Em junho de 2022, a Indigo fundiu seus negócios no Brasil com a PareBem, rede de estacionamentos do Pátria Investimentos. Um mês depois, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu o sinal verde para a operação, na qual o grupo francês passou a deter uma fatia de 55%.
A partir do acordo, a rede se consolidou como a segunda maior do País e ganhou tração para desafiar a líder Estapar. Hoje, entre arenas, parques, shoppings, aeroportos e hospitais, seu mapa envolve a gestão de 370 operações, com 300 mil vagas, em cerca de 100 cidades.
Em paralelo a essa disputa, a Indigo começa a abrir mais espaço para que seus estacionamentos incorporem outros serviços que não apenas as vagas reservadas para carros. E, como parte desse percurso, vai “tropicalizar” modelos que já oferece no exterior.
“Nosso plano é sair do modelo tradicional para nos tornarmos um hub de conexão e mobilidade”, diz Thiago Piovesan, CEO do grupo Indigo no Brasil, ao NeoFeed. “No Brasil, precisamos dar mais intensidade e interconectividade a essas iniciativas no nosso portfólio.”
Parte desse esforço teve início em setembro, na sequência do aval para a fusão com a PareBem. A Indigo criou uma área dedicada a smart cities, que abrange qualquer serviço acessório ao negócio tradicional e que tenha um viés de mobilidade inteligente.
Um segundo passo está sendo dado agora com a versão local da Indigo Neo, plataforma que reúne, em um único aplicativo, funcionalidades digitais lançadas na pandemia. Essa largada inclui, por exemplo, o pagamento dos tíquetes e a busca pelo estacionamento mais próximo.
Outros recursos serão adicionados a partir do segundo semestre. A começar pela possibilidade de reservar vagas em qualquer operação da rede. Com o tempo, o objetivo é evoluir para o conceito de marketplace, com serviços de parceiros e da própria rede.
“Estamos estudando a vocação, o que já temos e o que não temos em cada ativo”, diz Piovesan. “Mas o conceito é que a pessoa possa reservar uma vaga, programar uma lavagem de carro, usar um carregador elétrico, pegar uma bicicleta ou outro serviço que faça sentido na sua jornada.”
Nessa trilha, a Indigo já se prepara para importar alguns de seus serviços, a partir do segundo semestre. O primeiro na fila são estações de bikes, o que pode envolver desde a locação em ativos como parques até projetos para o deslocamento de funcionários nas estruturas de um único cliente corporativo.
Na França, essa modalidade já é ofertada sob a bandeira Indigo Weel, com bicicletas, bikes elétricas e patinetes. Um dos clientes que adotaram essa solução foi a Airbus.
Outro formato prestes a entrar em testes no Brasil são os estacionamentos para bicicletas. Batizado lá fora de Cyclopark, nesse modelo, além da vaga para a bike, a Indigo oferece desde serviços de reparo até armários e vestiários com chuveiros para o usuário, dependendo da instalação.
“Nos dois casos, estamos estudando como e por onde começar a experimentar”, explica Piovesan. “A ideia e aprender, numa primeira etapa, o que funciona no Brasil para depois fazer uma rodada mais intensa de expansão, já com esses serviços customizados para o País.”
Do self storage à última milha
O portfólio local já conta com outras alternativas, que começam a ganhar escala. É o caso das áreas reservadas nos estacionamentos para o armazenamento de mercadorias, móveis e afins, em lockers de 5 a 30 metros quadrados, locados para empresas.
Após algumas iniciativas de menor porte, o grupo prepara um primeiro projeto de mais fôlego. Fruto de uma parceria com a Organix, essa estrutura de self storage está em fase de implementação e será instalada no Indigo Center, edifício garagem localizado em Porto Alegre.
Os projetos de última milha, com a instalação de mini-centros de distribuição locados por empresas de logística é mais uma opção nesse pacote. Assim como a oferta de carregadores para veículos elétricos, a partir de parcerias com companhias como GreenV e Tupinambá.
Nessa última frente, as operações da Indigo já têm cerca de 200 carregadores e a projeção é superar 500 até 2025. Todos esses exemplos são viabilizados por parcerias. O modelo de remuneração varia em cada projeto e pode envolver desde uma taxa pelo uso do espaço até o compartilhamento de receitas.
“É claro que há um viés de rentabilizar o ativo mas, nesse momento, o maior racional não é financeiro, é é ampliar a experiência”, diz. “Nossa meta é dobrar de tamanho nos próximos três anos e boa parte desse crescimento ainda virá do nosso negócio tradicional.”
A Indigo prevê evoluir de um faturamento de R$ 1,1 bilhão, em 2022, para R$ 1,3 bilhão neste ano. Essa conta inclui projetos adicionados recentemente, como o Zoológico, o Jardim Botânico e o Parque Villa-Lobos, em São Paulo, e o Parque do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR).
A carteira tem ainda empreendimentos como Aeroporto Internacional de Guarulhos, Neoquímica Arena, Parque Ibirapuera, Riocentro e segmentos como saúde, com clientes como Hospital Albert Einstein, Sírio-Libanês e Dasa.
Dona de uma receita líquida de R$ 1,1 bilhão em 2022 e avaliada em R$ 831 milhões, a Estapar é a maior rival da Indigo, tanto no mercado tradicional de estacionamentos como na aposta em novas áreas e utilizações atreladas a esses ativos.
De olho nessas duas vias, a empresa também tem investido em M&As. Esse foi o caso da compra, no fim de 2021, da Zul, autotech com a qual a companhia acelerou e encorpou seu portfólio digital.