O aumento dos preços das commodities alimentícias foi uma entre as diversas consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia. Os dois países figuram entre os principais produtores de trigo do mundo e o conflito resultou em uma quebra significativa na oferta do principal ingrediente para a produção de farinha.
Essa situação, combinada com medidas protecionistas adotadas por Índia e Indonésia para limitar a exportação de açúcar e óleo de palma (nosso famoso azeite de dendê), em meio ao cenário de escalada de inflação, criaram uma questão aos produtores de alimentos: repassar ou não repassar o aumento dos custos.
Na M. Dias Branco, esse dilema shakespeariano passa longe da liderança da empresa e recebe a mesma resposta há anos: todo e qualquer aumento de custos é repassado. Mas para o Santander, mesmo com essa convicção, a companhia, maior produtora de massas e biscoitos do País, não escapará de ver suas margens sofrendo na segunda metade do ano.
No relatório obtido com exclusividade pelo NeoFeed, o analista Rodrigo Almeida admite que a empresa criou uma capacidade de repassar custos e deve salvar suas margens no segundo trimestre, por ter marcas conhecidas e uma política de estoques e hedge apropriada.
Mas ele ressalta que a situação global é tão delicada que a política de repasse de inflação não será suficiente para evitar que as vendas e as margens sejam afetadas.
Nesse cenário, o analista revisou para baixo a projeção para a margem Ebitda ajustada de 2022, de 8% para 7,6%. A revisão foi pior para a expectativa para 2023 (de 10,7% para 9,1%) e de 2024 (12,8% para 10,4%).
“Embora acreditamos que a companhia possui um robusto poder de precificação para mitigar o aumento de custos de produção, vemos que a situação macroeconômica permanece incerta e os preços das matérias primas devem permanecer voláteis, o que nos impede de permanecermos otimistas com as ações”, diz trecho do relatório.
Diante das circunstâncias, o analista do Santander manteve a recomendação dos papéis em venda. O preço-alvo foi levemente ajustado para cima, de R$ 22,50 para R$ 23,00, para refletir um valuation um pouco mais elevado.
As ações da M. Dias Branco fecharam o pregão desta quinta-feira, dia 26, com alta de 1,27%, a R$ 25,61. No ano, elas acumulam queda de 9,5%, levando o valor de mercado da companhia a R$ 8,6 bilhões.