O clima não favoreceu as Lojas Renner no terceiro trimestre. Se as temperaturas do outono impulsionaram as vendas no segundo trimestre deste ano, elas acabaram prejudicando o desempenho entre julho e setembro.
Por outro lado, os ajustes feitos nos últimos anos na operação e na Realize, seu braço financeiro, permitiram à varejista continuar avançando em margens e rentabilidade, com o lucro subindo na comparação anual.
A Renner encerrou o terceiro trimestre com lucro líquido de R$ 279,4 milhões, alta de 9,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado superou a média das projeções dos analistas consultados pela Bloomberg, que apontava para R$ 265 milhões.
A receita operacional líquida foi de R$ 3,5 bilhões, crescimento de 5,1%, um pouco abaixo da média das estimativas (R$ 3,6 bilhões). O Ebitda total somou R$ 586 milhões, alta de 3%, mas inferior aos R$ 630 milhões projetados. O Roic subiu 1,7 ponto percentual, para 14,4%.
Ao NeoFeed, o CEO da Renner, Fabio Faccio, explicou que a companhia optou por não fazer novos pedidos de produtos para outono e inverno, por se tratar de um ciclo curto, com possibilidade de alta nas temperaturas.
No entanto, o frio se estendeu além do esperado, impactando as vendas. As vendas de varejo cresceram 4,2% no trimestre, enquanto as vendas em mesmas lojas — unidades com pelo menos 12 meses de operação — subiram 3,1%.
“Essa extensão do frio, aliada à decisão de não produzir mais para evitar sobras de estoque, acabou afetando as vendas”, afirma Faccio. “Calculamos que poderiam ter sido de 2 a 3 pontos percentuais maiores.”
Essa situação também levou a um crescimento pontual das despesas, que subiram 7,1%, para R$ 1,2 bilhão. Além das vendas, houve impacto de mudanças em benefícios para colaboradores, item não recorrente.
Apesar disso, Faccio destaca que o desempenho anual é positivo. Somando o segundo e o terceiro trimestres, as vendas cresceram 11,5%, levando o acumulado de nove meses a uma alta de 11,6%.
“Entendemos que é uma situação normalizada, já era esperada uma leve desaceleração no trimestre”, afirma o CEO. “Ainda é um cenário positivo no ano.”
Mesmo com vendas mais fracas, a margem bruta de vestuário evoluiu, atingindo 56,2%, alta de 0,5 ponto percentual. O avanço é atribuído à maior flexibilidade operacional e a um modelo de abastecimento mais preciso, que evita estoques antigos.
A Realize ajudou a compensar parte do impacto do varejo na margem Ebitda, que ficou em 19,3%, queda de 0,2 ponto percentual na base anual.
Segundo Daniel Santos, CFO da Renner, a empresa colhe os frutos da reestruturação da unidade financeira iniciada no ano passado, com melhorias nos motores de concessão de crédito e na gestão da carteira.
A carteira total cresceu 11,5%, para R$ 6,4 bilhões. A participação da carteira vencida aumentou 6,7 pontos percentuais, devido à Resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que alterou os prazos para reconhecimento de juros em atraso e baixa de ativos vencidos. Excluindo esse efeito, a carteira vencida caiu 1,4 ponto percentual.
“Vemos uma evolução nos produtos financeiros, com o resultado subindo de R$ 58 milhões para quase R$ 80 milhões, o que ajudou na composição do Ebitda total”, diz o CFO. “E a carteira está com perfil de risco adequado, condizente com o momento atual, de maior rigor na concessão de crédito.”
Olhando para frente, além da expectativa de retomada das vendas no fim do ano, a Renner pretende investir no crescimento. Após um ciclo intenso de investimentos em infraestrutura entre 2021 e 2023, o foco do capex será a abertura e reforma de lojas, além da melhoria da jornada digital, exigindo menor volume de recursos.
Para este ano, a Renner prevê inaugurar entre 30 e 37 unidades de todas as marcas do grupo (Renner, Youcom e Camicado). Já foram abertas 18 lojas, e novas inaugurações estão previstas entre novembro e dezembro. A expectativa é manter ou ampliar esse ritmo nos próximos anos.
“Em termos percentuais, será um investimento menor que no ciclo anterior, mas muito mais voltado para crescimento”, diz Faccio.
As ações da Renner fecharam o pregão com queda de 5,17%, a R$ 14,66. No ano, os papéis acumulam alta de 22,17%, com valor de mercado de R$ 15,5 bilhões.