Dos 28 anos de carreira no currículo de Juliano Ohta, 17 foram dedicados à Saint-Gobain. No grupo, ele acumulou passagens à frente de diversos negócios, tanto na matriz francesa como no Brasil. Na última delas, comandou por quatro anos a operação local da Telhanorte, varejista de materiais de construção.

Disposto a buscar novos ares, o executivo deixou o grupo em maio de 2022. Agora, passados exatos três anos da sua saída, período que incluiu uma experiência como CEO da Aldo Solar, distribuidora de energia solar da Brookfield, ele está de volta ao varejo.

No começo de maio, Ohta assumiu o posto de CEO da Loungerie, rede de moda íntima feminina, em substituição a Eduardo Costa. E mesmo em um balcão bem diferente, ele enxerga um bom paralelo com o seu antigo CNPJ nesse novo desafio.

“Eu vim do mundo de reformas e fiz muitas transformações nas empresas em que passei, inclusive na Telhanorte”, diz Ohta, em entrevista ao NeoFeed. “E o que me foi colocado nesse novo mandato é justamente fazer uma reforma na Loungerie, com foco em crescimento com rentabilidade.”

Ele recorre a um mantra da Loungerie, a “busca pelo sutiã perfeito”, que resume o conceito de opções variadas de tamanhos para cada produto e um atendimento personalizado, para traçar outra associação entre as duas varejistas.

“São produtos totalmente diferentes, mas, em construção, também se busca os encaixes perfeitos, o que exige que a venda também seja extremamente assistida”, afirma. “Essa curadoria é uma marca registrada da Loungerie. Então, vamos manter o que temos de bom e revisar o que precisa ser revisado.”

Ohta já escolheu os pilares que irão guiar a reforma na nova casa, que é controlada pelo grupo Brasif, dono de negócios em segmentos como real estate, pecuária e biotecnologia. E boa parte desses esforços estará centrada nas lojas físicas da Loungerie, que mantém cerca de 120 unidades, sendo um terço próprias e dois terços franquias.

Essa última modalidade será prioritária dentro da meta de inaugurar aproximadamente 20 unidades em 2025. Assim como a aposta no formato batizado como Box, que inclui lojas menores, de 50 a 69 metros quadrados, e uma taxa inicial de franquia de R$ 35 mil.

Para efeito de comparação, o outro modelo, batizado de Full, envolve pontos de venda com 70 a 300 metros quadrados e uma taxa inicial de R$ 55 mil. Ao priorizar as lojas Box, instaladas em shoppings, a rede traça um atalho para chegar a cidades a partir de 100 mil habitantes.

Sob a pegada de rentabilidade, essa expansão também vai passar pelo foco em aberturas em regiões onde a Loungerie já está mais presente. Aqui, o racional é buscar mais eficiência na logística e na gestão das operações. Os planos não se restringem, porém, ao crescimento dessa base.

Essa lógica também inclui uma remodelação nas lojas em atividade, o que vai envolver principalmente mudanças nas vitrines. “Nós temos provavelmente o mix mais amplo do setor, mas muitas vezes a cliente não vê, porque isso não está claro nas lojas. Temos que melhorar essa exposição”, diz Ohta.

Ele cita, por exemplo, ofertas que já estão “dentro de casa”, como lingeries para o dia a dia, pijamas, cremes, modeladores e acessórios. Ao mesmo tempo, essa estratégia prevê a entrada em novas categorias, algo que ainda está em fase inicial de avaliação.

“Existem diversas áreas adjacentes, nós queremos expandir e muito do crescimento orgânico vai vir dessa frente, mas queremos ser certeiros”, diz o CEO. “Porque, do contrário, vamos só poluir as lojas e onerar o estoque. E sem satisfazer a nossa cliente.”

Em contrapartida, essa revisão também passará pela redução do sortimento em determinadas categorias. E pelo menor foco, ao menos nesse primeiro momento, em outras iniciativas mais recentes. como a Loveplay, marca de produtos eróticos lançada em 2024, e o marketplace The Lounge.

“O The Lounge é uma boa iniciativa, mas é muita energia para pouco retorno nesse momento. Eu quero mostrar primeiro o que temos dentro de casa para depois promover outros parceiros”, diz. “É, de novo, como uma reforma. Se você começa a fazer muita coisa, não faz o básico bem feito.”

Digital e logística

Isso não quer dizer que os canais digitais estão fora da lista de prioridades nessa primeira fase. Aqui, no entanto, os esforços estarão mais centrados em reforçar o relacionamento com as clientes, via WhatsApp, por exemplo, e a tese de um atendimento e uma comunicação mais personalizada.

Nesse sentido, a rede está integrando suas bases de dados para ter uma visão única do comportamento das clientes e aprimorar as informações que abastecem as vendedoras na ponta e são responsáveis por essa conexão.

Há também melhorias previstas em logística. Seja pelo próprio crescimento da rede de lojas, que funcionam como pontos avançados das entregas para o digital ou por meio da adoção de sistemas para trazer mais inteligência – inclusive artificial – e ter maior assertividade no mix ofertado em cada unidade.

Com todas essas iniciativas em curso, a Loungerie quer avançar em uma disputa que envolve um mercado ainda fragmentando e que inclui desde marcas como Hope, Intimissimi e Valisere, até grandes varejistas de moda, como C&A, Renner e Riachuelo.

De olho nesse front, a empresa não revela os números da sua operação. Os últimos dados públicos disponíveis apontam para um faturamento de R$ 350 milhões em 2022. Ohta observa, porém, que todos essas estratégias estão sendo financiadas com o próprio caixa da companhia.

“A Loungerie é uma empresa saudável, que nunca fez grandes movimentos arriscados e que tem muito potencial dentro de casa para melhorar”, diz ele. “E esse caixa vai vir muito de ter e vender o produto certo, pois economia tem um limite. Você pode cortar gordura, mas não o músculo.”