As aquisições foram o principal mote da Orizon desde o seu IPO, em fevereiro de 2021. Nesse intervalo, a empresa saiu de cinco para quinze aterros sanitários, mais que dobrando seu volume de resíduos sob gestão, para 10 milhões de toneladas. E saltou de uma avaliação de R$ 1,6 bilhão para R$ 3 bilhões.
Esse foco não se restringiu, porém, aos M&As. Em paralelo, a companhia desenvolveu outras aplicações para o lixo recebido em seus ativos. E, neste ano, separou essas linhas em unidades dedicadas, com vida própria e autonomia para definirem estratégias e buscarem recursos no mercado.
Nesses novos destinos, a Orizon enxerga um caminho para consolidar operações com potencial de serem, no mínimo, do mesmo tamanho que seu negócio de origem. Com destaque para duas delas, em particular: a produção de fertilizantes orgânicos, ou “verdes”, e de biometano.
“Na época do IPO, éramos, basicamente, uma operadora de aterros sanitários. Mas a valorização dos resíduos sempre foi um upside do negócio”, diz Milton Pilão, CEO da Orizon, ao NeoFeed. “Agora, nosso plano é criar a maior plataforma de renováveis do Brasil.”
A divisão de fertilizantes é a aposta mais “jovem” dentro dessa ambição. A unidade ainda costura um modelo para financiar seus investimentos e um acordo nessa direção deve ser divulgado em até 30 dias. Isso não significa que o projeto ainda está no papel.
Em 6 de junho, a Orizon anunciou um consórcio com a Tera Ambiental para explorar a produção de fertilizantes orgânicos a partir da compostagem do lodo recebido em seu ecoparque de Paulínia (SP). Cada empresa terá 50% na operação, que tem início de produção previsto para agosto.
O projeto terá capacidade de tratar 36 mil toneladas por ano de lodo e, no curto prazo, a previsão é dobrar esse volume. Com a compostagem, é possível transformar, em média, 50% do total de lodo em fertilizantes.
A largada é modesta, mas a perspectiva é de que esse mercado ganhe fôlego. Segundo Pilão, 99% do 1,5 milhão de tonelada anual de lodo gerado no Brasil são aterrados junto ao lixo. Com a onda de concessões de saneamento, a projeção é de que esse volume chegue a seis milhões toneladas em dois anos.
Essa conta não inclui o lodo proveniente de outras indústrias. Ao somar essa ponta, o mercado brasileiro tem o potencial de alcançar cerca de 12 milhões de toneladas ano, o que representaria 15% do volume total de 80 milhões de resíduos gerados anualmente no País.
“Quanto mais esgoto tratado, mais lodo é gerado. E, hoje, não há uma solução consolidada para tratar todo esse volume”, observa Pilão. “Esse é o momento de nos posicionarmos para surfar essa onda.”
Além de melhorar a vida útil dos seus ativos, dado que reduzirá o espaço para aterrar o lodo, a Orizon abre duas novas fontes de receita. A primeira, na captação do material de outras empresas. A segunda, na venda do fertilizante para o agronegócio. E, aqui, outro elemento fortalece a tese da companhia.
“A Guerra da Ucrânia trouxe à tona a discussão de diminuir a dependência que o País tem da importação de fertilizantes, atrelada ao câmbio e à inflação externa”, diz Pilão. “Com isso, vamos dar uma opção local para o agronegócio, além de uma alternativa renovável ao fertilizante fóssil.”
Desenvolver clientes no agronegócio é o principal desafio nessa empreitada. Sob essa ótica, o aspecto comercial é o principal racional da parceria com a Tera. “Há uma longa curva de aceitação que a Tera já venceu”, afirma. “Em contrapartida, hoje, eles têm uma demanda maior do que conseguem atender.”
A Orizon irá avaliar se a expansão para outros aterros envolverá parceiros. Mas já definiu os próximos pontos a serem adicionados a esse mapa. Em 2024, a empresa inicia operações em duas instalações da Sabesp, em Barueri e em São Paulo. E, a partir de 2025, começará a replicar o projeto em seus ativos.
Gás renovável
Produzido a partir da captação de biogás em seus aterros, o projeto do biometano está mais avançado. Essa iniciativa está reunida na BioE, criada em novembro de 2022, com o plano de investir R$ 1,2 bilhão nos próximos dois anos.
Metade dessa cifra está sendo aplicada nas duas primeiras e maiores unidades da divisão, nos aterros de Paulínia e de Jaboatão dos Guararapes (PE). Juntas, elas terão capacidade de produzir de 350 a 400 mil metros cúbicos por dia.
“Hoje, o Brasil tem um consumo de gás natural entre 80 e 100 milhões de metros cúbicos por dia, e uma oferta de apenas 750 mil metros cúbicos por dia de gás renovável”, diz Pilão. De olho em ampliar essa oferta, a BioE já nasce com um contrato de dez anos firmado com a Copergás para o fornecimento de gás natural, que será atendido a partir de Jaboatão dos Guararapes.
A Orizon prevê ter uma estrutura madura da BioE em todos os seus 15 aterros no prazo de três anos. Nesse estágio, a estimativa é ampliar sua capacidade para uma faixa entre 700 mil e 1 milhão de metros cúbicos por dia.
“A partir de janeiro de 2025, a projeção é de que só a BioE gere um Ebtida de R$ 600 milhões”, diz Pilão. Para efeito de comparação, a Orizon fechou 2022 com um Ebitda ajustado de R$ 312,5 milhões. “Isso dá um pouco da dimensão do potencial desses novos negócios.”
Ele ressalta ainda que essa equação não leva em conta a possibilidade de a Orizon adicionar novos ativos à sua base. Especialmente após o aumento de capital de R$ 348,2 milhões, no fim de 2022, e do follow on realizado em maio deste ano, quando levantou R$ 91,1 milhões. “Vamos seguir com essa estratégia de M&As e temos um pipeline de pelo menos três a cinco aterros”, diz Pilão.
O follow on foi um dos pontos ressaltados em relatório recente do BTG Pactual. Entre outros componentes, o banco destacou que as novas frentes, em especial a de biometano, têm capacidade de destravar mais valor e elevou o preço-alvo da ação de R$ 42 para R$ 48, com recomendação de compra.
As ações da Orizon fecharam o pregão da segunda-feira, 26 de julho, em queda de 1,32%, cotadas a R$ 36,54. Entretanto, no ano, os papéis acumulam uma valorização de 7,8%.