Nos últimos anos, a tese de M&As ganhou tração na JSL, companhia de logística do grupo Simpar. Desde o segundo semestre de 2020, quando abriu capital na B3, a empresa engatou seis acordos, sendo o mais recente a compra da logtech Truckpad, em maio de 2022, por R$ 10 milhões.

Na manhã de sexta-feira, 3 de março, a companhia acrescentou mais um ativo a esse pacote e, de quebra, assinou o maior cheque, até aqui, dessa estratégia. A empresa anunciou a aquisição da IC Transportes, por meio da compra de 100% das quotas que a Unitum Participações detinha na operação.

Pelos termos do acordo, a JSL pagará R$ 587 milhões para concluir a compra da IC, que seguirá operando de forma independente, sob o comando de Ivan Luis Camargo, filho do fundador da empresa. Desse total, R$ 100 milhões serão retidos na data de hoje como garantia para eventuais indenizações.

O saldo remanescente da aquisição incluirá o pagamento de R$ 60 milhões na data de fechamento do acordo, além de R$ 179 milhões em quatro parcelas anuais de cerca de R$ 45 milhões. Todas essas parcelas serão corrigidas por 90% do CDI.

“A IC é também a maior aquisição que fizemos em termos de faturamento da operação”, afirma Guilherme Sampaio, CFO da JSL, ao NeoFeed. “Mas quando você pega os múltiplos, o acordo está na média dos outros seis acordos.”

Em 2022, a IC apurou uma receita líquida de R$ 1,4 bilhão, um salto de 51% sobre 2021. Com o acordo, a JSL adiciona R$ 1,7 bilhão de receita bruta, o que totalizaria um faturamento pro-forma da operação combinada de R$ 8,8 bilhões em 2022. Sampaio cita outros pontos favoráveis no acordo.

Além de estar em linha com a estratégia de diversificação da JSL, Sampaio observa que fatores como a complementaridade geográfica entre as duas operações, a entrada em novos segmentos e o reforço da presença em setores que o grupo já atuava contribuíram para o acordo.

“Fertilizantes e combustíveis são dois setores que a transação adiciona para ajudar na nossa diversificação”, afirma o executivo. “E, ao mesmo tempo, a aquisição amplia a nossa operação em químicos e gases, além de ampliar nossa densidade de rotas no Brasil e na América do Sul.”

Fundada em 1982, em Sumaré (SP), a IC atua no transporte rodoviário de granéis sólidos, líquidos e gasosos, e cargas de alta complexidade. Com 1,7 mil funcionários, a empresa tem uma frota própria de mais de 2,4 mil ativos, com idade média de 4,2 anos e avaliada em cerca de R$ 650 milhões.

A companhia é dona de uma carteira de mais de 370 clientes, distribuídos em 15 estados brasileiros e na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. A transação vai abrir caminho para que a JSL amplie sua presença em empresas que já estão em sua base, como Raízen, Exxon Mobil, Cargill, Mosaic e Braskem.

“Dos dez maiores clientes da IC, sete não são atendidos pela JSL”, destaca Sampaio. “Então, temos um potencial absurdo de cross-selling e de crescermos juntos nos clientes que as duas empresas têm em comum.”

Guilherme Sampaio, CFO da JSL

Para reforçar esse ponto, o CFO ressalta que, em 2022, das vendas de R$ 6 bilhões em novos contratos, 93% vieram dessa abordagem de vendas cruzadas entre as empresas que compõem a operação. Em outro dado, as companhias adquiridas registraram um crescimento de 35% no período.

As menções às aquisições anteriores não se esgotam nessa estratégia comercial. Com a IC, a JSL vai repetir o modelo de integração adotado nos demais acordos, ao manter a empresa independente e, ao mesmo tempo, traçar o planejamento estratégico a quatro mãos, apoiar com recursos, monitorar e cobrar resultados.

"Nós não integramos o back office, mas damos escala para que essas companhias se beneficiem em áreas como compras e finanças", explica. “A empresa segue rodando como ela é. Do contrário, ela perde seu DNA.”

No caso específico da IC, ele destaca a taxa de crescimento anual composta de 28% da empresa entre 2019 e 2022. E acrescenta que os benefícios que a companhia terá ao ser plugada no grupo, em frentes como escala de compras e expansão de frotas, tende a turbinar ainda mais esse indicador.

Com as sinergias já mapeadas e baseado no histórico das outras aquisições, o CFO afirma que a JSL identificou um potencial de reduzir custos equivalentes a 2% da receita bruta da IC Transportes, no prazo de um ano.

Em paralelo, o executivo observa que o grupo segue com apetite para novas aquisições, dentro do seu plano de consolidação do mercado de logística. Ele destaca, porém, que o cenário macroeconômico atual traz alguns componentes novos para essa equação.

“É um momento muito mais pressionado do que estava há um ano, especialmente em termos de valuation, que está mais estressado”, conta Sampaio. “As negociações estão mais duras, tanto que tivemos um intervalo maior para anunciar essa aquisição.”

À parte desse contexto, o grupo enxerga novas oportunidades, por exemplo, nos próprios mercados em que a IC atua, como transporte de fertilizantes e combustíveis. Além de segmentos como farmacêutico e eletroeletrônicos.

Ao que tudo indica, recursos não serão um problema para seguir nessa trilha. Segundo o CFO, todas as aquisições foram e estão sendo pagas com a própria geração de caixa. Como complemento, ele cita a forma como o grupo estruturou o pagamento do acordo com a IC Transportes.

“A aquisição não pressiona a nossa estrutura de capital, nossa alavancagem segue flat, em 3,2 vezes”, afirma. “O próprio crescimento da companhia vai gerar caixa suficiente para o pagamento e a IC tem um potencial enorme, que vai se beneficiar da escala da JSL.”

As ações da JSL encerraram o pregão de hoje cotadas a R$ 6,89, alta de 4,55%. Em 2023, os papéis da empresa acumulam uma valorização de 25,2. A companhia está avaliada em R$ 1,96 bilhão.

* Essa reportagem foi atualizada às 18h20 com a entrevista com Guilherme Sampaio, CFO da JSL, e os dados de encerramento da ação no pregão desta sexta-feira na B3