Depois de o governo federal divulgar, na segunda-feira, 5 de junho, os detalhes do programa para baratear os custos de automóveis no Brasil, analistas e investidores começaram a calcular e ver quais empresas ligadas ao setor automotivo com capital aberto na Bolsa podem se aproveitar das medidas.

Para a equipe de research do Santander, a Vamos e a Marcopolo devem se beneficiar da iniciativa anunciada semanas antes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por outro lado, as locadoras de veículos devem sofrer um impacto negativo com efeitos colaterais da medida, ainda que modestamente.

As expectativas estão baseadas no fato de a equipe econômica ter reformulado o programa, conforme apresentado na Medida Provisória (MP) publicada na terça-feira, dia 6 de junho. O texto criou incentivos para a renovação da frota de ônibus e caminhões com mais de 20 anos.

O programa custará R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos, financiado via créditos tributários às montadoras, pelo prazo de quatro meses. Do montante total, cerca de R$ 700 milhões serão destinados a caminhões, outros R$ 300 milhões para ônibus e R$ 500 milhões para veículos leves.

O desconto para ônibus e caminhões vai variar de acordo com o tamanho do veículo. Micro-ônibus e caminhões pequenos receberão desconto de R$ 36,6 mil. Os ônibus de tamanho normal e grandes caminhões terão redução de R$ 99,4 mil.

Para os analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem, esse incentivo para renovação de frotas permitirá à Vamos se desfazer de caminhões antigos e à Marcopolo aumentar suas vendas de ônibus novos.

“Vemos o programa de renovação de caminhões como positivo para a Vamos ao potencialmente elevar as vendas no mercado de caminhões usados, impulsionando as vendas de caminhões usados da empresa”, diz trecho do relatório. “Avaliamos a notícia como positiva para a Marcopolo visto que o programa de renovação tem um tamanho relevante.”

Como ficam as locadoras?

No caso das locadoras de veículos, como Localiza, Unidas e Movida, o programa deve pressionar os preços dos seminovos no curto prazo, segundo os analistas do Santander. Essa é uma parte relevante nos resultados dessas companhias. O plano do governo federal prevê que o desconto mínimo para carros leves será de 1,6% e o máximo será de 11,6%.

“Essas companhias podem compensar parcialmente esse efeito com compras de carros mais baratos se o governo estender os benefícios a compradores corporativos, algo que, nos primeiros 15 dias, não está previsto”, diz trecho do relatório.

O programa do governo federal estabeleceu que, nas primeiras duas semanas desde a publicação da MP, as vendas com desconto serão exclusivas a pessoas físicas. O prazo pode ser estendido por até 60 dias, caso a demanda seja maior.

Após esse prazo, as empresas que comprarem carros também poderão se beneficiar do programa. Mas será preciso ver se os recursos durarão até lá. No anúncio do programa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que ele poderá acabar mais cedo caso a demanda seja mais alta que o previsto e o R$ 1,5 bilhão reservado para custear o programa se esgote antes do prazo.

Por volta das 16h10, as ações da Vamos subiam 5,86%, a R$ 14,28, acumulando alta de 13,1% no ano, com valor de mercado de R$ 13,7 bilhões.

As ações da Marcopolo operam com alta de 0,52%, a R$ 3,87. No ano, elas registram alta de 66,8%, levando o valor de mercado a R$ 4,2 bilhões.