Com o conceito de one-stop-shop em mente, a brasileira LG lugar de gente construiu nos últimos anos uma plataforma de software na nuvem com 36 módulos que cobrem diversos processos das áreas de recursos humanos – do recrutamento, treinamento e folha de pagamento à gestão de cargos, salários e benefícios.

Havia, porém, uma lacuna nessa prateleira. Esse espaço está sendo preenchido agora por meio de uma parceria com a Deel, HR Tech americana avaliada em US$ 12 bilhões e especializada em gerenciar folhas de pagamentos de empresas com funcionários alocados em outros países.

Ao estender essa fronteira e fechar um gap em seu portfólio, a LG quer se fortalecer na concorrência pela retenção e a captação de grandes clientes na sua carteira. Em particular, na briga com uma gigante alemã que, hoje, é o grande nome entre as plataformas globais de softwares para RH.

“O meu maior competidor no enterprise chama-se SAP, que tem escala global”, diz Felipe Azevedo, CEO da LG, ao NeoFeed. “A Deel traz para a nossa mesa competitividade para atender clientes também em outros países e disputar de igual para igual com esses caras.”

A nova parceira vem com a chancela de outros números. Fundada em 2018, a Deel já captou US$ 679 milhões em nove rodadas, junto a fundos como Andreessen Horowitz e Y Combinator, além de Dara Khosrowshahi, CEO da Uber. E tem uma carteira que supera os 20 mil clientes, em mais de 150 países.

Criada em 1985, a LG, por sua vez, é controlada pela gestora americana H.I.G. Capital e tem ainda como sócia a brasileira HIX Capital. Com um faturamento próximo de R$ 300 milhões em 2023, a empresa atende mais de 2 mil clientes, que somam um universo de cerca de 2,3 milhões de funcionários.

Apesar do viés global, o foco da união dessas forças é o mercado local. Até então, a LG indicava empresas como Accenture e Deloitte para suprir a ausência de uma oferta em seu portfólio. E chegou a perder ou desistir de concorrências por não ter um módulo para atender outros países.

Agora, com a parceria e sob uma ótica de plug and play, a ferramenta da Deel será incorporada como um módulo na plataforma da LG. Com isso, além da gestão de funcionários no exterior, os clientes passaram a ter uma visão única de todo esse mapa e, também, no detalhe de cada operação.

Azevedo estima que entre 20% e 25% dos clientes da base da LG contam com profissionais em outros países. E enxerga um potencial de adicionar, no mínimo, 500 mil vidas apenas dentro dessa carteira.

“Nos últimos dois anos, cerca de 30 empresas, da base e potenciais clientes, nos procuraram demandando esse módulo”, afirma Azevedo. “Agora, voltamos a bater na porta de todas essas companhias e já temos cinco propostas na mesa, que envolvem 100 mil vidas.”

Baseada em divisão de receitas, a parceria não se resumirá à integração dos módulos. As duas empresas irão juntas ao mercado, em uma estratégia que irá percorrer tanto as bases de clientes da LG e da Deel, como a participação em novas concorrências. E Azevedo não descarta outra opção no médio prazo.

Felipe Azevedo, CEO da LG lugar de gente

“Esse não é um plano para 2024, mas a parceria abre a possibilidade de pensar se não podemos vender os módulos da LG em outros países”, diz o CEO. “Não é algo que esteja combinado com a Deel, mas pode ser um passo no futuro.”

Antes de pensar nessa alternativa, porém, a LG vai se concentrar na competição no mercado brasileiro pelas contas dos departamentos de RH. E essa disputa não se esgota na SAP. Entre os players locais, além da Senior, o grande nome é a Totvs, que, a partir de aquisições, vem avançando na área.

Na última delas, em dezembro de 2023, a Totvs comprou a catarinense Ahgora, pela qual pagou R$ 380 milhões. Para se ter dimensão da aposta da empresa na área, esse foi o maior valor aplicado pela empresa em M&As no ano passado e, sozinho, superou a soma dos quatro acordos restantes.

Com três aquisições nos últimos 18 meses, a LG também reserva espaço e recursos para essa veia inorgânica. O crivo passa por empresas baseadas em cloud e software como serviço, que não queimem caixa e que tenham uma receita de pelo menos R$ 30 milhões, com um Ebitda mínimo, R$ 10 milhões.

A tese se apoia tanto em acordos que tragam carteiras de clientes e expansão de margem, como em M&As que incorporem novos módulos no escopo de RH complementares ao core da LG. Entre outras áreas, estão no radar ferramentas de benefícios, despesas corporativas e de inteligência artificial.

“Temos balanço e caixa para financiar boa parte dessas aquisições”, explica Azevedo. “Mas, dependendo do tamanho do acordo, temos linhas de crédito aprovadas em diversos bancos e nossos fundos também estariam dispostos a aportar recursos se preciso.”