O segmento de consórcios vive um boom no Brasil. É o que mostram os dados do primeiro semestre de 2025. No período, esse mercado movimentou R$ 222,3 bilhões, o que, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio, representou uma alta de 30,5% e a melhor marca em vinte anos.
Dona de uma plataforma que combina concessionárias de automóveis e caminhões com serviços financeiros, a Rodobens já percorre a estrada dos consórcios há mais de seis décadas. E, com essa bagagem, está pegando carona e sendo “contemplada” nesse bom momento do setor.
“O negócio protagonista da Rodobens é o consórcio”, diz Flávio Lopes Ferraz, CEO da Rodobens, ao NeoFeed. “E esse segmento está atraindo um novo público. Estamos vivendo uma onda e ela tem que ser surfada agora que o produto realmente ficou muito conhecido.”
Nesta sexta-feira, 24 de outubro, ao divulgar sua prévia do terceiro trimestre, o grupo trouxe um pouco da dimensão dessa onda em seu balanço. Em agosto, por exemplo, a empresa bateu seu recorde histórico nesse espaço com a venda de R$ 1,2 bilhão em créditos de consórcio.
Os números consolidados do trimestre realçam esse desempenho. Os consórcios geraram R$ 2,5 bilhões em negócios, o que representou uma alta de 40,6% sobre igual período de 2024. Nesse intervalo, o volume total de negócios gerados pelo grupo cresceu 20%, para R$ 5,5 bilhões.
No acumulado do ano, por sua vez, a Rodobens chegou a um total de R$ 14,6 bilhões em negócios gerados, um crescimento de 12,3%. Dentro dessa conta, os consórcios registraram um salto de 23,9%, para R$ 6 bilhões, e se aproximaram do varejo automotivo, que avançou 4,5%, para R$ 6,6 bilhões.
Em outra linha relevante no balanço da empresa, as receitas futuras contratadas, que trazem mais visibilidade sobre a operação, o volume total cresceu 20,4%, para R$ 3,7 bilhões. Desse montante, os consórcios representam R$ 3,2 bilhões.
A participação é também expressiva na carteira de crédito, que alcançou a cifra de R$ 20,7 bilhões no trimestre, um desempenho 17,4% superior quando comparado a um ano antes. O consórcio somou R$ 17,7 bilhões, contra R$ 14,7 bilhões no mesmo intervalo de 2024.
Além desses números, que mostram como a Rodobens está capturando parte dessa “avalanche”, Fernando Calado, CFO do grupo, procura ressaltar um outro indicador, que, em sua visão, reforça um outro aspecto favorável para a companhia.
“Nós estamos com um índice de retenção em consórcios superior a 80%, o que é bastante elevado nessa indústria”, afirma Calado. “Você vê players crescendo muito rápido, mas quando sai da superfície e desce um degrau, como estão os índices de desistência dessas empresas? Elas estão sendo rentáveis?”
Nesse contexto, o executivo observa que, nos últimos anos, a Rodobens vinha crescendo menos que o mercado de consórcios e perdeu participação no segmento, em uma realidade que ele classifica como “dolorosa de encarar”. Mas o CFO ressalta que a empresa começou a virar o jogo em 2025.
“Sim, infelizmente, nós perdemos market share nesses últimos anos, mas a nossa venda continua sendo de extrema qualidade”, diz Calado. “E, nesse ano, estamos crescendo mais do que o mercado. E o consórcio tem um efeito multiplicador de potencializar outros negócios do grupo também.”
Tíquetes menores
Essa marcha tem sido puxada pelos consórcios de imóveis e caminhões, os carros-chefes da operação. Os automóveis vêm em terceiro lugar nesse ranking. Um dos planos em avaliação é avançar também em tíquetes menores, como operações com motos, cuja fatia nesse bolo ainda é incipiente.
“Esse é um segmento que sempre relutamos em dar uma participação maior”, diz Calado. Ele afirma, porém, que a categoria está agora no radar com a visão de que ela pode ser uma porta de entrada para um relacionamento mais longo desse cliente com os demais produtos da Rodobens.
Enquanto isso, o grupo começa a escalar outros produtos que foram testados recentemente. É o caso do Pra Já, modalidade em que o cliente já tem acesso ao veículo, via locação, no momento em que assina o contrato do consórcio. E adquire esse bem, de fato, nesse segundo formato, quando é contemplado.
“Estamos combinando consórcio e locação, algo que temos no nosso ecossistema e que dificilmente outros vão conseguir replicar”, diz Ferraz, o CEO do grupo. Depois de testar o projeto com caminhões, a ideia é começar a escalar o produto. Com a possibilidade de estendê-lo, no médio prazo, automóveis.
Com um pacote de 15 produtos a serem testados, apenas em consórcios, em avaliação, Ferraz conta que um dos projetos em estudo envolve o desenvolvimento de consórcio voltado a intercâmbios. O racional? Alcançar também os filhos dos clientes e as novas gerações de consumidores.
Faria Lima no roteiro
Em paralelo a essas iniciativas em estudo, a Rodobens já está alcançando outros públicos com seus consórcios. Muito em função ao que os executivos classificam como uma mudança de percepção que o mercado passou a ter do produto.
“O consórcio está chegando à Faria Lima”, diz Calado. “Ele não é mais um negócio só daquele cara do interior, que trocava de caminhão. Temos parcerias que estão dando esse sabor de investimento, muito além do financiamento, para o produto.”
Nessa direção, depois de fechar um acordo de distribuição com a XP, em 2024, há dois meses, a Rodobens ampliou esses laços ao costurar uma parceria, nos mesmos moldes, com o BTG Pactual.
Ao mesmo tempo, o grupo tem outras associações para ampliar essa capilaridade. E em diferentes formatos. De uma rede de 5 mil agentes comissionados, distribuídos em todo o país até uma joint venture com a BR Consórcios.
Esse pacote inclui ainda o formato white label, no qual a empresa cuida de toda a operação de consórcios de outras marcas. É o caso do Consórcio Mercedes-Benz. Hoje, considerando todos os modelos, são oito parceiros “dentro de casa”. E há outras 20 negociações em curso.