Em 2023, o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF, na sigla em inglês), tornou-se o mais ativo do mundo após investir US$ 31,6 bilhões em diversas iniciativas no período. Agora, oito meses depois, o cenário está se desenhando de maneira distinta e, ao que tudo indica, a era do dinheiro fácil chegou ao fim.
Após anos de muita fartura, o fundo soberano parece estar direcionando seu foco para compromissos internos, de acordo com o jornal britânico Financial Times. Para isso, os gestores, empresários e banqueiros que costumavam contar com o apoio do PIF estão sendo deixados de lado e recebendo novas condições para continuar atuando por lá.
Segundo eles, agora é necessário contratar funcionários locais para a operação e usar parte dos recursos para investir em empresas e projetos nacionais. Além disso, muitas empresas estão sendo notificadas de que, para receber novos incentivos, é necessário acontecer um reinvestimento no reino. “O incentivo está terminando e as pessoas estão percebendo isso”, afirmou um banqueiro de Dubai ao FT.
Para os especialistas, é possível sentir a diferença de tratamento de forma nítida, o que também faz com que as empresas percam o interesse pela região. “O interesse dos clientes reduziu substancialmente, em parte porque estamos fazendo uma triagem mais cuidadosa, e também porque não houve grande sucesso com esses esforços,” disse um banqueiro baseado em Dubai. “As pessoas percebem que não se trata apenas de aparecer e esperar um cheque.”
Em comunicado ao FT, o PIF disse que possui um “processo de investimento robusto”, que o permite “escolher parceiros e consultores que são mais adequados para cada mandato que buscamos”. “Os investimentos realizados passam por um processo de múltiplos comitês e são focados em seus setores-chave, de acordo com o mandato e a estratégia do fundo.”
Apesar desse movimento, a BlackRock conseguiu garantir US$ 5 bilhões do PIF para ancorar uma nova firma de investimentos em Riyadh, anunciada em abril deste ano. Mas a gestora tem como seu principal foco o desenvolvimento dos mercados de capitais por lá.
A trajetória do PIF
O novo momento do fundo soberano contrasta fortemente com os seus planos do passado recente. Em menos de dez anos, o PIF passou de uma empresa estatal com cerca de US$ 150 bilhões em ativos sob gestão para o fundo mais ativo e ambicioso do mundo.
A reestruturação foi impulsionada pelo príncipe Mohammed bin Salman, que assumiu a presidência do PIF em 2015, com a intenção de criar planos de trilhões de dólares de Riyadh para diversificar a economia e projetar o reino para o mundo inteiro.
Nesse período, o PIF impactou uma série de negócios gigantes, incluindo o investimento de US$ 45 bilhões no Vision Fund do SoftBank em 2016 e US$ 20 bilhões em um fundo de infraestrutura da Blackstone pouco tempo depois. De lá para cá, o fundo aportou em diversos setores como mineração, ativos esportivos e até cruzeiros.
“Nos últimos oito anos, a Arábia Saudita se apresentou ao resto do mundo com uma mão aberta de dinheiro. Agora, o punho está se fechando e voltando para o país,” disse um especialista de investimentos de Londres. “Isso faz parte da estratégia de amadurecimento. Eles não poderiam continuar assim para sempre.”