Num ano marcado pela piora das condições para o mercado bancário, com direito a juros em alta e a volta do temor com a inadimplência, o Banco BS2 expandiu seu lucro pelo terceiro ano consecutivo, consolidando a decisão de focar as operações no universo das pessoas jurídicas.
O banco da família Pentagna Guimarães fechou 2024 com um lucro líquido de R$ 101 milhões, um aumento de 18% em relação a 2023, com o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) subindo de 12% para 13%, segundo o balanço divulgado na quinta-feira, 27 de março.
A receita cresceu 9%, para R$ 985 milhões, com a carteira de crédito ampliada avançando 30%, atingindo quase R$ 4 bilhões, e os ativos totais alcançando R$ 10,5 bilhões, alta de 45%.
Diante dos resultados obtidos ao longo desses três anos desde que decidiu pivotar suas operações, o BS2 inaugura uma nova etapa, em que a palavra de ordem é ganho de escala, de olho em crescer de 35% a 40% o bottom line ainda em 2025 e manter o ritmo de expansão da carteira de crédito visto em 2024.
“O ano passado foi um ano em que consolidamos a nossa oferta e podemos dizer que a construção foi fundamentalmente finalizada”, diz Marcos Magalhães, CEO do BS2, ao NeoFeed. “Agora, entramos numa fase de crescimento.”
Neste plano de expansão, o crédito para pequenas e médias empresas (PMEs) deve ganhar destaque. O BS2 fortaleceu sua atuação entre as companhias com faturamento de até R$ 10 milhões no ano passado, depois de ter concentrado os primeiros anos do turnaround no chamado middle market, cujo faturamento ultrapassa R$ 50 milhões por ano.
Com investimentos em uma plataforma de autosserviço, que contempla jornadas simples em temas como contratação de crédito, abertura de contas, pagamentos e remessas, o banco viu a carteira gerada nesse nicho atingir R$ 588 milhões no ano, aumento de 285% em base anual. O BS2 fechou o ano de 2024 com 54 mil clientes ativos nesta faixa, alta de 22%. O total de clientes do banco alcançou 122 mil, aumento de 3%.
A expectativa é de que as PMEs ajudem a puxar o crescimento do crédito nos próximos anos, complementando os resultados das grandes empresas atendidas pelo banco, que neste ano ganharam um reforço com o lançamento da área de debt capital markets (DCM).
O banco vê a possibilidade de abocanhar um pedaço do segmento PME, atualmente concentrado nos grandes bancos. “É um mercado enorme, com um revenue pool da ordem de R$ 120 bilhões, e nós temos uma fração muito pequena dele”, diz Magalhães.
Para isso, o BS2 está apostando em parcerias estratégicas com empresas que contam com clientes desse porte em suas bases. Um exemplo foi o acordo firmado com a Housi para a constituição de uma fintech de crédito para pequenas e médias incorporadoras, anunciado no começo do mês. O banco poder ter acesso a mais de 600 empresas com quem a proptech fruto do spin-off da Vitacon tem relacionamento.
Para Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva da parte de corporate development e de relações com investidores do BS2, esses acordos permitem ao banco oferecer jornadas financeiras para o público PJ desses parceiros, além de ser um canal de aquisição para a instituição.
“Eles dão ao parceiro novas fontes de receitas, de serviços financeiros, e juntos conseguimos penetrar em ecossistemas não bancários mais maduros”, diz ela.
As parcerias também devem alavancar a frente de banking as a service. O banco completou a unificação dos serviços tecnológicos com os serviços bancários, integrando a Adiq, operação de adquirência que foi cindida e fazia parte da holding controladora do banco, a BHF.
A expectativa é de obter receitas tanto pelo lado da oferta dessa infraestrutura, quanto dos produtos bancários. “Quando você provê um determinado serviço na modalidade infratech é natural acontecer cross selling de crédito. Prover serviços de processamento de adquirência nos propicia a possibilidade de fazer operações de crédito, com antecipação de serviço de cartão”, diz Magalhães.
Crédito e inadimplência
Apesar das PMEs representarem um risco maior em momentos de turbulência econômica, o BS2 entende estar protegido por ter desenvolvido know-how na modelagem de crédito, que fez com que a inadimplência em relação à carteira caísse 85%, ficando em 0,4%.
Davi Ponciano, CFO do BS2, destaca ainda que o banco também está priorizando linhas de crédito governamentais, caso do Pronamp e do PEAC-FGI, programa de garantia do BNDES que oferece crédito a microempreendedores individuais (MEIs) e micro, pequenas e médias empresas, por serem linhas mais seguras. “Essas linhas têm nos ajudado a escalar num cenário que promete ser mais difícil para o mercado”, diz.
Na frente de serviços, o BS2 apresentou resultados positivos nas frentes de seguros e de câmbio. O primeiro, que tem dois anos de existência, teve um crescimento de mais de 150% em prêmios emitidos em 2024, para R$ 76 milhões. Em câmbio, o banco fechou o ano com volume de R$ 54 bilhões em remessas internacionais, 33% superior a 2023.
Segundo Pentagna Guimarães, o banco não tem planos de agregar novos serviços à sua prateleira, vendo a oferta atual como suficiente para cumprir com o objetivo de responder por 50% da receita no longo prazo – no ano passado, esse segmento foi responsável por cerca de 45% do faturamento, com o crédito ficando com o restante. “A ideia é aprofundar o segmento, estimulando o cross sell e up sell”, diz.
Magalhães afirma que toda essa estratégia está calcada num patrimônio robusto, que vem crescendo organicamente. No ano passado, o BS2 fechou com patrimônio líquido de R$ 895 milhões, aumento de 26%. O índice de Basileia atingiu 15,1%.