A Apple acabou se vendo arrastada para a disputa geopolítica travada entre Estados Unidos e China. E isto pode ter um custo, até o momento, de quase US$ 200 bilhões em valor de mercado para a companhia.
As ações da empresa registram forte queda pelo segundo pregão consecutivo nesta quinta-feira, dia 7 de setembro, depois das notícias de que o governo chinês está expandindo a restrição ao uso de iPhones para integrantes de agências governamentais e estatais.
Por volta das 15h45, as ações da Apple recuavam 3,26%, a US$ 176,94. Ontem, elas encerraram com queda de 3,58%, a US$ 182,91. No ano, os papéis acumulam alta de 36,5%, levando o valor de mercado a US$ 2,7 trilhões.
Segundo apurou o jornal The Wall Street Journal, oficiais chineses expandiram a ordem para que funcionários de órgãos e empresas ligadas ao setor público não utilizem iPhones, ou telefones de outras marcas estrangeiras, para trabalhar, nem os tragam ao trabalho.
A diretiva é o mais recente passo da campanha movida por Pequim para cortar a dependência de tecnologia estrangeira e fortalecer sua segurança cibernética, em meio à disputa nem tão velada com Washington para saber quem será a superpotência econômica e política global deste século.
O medo é até onde essa disputa pode ir e quais as consequências para as empresas globais, especialmente para a Apple. A China é um dos maiores mercados para os produtos da companhia criada por Steve Jobs fora dos Estados Unidos, respondendo por cerca de 19% da receita total. O país também é onde boa parte dos produtos da empresa são fabricados.
No terceiro trimestre do ano fiscal de 2023, encerrado em 1º de julho, a receita vinda com a venda de produtos no gigante asiático totalizou US$ 15,7 bilhões, alta de 8% em base anual.
As restrições impostas pela China espelham o que os Estados Unidos vem praticando com a Huawei e o TikTok, cujo uso vem sendo restrito a oficiais do governo, com ambos argumentando para os riscos de vazamento de dados sensíveis e espionagem.
Os Estados Unidos vêm tomando uma série de medidas para evitar o crescimento da China no campo tecnológico. As principais movimentações foram para restringir o acesso de companhias chinesas a microprocessadores avançados.
Depois de impor restrições à exportação de semicondutores e equipamentos para a fabricação de chips em outubro, o presidente Joe Biden assinou, em 10 de agosto, uma ordem banindo investimentos americanos na China em três áreas: semicondutores e microeletrônicos, computação quântica e certos sistemas de inteligência artificial.
Os investidores da Apple também demonstram preocupação com a saúde da economia da China. Desde que relaxou as medidas que adotou para combater a proliferação da Covid-19, no início do ano, o país vem apresentando dados econômicos fracos.
Em julho, a China registrou a maior queda de suas exportações e importações desde o início da pandemia, em fevereiro de 2020. No mesmo período, ela registrou deflação pela primeira vez em dois anos. A segunda maior economia do mundo também tem lidado com elevados índices de endividamento e problemas em seu mercado imobiliário, um dos principais motores da economia.
A situação fez com que muitos economistas reduzissem as previsões para o crescimento em 2023, avaliando que dificilmente o país atingirá a meta de expandir cerca de 5%. Em discurso durante o encontro de cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Jacarta, Indonésia, na quarta-feira, o primeiro-ministro da China, Li Qiang, disse que o país vai crescer conforme projetado.