Passando pelo quinto plano de turnaround desde a conclusão da fusão da Sadia com a Perdigão em 2013, a BRF deve realizar mais um follow on, que pode alcançar R$ 5,3 bilhões, pouco mais de um ano após captar R$ 5,4 bilhões no mercado com operação semelhante.

O caminho para a operação ficou livre depois que os acionistas aprovaram na segunda-feira, 3 de julho, aumentar o capital da companhia em 500 milhões de ações e um waiver para a cláusula de poison pill. O último ponto era essencial para a Marfrig, uma vez que o frigorífico, junto com o fundo saudita Salic, pretende ancorar o follow on, que pode levar sua participação para além dos 33,3% que, de acordo com o estatuto da BRF, obriga qualquer um a realizar uma OPA por todas as ações da BRF.

Para além de fortalecer a posição da Marfrig como acionista de referência da BRF – o frigorífico e o Salic teriam uma fatia combinada de 54% no capital social –, o follow on deve ajudar a BRF num momento em que, mesmo com as expectativas de queda da taxa Selic, os juros permanecem num patamar que prejudicam o balanço da companhia, além de outras companhias.

A injeção de recursos trará um alívio significativo nas despesas financeiras, segundo os analistas do Santander. “Estimamos uma economia de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões nas despesas financeiras, com o menor fardo financeiro permitindo à administração focar mais na reestruturação das operações do que administrar os passivos financeiros”, diz trecho de relatório assinado pelos analistas Rodrigo Almeida e Laura Hirata.

No primeiro trimestre, a BRF viu as despesas financeiras subirem 29,3% no primeiro trimestre, frente ao registrado no mesmo período de 2022, para R$ 1 bilhão. Entre os fatores responsáveis pela alta estão o aumento das despesas de juros, devido ao maior CDI no período, comparado com o mesmo intervalo de 2022.

O endividamento líquido da BRF totalizou R$ 15,3 bilhões no primeiro trimestre, aumento de 5% quando comparado ao quarto trimestre. A alavancagem financeira, medida pela razão entre o endividamento líquido e o Ebitda ajustado, atingiu 3,35 vezes nos primeiros três meses do ano, abaixo dos 3,55 vezes apurados no quarto trimestre.

“A relação entre a dívida líquida e o Ebitda pode atingir 3,0 vezes em 2024 [após o follow on], versus nossas estimativas de 3,8 vezes, e a geração de fluxo de caixa livre pode ser positiva em cerca de R$ 270 milhões, versus nossa estimativa de consumo de em torno de R$ 90 milhões em 2024”, diz trecho do relatório do Santander.

Um alívio na frente financeira virá bem a calhar no momento em que o Brasil registra diagnósticos de gripe aviária. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontam que, desde o começo do ano, foram confirmados 57 casos da doença, a maior parte em aves silvestres.

“O risco atual relacionado à gripe aviária nos impede de estar mais otimistas com a BRF, dados os efeitos negativos que um surto mais amplo pode ter na indústria, mesmo considerando a perspectiva mais benigna para custos no segundo semestre”, diz trecho do relatório. A situação faz com que o Santander mantenha a recomendação para as ações da BRF em neutro, com preço-alvo de R$ 9.

Por volta das 12h12, as ações da BRF subiam 0,90%, a R$ 8,99. No ano, elas acumulam alta de 8,6%, levando o valor de mercado a R$ 9,8 bilhões.