O mercado financeiro reagiu com otimismo ao anúncio feito pela companhia Guararapes, dona da Riachuelo, da venda, por R$ 1,61 bilhão, do Midway Mall, shopping center em Natal, no Rio Grande do Norte, a um grupo de investidores liderado pela Capitânia Capital.
Por volta de 14h de quinta-feira, 18 de dezembro, as ações da Guararapes registravam valorização de 7,1% na B3. No ano, os papéis da companhia acumulam alta de 94%. A empresa está avaliada em R$ 5,5 bilhões.
Em fato relevante, a dona da Riachuelo informou que, do total do negócio, R$ 805 milhões foram pagos à vista e o saldo remanescente, que seria pago em quatro parcelas anuais, será liquidado no dia 29 de dezembro, a partir de uma operação de antecipação de parcelas futuras contratada junto ao BTG Pactual.
Analistas consideraram a negociação como positiva para a companhia. Consideramos este anúncio, amplamente aguardado, positivo para a Guararapes, especialmente por evidenciar o quão descontados estão os negócios principais da companhia — os segmentos de varejo e financeiro — aos preços atuais”, diz relatório do Santander.
No documento assinado por Eric Huang, Lucas Esteves e Vitor Fuziharo, o banco afirma que o negócio ficou em linha com as expectativas do mercado com a perspectiva da venda. Mas, também diz que, na composição do Ebitda da Guararapes, o shopping representa apenas cerca de 5% do indicador consolidado.
“Ao excluir o shopping tanto do valor de mercado da companhia (assumindo a avaliação de R$ 1,61 bilhão para o ativo) quanto do lucro líquido de 2026 (assumindo uma alíquota de imposto de 34% para o shopping), chegamos a um múltiplo de 6,6 vezes preço/lucro (P/L) como expectativa para o próximo ano, o que representa um desconto de aproximadamente 20% em relação aos seus principais pares”, afirmam os especialistas.
Ainda segundo o Santander, a companhia segue como outperform [acima de seus pares]. “Acreditamos que esse anúncio deve contribuir ainda mais para a percepção dos acionistas sobre os esforços da administração em otimizar a alocação de capital, como parte do processo contínuo de transformação da companhia.”
Com avaliação semelhante, o Itaú enxerga que a negociação para a venda do shopping potiguar foi, inclusive, em condições acima do esperado. “Embora a venda já fosse esperada (e, portanto, parcialmente precificada), acreditamos que os termos econômicos foram melhores do que o antecipado, o que deve gerar uma reação positiva do mercado”, diz o banco.
“Atualmente, a Guararapes negocia a 8,6 vezes P/L como estimativa para 2026 e estimamos que, após a transação, os investidores receberão um dividend yield de 28% e a ação passará a negociar a 10,5 vezes P/L no próximo ano”, diz relatório da equipe de analistas do segmento de consumo do Itaú, liderado por Rodrigo Gastim.
Na visão do banco, a iniciativa reforça a tese apresentada pela companhia de alocação disciplinada de capital e de ações internas para amplificar o lucro por ação da empresa, a partir de melhora na eficiência operacional do grupo.
“No Investor Day, a administração destacou alavancas internas para impulsionar produtividade por metro quadrado, eficiência, expansão de margens e crescimento disciplinado, citando explicitamente a monetização de ativos imobiliários não estratégicos como parte do roadmap”, diz o Itaú.
“Em nossa visão, essa transação reforça que a gestão vem executando essa estratégia e deve continuar entregando retornos crescentes. Reiteramos nossa recomendação outperform”, completa.
Além do comunicado da venda do Midway Mall, a Guararapes também informou ao mercado a aprovação, por parte do conselho de administração, de uma distribuição total de R$ 1,48 bilhão aos acionistas, dos quais R$ 1,075 bilhão destinados a dividendos. Segundo a empresa, o montante será pago no dia 30 de dezembro, com data-base de 22 de dezembro.
Além dos dividendos, a Guararapes também aprovou o pagamento de R$ 413 milhões de juros sobre capital próprio, planejado para ser pago no dia 5 de janeiro, também com data-base de 22 de dezembro.
“O destino dos recursos da venda, sob a forma de dividendos e juros sobre capital próprio, também deve ser bem recebido pelo mercado, representando um retorno de 29% aos acionistas aos preços atuais”, avalia o Santander.
A Guararapes registrou aumento de 63% no lucro líquido do terceiro trimestre, comparado com a mesma base do ano anterior, com R$ 74 milhões. A receita líquida de vestuário no período alcançou R$ 1,5 bilhão, alta de 7,6% em relação ao terceiro trimestre de 2024.