Prestes a estrear na Bolsa, a MBRF apresentou aos investidores, na segunda-feira à noite, 22 de setembro, os diretores que irão comandar a companhia resultante da incorporação da BRF pela Marfrig, uma plataforma multiproteínas com receita de aproximadamente R$ 160 bilhões e presença em 117 países.
Os conselhos de administração da BRF e da Marfrig aprovaram a indicação de Miguel Gularte para o cargo de diretor-presidente global da MBRF. Considerado braço direito de Marcos Molina, controlador e presidente do conselho da MBRF, Gularte era CEO da BRF desde agosto de 2022, após ter comandado a Marfrig por quatro anos.
O comitê executivo será composto por oito vice-presidências. O cargo de vice-presidente de finanças, relações com investidores, gestão e tecnologia será assumido por Jose Ignacio Scoseria Rey, então diretor de tesouraria da Marfrig.
Ficou definido ainda que Rui Mendonça Júnior deixará o cargo de diretor-presidente da Marfrig e passará a atuar como consultor das companhias. Já Tang David deixará o cargo de CFO e diretor de relações com investidores da Marfrig e será indicado para o conselho de administração.
“Mudanças na gestão já eram esperadas após a fusão, e acreditamos que a nova estrutura é sólida, com uma equipe altamente experiente”, diz trecho de comentário de analistas do Banco Safra.
A formação da MBRF concretiza o sonho que Molina colocou em prática em 2019, quando as duas empresas declararam estudar uma possível fusão. Menos de dois meses depois, porém, a intenção foi cancelada, diante de supostos desentendimentos sobre a estrutura acionária.
Desde então, Molina ampliou a participação da Marfrig na BRF, conseguindo emplacar conselheiros e executivos de sua confiança, como Gularte, com o mercado interpretando os movimentos como preparação para a fusão, anunciada em maio deste ano, quando o frigorífico detinha 50,5% da BRF.
A união, porém, não foi isenta de controvérsias, diante das críticas à relação de troca das ações, vista como muito mais benéfica para a Marfrig. A situação resultou em contestações e fez a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) adiar a realização da assembleia que analisaria a operação, em 18 de junho.
No fim, a incorporação foi aprovada no início de agosto, tendo sido concluída ontem. A operação estabeleceu a relação de troca de 0,8521 ações da Marfrig para cada ação da BRF.
A partir de hoje, as ações da Marfrig passam a ser negociadas na B3 sob o ticker MBRF3, mas a intenção é, futuramente, mudar o domicílio da MBRF para os Estados Unidos, com listagem no mercado americano.
A BRF já possuía ADRs listados na Bolsa de Nova York (NYSE), enquanto a National Beef, empresa ligada à Marfrig, tem ações negociadas nos Estados Unidos.
No anúncio da fusão, os executivos destacaram que a redomiciliação e a listagem podem atrair recursos de grandes fundos globais, resultando na valorização da empresa — argumentos semelhantes aos utilizados pela JBS ao decidir listar suas ações nos Estados Unidos.
As ações da Marfrig fecharam ontem com queda de 4,61%, a R$ 21,12, enquanto os papéis da BRF recuaram 5,38%, a R$ 17,95. No ano, os ativos acumulam alta de 23,1% e queda de 27,62%, respectivamente.