A JBS acaba de dar um passo transformacional para a companhia e como disse ao NeoFeed, o CEO global, Gilberto Tomazoni, “deve multiplicar o valor da empresa”. Em fato relevante publicado na CVM a JBS anunciou o plano de fazer dupla listagem de suas ações nas bolsas de Nova York (NYSE) e a B3.

A empresa convocará uma assembleia de acionistas em 30 dias e depois aguardará a apreciação dos minoritários, o que deve levar outros 30 dias. Se tudo der certo e o plano for aprovado, a expectativa é estar negociando nas duas bolsas em dezembro deste ano.

Pela proposta, quem tem ação JBS na B3 vai receber BDR Nível II, o espelho da ação classe A listada em Nova York, e poderá se manter como acionista dessa forma. Caso não queira, poderá migrar para ações classe A. Se preferir, até dezembro de 2026, o acionista poderá converter até 55% das ações classe A em ações classe B, que têm um poder de voto dez vezes maior.

A companhia também vai propor, em assembleia, um pagamento adicional de dividendos condicionado à incorporação das ações pela JBS Participações. Serão distribuídos pouco mais de R$ 2,218 bilhões - R$ 1 para cada papel em circulação - para os acionistas. A família Batista continuará no controle da companhia.

O veículo usado para essa listagem será a JBS N.V, uma sociedade constituída de acordo com as leis da Holanda. De acordo com o comunicado, "quando concretizada, a operação não alterará em nenhum aspecto a atual estrutura operacional e de gestão da JBS S.A., de forma que ativos operacionais, colaboradores, fluxos financeiros e cadeias logísticas permanecerão onde e como se encontram atualmente."

Segundo o fato relevante, imediatamente após a efetivação da Dupla Listagem, as ações de classe B detidas pelos acionistas controladores corresponderão a aproximadamente 55% de sua participação no capital da JBS N.V. e 25,57% do seu capital total. As ações de classe A detidas pelos acionistas controladores corresponderão a aproximadamente 45% de sua participação no capital da JBS N.V. e 20,89% do seu capital total.

Na prática, esse movimento dá mais flexibilidade para a companhia financiar seu crescimento não só por dívida, mas também por meio de equity. “Isso tem um potencial enorme para a companhia fazer aquisições transformacionais. E obviamente, tem um destravamento de valor”, diz Tomazoni em entrevista ao NeoFeed.

Hoje, as ações da JBS, avaliada em R$ 38,24 bilhões na B3, são negociadas a múltiplos de 4,3 vezes o seu lucro. Seus pares internacionais são negociados a múltiplos muito maiores. A Pilgrim’s, com valor de mercado de US$ 5,32 bilhões na Nasdaq e da qual a JBS tem 82% das ações, é negociada a 11,47 vezes. “Podemos mais que dobrar de valor, simplesmente usando como base uma companhia nossa”, diz Tomazoni.

Se a comparação for com a Tyson Foods, avaliada em US$ 18,37 bilhões e negociada a múltiplos de mais de 12,9 vezes, o poder de valorização é muito maior. “Outra vantagem é a questão do custo de capital que vai cair, aumentando a competitividade da companhia”, explica Tomazoni. “Se comparar os nossos bonds com os da Tyson, temos um custo de capital entre 1% e 1,5% maior do que eles. Isso vai mudar.”

Tomazoni ainda ressalta a simplicidade da operação. “Não muda a estrutura da companhia e o legal do projeto é que todos os acionistas serão tratados de maneira igualitária”, afirma. “Estamos dando os mesmos direitos para o controlador como para qualquer acionista minoritário”, diz ele.

A dupla listagem, além de reforçar a governança da empresa, que passa a ser escrutinada por dois órgãos reguladores, CVM e SEC, também deve abrir uma avenida enorme para acessar o bolso de investidores globais. Se antes, a companhia só recebia investimento de fundos voltados a mercados emergentes, agora vai ter ligação direta com fundos que investem nos Estados Unidos.

A listagem nos EUA é mais do que óbvia para uma empresa que teve cerca de 75% de seu faturamento de R$ 375 bilhões, no ano passado, vindo de operações internacionais em mais de 24 países, principalmente nos Estados Unidos onde é dona de Pilgrim’s e Swift. Definitivamente, não faz sentido para a empresa ter seu custo de capital atrelado ao Brasil.

Até os bois que caminham pelos pastos do Brasil já sabiam que era uma questão de tempo. Afinal, não é novidade para ninguém que o grande sonho da JBS sempre foi listar suas ações nos Estados Unidos. A companhia acalenta esse desejo há mais de uma década e tanto seus controladores, a família Batista, como seus executivos já tinham verbalizado isso.

Neste ano, contudo, foi ganhando contornos reais. Principalmente depois que a companhia anunciou, em maio, ter protocolado a declaração de registro no Formulário F-4 na comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC).

Quando isso aconteceu, colocando a JBS em conformidade com as regras do mercado americano, analistas já suspeitavam do que viria pela frente. “Esse é um projeto estratégico que tínhamos há muito tempo. O mercado estava esperando e encontramos uma maneira simples e lógica de fazer”, diz Tomazoni.

Nos últimos anos, a empresa vinha se preparando e ajustando a estrutura de capital alongando a dívida e reduzindo os juros. “Nos últimos quatro anos, emitimos US$ 17 bilhões em bonds no mercado de capitais internacional”, diz Guilherme Cavalcanti, CFO global da JBS. Há cinco anos, o prazo médio da dívida era de três anos e meio. Agora é de 11 anos. O custo médio era de quase 7% em dólar e atualmente é de 4,8%.

Analistas de mercado também enxergam uma grande chance de a JBS partir para aquisições de grandes marcas de alimentos, a exemplo do que fez com Seara. Mais do que colecionar grifes no mundo da alimentação, traz mais valor agregado para a companhia e, consequentemente, múltiplos muito maiores.

As grandes empresas de alimentação negociadas em bolsas internacionais provam essa tese. Os papéis da Mondelez são negociados a múltiplos de 24,70 vezes seu lucro. As ações da Nestlé, por exemplo, a 30,9 vezes e as da Danone a 37,8 vezes. Com o movimento de dupla listagem, a JBS enxerga o caminho para acelerar a estratégia e, como diz Tomazoni, multiplicar seu valor de mercado.