No último dia 16 de agosto, poucas horas depois de o governo do estado de São Paulo publicar um decreto estabelecendo novas regras para as Unidades Regionais de saneamento básico (URAEs), a prefeitura de São Paulo anunciou a adesão da cidade à URAE da Sabesp.

As duas assinaturas foram vistas como um avanço importante no processo de privatização da empresa, dado que a capital paulista responde por mais de 44% das receitas da companhia de água e esgoto. E, naquela data, impulsionaram a alta de 5,5% na cotação do papel no fechamento do pregão na B3.

Agora, quem está “endossando” essas perspectivas é o Itaú BBA. Em relatório divulgado nesta terça-feira, 5 de setembro, o banco elevou o preço-alvo da Sabesp, de R$ 74,90 para R$ 83,60, refletindo uma probabilidade de 50% e uma visão “mais construtiva” para a privatização da operação.

“Acreditamos que o decreto recente da URAE, com a adesão de São Paulo, foi um marco fundamental e melhora substancialmente as probabilidades de privatização”, observaram os analistas Marcelo Sá, Fillipe Andrade, Luiza Candiota, Matheus Botelho Marques e Victor Cunha, que miram um preço-alvo de R$ 95,40 para o papel caso a privatização seja concretizada.

Para o time do banco, que mantém a recomendação outperform para o papel, o modelo de URAE simplifica as negociações com os municípios e, ao mesmo tempo, traz termos de governança mais favoráveis, em função do peso que o estado e a capital terão nas decisões da unidade relativa à Sabesp.

Além desses avanços, a visão mais favorável do Itaú BBA encontra fundamentos na escolha do governo de São Paulo, anunciada no fim de julho, por diluir sua fatia na empresa por meio de um follow on com a participação de investidores de referência.

“A alternativa escolhida é positiva dada a possibilidade de atrair operadores de alta qualidade no setor e grandes fundos de private equity. Além disso, o governo apresentou um novo plano de investimentos para a Sabesp que anteciparia a universalização dos serviços de 2033 para 2029”, destaca o relatório.

Embora ressaltem que o “timing” para a conclusão da fase um da privatização, prevista para janeiro de 2024, seja o maior desafio, os analistas entendem que o governador Tarcísio de Freitas já tem apoio político suficiente para avançar nessa direção.

Os analistas ressaltam que as ações da Sabesp estão sendo negociadas em um patamar atrativo e que isso não leva em conta os ganhos de uma potencial privatização da empresa. Ao mesmo tempo, eles pontuam que a revisão do preço-alvo não está restrita à expectativa de evolução desse processo.

O banco também está incorporando elementos como os últimos resultados trimestrais e as novas premissas macroeconômicas a essa conta. Assim como a expectativa de melhora no balanço, a partir das iniciativas em curso na empresa para reduzir suas ineficiências.

“A empresa já registrou uma melhora em seus resultados trimestrais, principalmente na frente de receitas, e esperamos que essa tendência positiva siga com números melhores em custos a partir do terceiro trimestre de 2023”, escrevem os analistas.

Embora aponte que uma parcela das ineficiências esteja ligada a questões regulatórias, o Itaú BBA destaca que grande parte do desempenho ainda abaixo do esperado se deve à própria estrutura da companhia.

Em contrapartida, o banco observa que a gestão do CEO André Salcedo vem reiterando seu foco em reduzir essas lacunas e ressalta medidas recentes como o último programa de demissão voluntária anunciado em maio deste ano, com a adesão de mais de 1,8 mil funcionários.

Outro componente a partir dos balanços recentes são as despesas com a inadimplência, que atingiram seu pico em 2022 e, desde o primeiro trimestre desse ano, vêm apresentando uma tendência de melhora, com expectativa de impactos mais significativos no segundo semestre.

O relatório frisa ainda que uma eventual privatização poderia desbloquear ainda mais valor no campo da redução de custos. Nessa direção, o banco comparou métricas de custos da empresa com os principais players privados do setor – Aegea, BRK e Iguá Saneamento.

“Observamos que, na amostra, a métrica, em média, para as empresas estatais está em torno de R$ 1,80 por volume faturado, enquanto o valor é de R$ 1,30, nas concessões privadas em desenvolvimento, e próxima de R$ 1 nas concessões privadas maduras, e, em alguns casos, chegando a quase R$ 0,50.”, destaca o relatório.

As ações da Sabesp estavam sendo negociadas com ligeira queda de 0,19% na B3, a R$ 58,74, por volta das 12h40. No ano, os papéis registram uma valorização de 2,7% e a empresa está avaliada em R$ 40,1 bilhões.