O Banco Itaú confirmou nesta terça-feira, 6 de junho, por meio de fato relevante, que está negociando preliminarmente a venda de sua operação na Argentina para o Banco Macro, uma das maiores instituições do país vizinho.

“O Itaú Unibanco reitera que, até o presente momento, não assinou documento vinculante em relação a esta possível alienação e comunicará imediatamente ao mercado qualquer informação relevante sobre este fato", reforçou o banco ao NeoFeed, por meio de nota.

De acordo com o jornal La Nación, que revelou no dia anterior as negociações entre os dois bancos, a possível venda não chegou a surpreender o mercado.

A operação argentina é pequena para o banco brasileiro. Segundo a S&P Global Market Intelligence, apesar de o Banco Itaú ser o primeiro em toda a América Latina em ativos ao fim de 2022, com US$ 439 bilhões sob gestão, na Argentina a instituição não aparece entre os top 10.

Com apenas 58 agências no país, a maioria na Capital Federal e algumas na Grande Buenos Aires, o Itaú vem investindo no desenvolvimento do banco digital nos últimos anos.

O timing da possível operação de venda, num ano eleitoral e de alta volatilidade no país vizinho, no entanto, reforça a percepção do mercado financeiro local de que a incorporação da subsidiária do Itaú pelo Banco Macro pode ser a primeira de várias vendas de instituições financeiras de capital internacional presentes na Argentina.

A inflação ultrapassou em maio a barreira dos 100%, o maior índice em 32 anos. Numa mostra do agravamento  da crise econômica, o Banco Central argentino (BCRA) lançou recentemente uma nota de 2.000 pesos, o câmbio está descontrolado e o país está com reservas internacionais em dólares negativas, o que dificulta a operação de instituições estrangeiras.

Atrativos do Itaú na Argentina

O Itaú alavancou sua operação na Argentina em 1998, quando adquiriu o Banco del Buen Ayre, pela qual desembolsou cerca de US$ 225 milhões, segundo registros da época. Agora, estima o mercado, o Banco Macro poderia pagar cerca de US$ 100 milhões para ficar com 100% da subsidiária local do banco brasileiro, cifra que expõe a deterioração dos ativos argentinos ao longo do tempo.

Segundo dados de janeiro passado, os últimos disponíveis do Banco Central (BCRA), o Itaú tem ativos na Argentina de US$ 411,71 milhões (cerca de US$ 847 milhões em câmbio livre, dos quais quase 37% estavam aplicados em títulos públicos). Os empréstimos ao setor privado não financeiro totalizaram US$ 116,7 milhões (cerca de US$ 240 milhões pelo câmbio livre) ou o equivalente a 28,3% dos ativos totais.

Para o Banco Macro, a aquisição do Itaú no país interessa sobretudo por sua rede de clientes corporativos – a maior parte de empresas brasileiras que operam no país – e pessoas físicas.

Segundo dados do BCRA, em janeiro passado, 3.126 empresas utilizam o Itaú para pagar salários a 58.388 pessoas físicas. O banco também tinha 851.792 cartões de débito emitidos e 390.720 cartões de crédito. O Banco  Macro, por sua vez, tem um patrimônio equivalente a cerca de US$ 4,345 bilhões, na cotação livre.

De acordo com a Cepal, na Argentina existem cerca de US$ 100 bilhões investidos de fontes estrangeiras. Um trabalho recente do Banco Santander estimou que, desse total, apenas 6% dos investimentos vieram do Brasil.