Quase um ano após mudar o nome de sua companhia de Facebook para Meta, Mark Zuckerberg ainda precisa convencer o mercado de que faz sentido para a sua companhia apostar no metaverso e em novas tecnologias. E é melhor que faça isso antes que perca ainda mais a confiança dos investidores.

Essa pelo menos é a tônica da carta aberta escrita nesta segunda-feira, 24 de outubro, por Brad Gerstner, CEO da Altimeter Capital. No documento, Gerstner comenta os planos da empresa comandada por Zuckeberg e recomenda uma série de ações para que o negócio recupere seu apelo perante os investidores.

A maior crítica está relacionada a falta de cautela com o negócio. Para Gerstner, a aposta está elevada demais e é preciso manter os pés no chão até que os investimentos compensem. Por isso, ele recomenda um corte de 20% nos custos com funcionários – o que poderia significar demissão em massa na gigante de Menlo Park, que aumentou sua base de funcionários em 32% no último ano para 83,5 mil empregados.

Gerstner também recomendou que a empresa adote um limite de até US$ 5 bilhões por ano para os investimentos nesta nova tecnologia. Caso faça isso, a empresa diminuiria pela metade o montante dedicado para o desenvolvimento de hardwares e softwares de realidade virtual.

As sugestões evidenciam a desconfiança em relação às ambições de Zuckerberg com o metaverso. Assim como grande parte do mercado de tecnologia, a Meta é uma das empresas que vem sofrendo na bolsa de valores. As ações despencaram 61% desde o começo do ano, reduzindo o valor de mercado do negócio para US$ 348 bilhões.

“A Meta precisa reconstruir a confiança com investidores, funcionários e a comunidade de tecnologia para atrair, inspirar e reter as melhores pessoas do mundo”, escreveu Gerstner na carta. "Em suma, precisa ficar em forma e manter-se focada.”

A Altimeter Capital está neste grupo de investidores. Ao final do segundo trimestre, a gestora de venture capital detinha cerca de 2,5 milhões de ações da Meta – o equivalente a quase US$ 320 milhões na cotação atual. A gestora tem cerca de US$ 18 bilhões em ativos sob gestão.

O recado vem poucos dias após a companhia anunciar o lançamento do Quest Pro, seu novo headset de realidade virtual. O aparelho chega ao mercado ainda neste mês custando US$ 1,5 mil, mais do que o triplo do modelo básico Quest 2, lançado em setembro de 2020.

Tal qual o dispositivo antigo, ainda há uma certa dúvida sobre a real utilidade dos acessórios, uma vez que os ambientes de metaverso ainda estão sendo construídos – com o próprio Horizon Worlds, desenvolvido dentro da operação da Meta e que tem cerca de 200 mil usuários mensais.

Para efeito de comparação, o Instagram já ultrapassou a marca de 2 bilhões de usuários ativos por mês, enquanto o Facebook se aproxima dos 3 bilhões de usuários que acessam a plataforma ao menos uma vez por mês, conforme dados da empresa canadense de gestão de mídia Hootsuite.

“As pessoas ainda estão confusas sobre o que o metaverso significa”, escreveu Gerstner. “Se a empresa estivesse investindo US$ 1 bilhão ou US$ 2 bilhões, essa confusão nem mesmo seria um problema.”

Este ponto de interrogação sobre o futuro da tecnologia não seria um problema, não fosse o valor que está sendo investido como um tiro no escuro. “Um investimento de mais de US$ 100 bilhões em um futuro incerto é assustador até para o padrão do Vale do Silício”, analisou Gerstner.

Ainda que Zuckeberg pareça empenhado com seu plano, o empreendedor parece atento às críticas. Em julho, a Meta anunciou que iria reduzir o número de contratações de engenheiros de 10 mil para 7 mil ou 6 mil em 2022. A companhia também alertou que o momento atual poderia ser uma das "piores crises" na história recente.