão, registram alta de 221%.