A chinesa Huawei sofreu um novo revés na guerra comercial entre Washington e Pequim sobre a tecnologia 5G. Agora o baque veio da Alemanha.

Na quarta-feira, 8 de março, o governo do chanceler Olaf Scholz deve proibir a presença da gigante das telecomunicações nas redes móveis de alta performance do país, segundo a Reuters. A medida incluiria também a ZTE, sediada na cidade Shenzhen.

A Alemanha está reavaliando seus fornecedores de telecomunicações e, nesse processo, segundo relatório do Ministério do Interior sobre o assunto, um fabricante específico pode ser proibido de fornecer componentes, se direta ou indiretamente for controlado pelo governo de outro país. A Huawei e a ZTE não foram citadas expressamente, mas, como diz o ditado, para bom entendedor meia palavra basta.

Com a revisão, as operadoras alemãs podem ser obrigadas a remover os componentes já embutidos em suas redes. Se for essa mesmo a decisão, a substituição pode levar até dez anos. “Depois de anos de hesitação, o 5G alemão é profundamente dependente dos fornecedores chineses”, diz Noah Barkin, da empresa Rhodium Group, especializada nas relações entre China e Alemanha.

Para o analista, este é um sinal inequívoco de que o governo alemão pode estar “finalmente levando a sério os riscos impostos pela China à segurança nacional da Alemanha”. Classificando a medida como “precipitada”, um porta-voz da embaixada chinesa em Berlim disse que Pequim está “confusa e fortemente insatisfeita”.

“Nos últimos anos, países e forças anti-China vêm tentando difamar a Huawei com acusações forjadas, mas nunca houve nenhuma evidência de que os equipamentos e componentes da empresa representem uma ameaça à segurança”, completou.

Em entrevista à plataforma CNBC, um representante da gigante chinesa afirmou que a companhia chinesa tem um histórico de segurança de 20 anos. “A Huawei acredita que deve haver uma discussão objetiva e factual sobre como mitigar os riscos no ciberespaço”, defendeu.

A disputa entre Estados Unidos e China pela supremacia tecnológica foi acirrada em 2019, quando o então presidente Donald Trump, por meio de decreto, vetou as empresas americanas de usar equipamentos de telecomunicações desenvolvidos por empresas que ameaçassem a segurança nacional. No mesmo ano, ele incluiu a Huawei e a ZET no rol de proibições comerciais dos Estados Unidos, conhecido como Entity List.

O 5G é tido como tecnologia-chave não apenas para a construção da próxima geração de infraestrutura, como a dos carros autônomos, mas também apresenta potencial de aplicações militares.

As restrições americanas foram mantidas mesmo com a posse do democrata Joe Biden. Para Washington, a China poderia usar os equipamentos chineses instalados nas redes de telecomunicações de outros países para espionagem.

Embora a Huawei seja privada, uma lei de 2017, permite ao governo chinês exigir dados das companhias chinesas, caso essas informações sejam classificadas como importantes para a soberania da China. Até hoje, não houve sinais de que isso tenha ocorrido.

Mesmo assim, os países do grupo conhecido como “Five Eyes”, com os quais os Estados Unidos mantêm relações de cooperação em inteligência seguiram o movimento americano. São eles Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido. O governo britânico deu até 2027 para que as operadoras troquem os dispositivos chineses de sua infraestrutura.

Outras nações seguiram as recomendações emitidas pela Casa Branca, como França, Japão, Suécia e Polônia, e não adotaram a tecnologia desenvolvida pelas fabricantes chinesas. Aliás, a sueca Ericsson é a principal concorrente da Huawei no Ocidente.

Desde então, a maior economia da Europa tentou ficar fora do fogo cruzado entre Estados Unidos e China. Em 2019, o governo alemão assegurou que não seguiria as orientações americanas. No ano passado, por exemplo, o chanceler Scholz chegou a visitar o presidente Xi Jinping. Mas a pressão americana sobre a Alemanha se intensificou nos últimos meses.

“Sob o comando de Angela Merkel, a Alemanha sempre minimizou os riscos decorrentes do estreito relacionamento econômico do país com a China”, avaliou Barkin. “Isso ficou evidente no debate do 5G, em que anos de hesitação política permitiram a participação cada vez maior da Huawei no mercado alemão.”

Na avaliação do especialista, sob a administração de Scholz, a Alemanha está desenvolvendo um novo tipo de relação comercial com a China, focado na redução da dependência e reforçando a resiliência econômica.

A Huawei já sentiu o baque das sanções. No ano passado, a empresa até registrou aumento de 75,9% em seus lucros líquidos, em comparação a 2020, movimentando quase US$ 18 bilhões. Por outro lado, a receita líquida caiu 28,6%, no mesmo período, caindo para US$ 99,8 bilhões.