No próximo dia 20 de setembro, Wilson Ferreira Junior reassume o posto de CEO da Eletrobras, empresa na qual comandou uma forte reestruturação, entre julho de 2016 e janeiro de 2021, e que movimentou R$ 33,7 bilhões em junho desse ano, em sua privatização, por meio de um follow on.

Se a companhia que o executivo irá encontrar nesse retorno é diferente daquela que deixou, há um ano e meio, o mesmo se pode dizer da Vibra, empresa de distribuição de derivados de combustíveis, que ele assumiu em março de 2021, justamente quando se desligou da Eletrobras.

Nesse intervalo, entre outros movimentos, a antiga BR Distribuidora foi rebatizada como Vibra e captou R$ 11,3 bilhões, também em um follow on, em julho de 2021. Desde então, a empresa avançou na estratégia de ir além do seu negócio tradicional, a partir de uma série de joint ventures no contexto da transição energética.

Na manhã desta terça-feira, em sua última participação em uma conferência de resultados da Vibra, Ferreira aproveitou para falar um pouco sobre o seu legado. E, ao mesmo tempo, deu alguns detalhes sobre o processo de sucessão e traçou um breve panorama das perspectivas da companhia.

“Foi uma jornada curta, mas, ao mesmo tempo, longa e intensa. Fizemos muitas coisas”, disse Ferreira. “Desde criar uma corporation, com o follow on, até consolidar as transformações que a companhia já vinha fazendo no sentido de se tornar mais eficiente e a criação de uma plataforma multienergia.”

Nessa última frente, a Vibra costurou, entre outros acordos, joint ventures como o acordo para a aquisição de 50% da comercializadora de energia elétrica Comerc; a Evolua, operação conjunta com a Copersucar em etanol; e, mais recentemente, em julho desse ano, a compra de uma fatia de 50% na Zeg Biogás, no segmento de produção de biometano.

Boa parte dessas transações já prevê a possibilidade de, no futuro, a Vibra assumir o controle das operações. O que, na visão de Ferreira, só amplia as boas perspectivas à frente da companhia, assim como reforça um desafio para o seu sucessor.

“Acho que o mercado ainda não compreendeu o potencial do que criamos. Estamos falando da capacidade de, em cinco anos, ter um acréscimo de 50% do Ebitda”, afirmou. “Isso sem que a companhia perca o seu core business, que segue crescendo. É uma empresa nova, sem perder a antiga.”

Segundo Ferreira, a empresa está em vias de anunciar a peça que completa esse quebra-cabeça, com um acordo no segmento de gás natural. Ele acrescentou que a concretização do negócio deve ser divulgada já por quem assumir o seu posto.

“Estamos para concluir nossa plataforma multienergia, o que nos deixa bem posicionados em eletricidade e gás natural, os segmentos que mais crescem nesse contexto de transição energética”, observou.

Já em andamento, sob a orientação do Conselho de Administração da Vibra, o processo de sucessão de Ferreira inclui, de acordo com o executivo, a avaliação de dois nomes internos, além da possibilidade da busca por uma alternativa de mercado.

Como parte do desafio que o novo CEO terá em comunicar melhor o potencial embutido nessa transição da Vibra, a companhia informou que, a partir do próximo trimestre, passará a reportar as participações de todas essas operações em seu balanço, para dar mais visibilidade às suas respectivas contribuições.

“Estamos falando de algo que pode chegar a até 30% do nosso Ebtida futuro”, ressaltou Ferreira. “Isso sem considerar os direitos de assumir o controle desses negócios.”

Como parte da evolução dessas operações no trimestre, ele destacou a compra da fatia de 50% da Zeg Biogás, por R$ 159,5 milhões. Em cinco anos, a operação, que envolve a produção de biometano a partir da vinhaça, resíduo da produção de etanol, terá a capacidade de produzir mais de 2 milhões de metros cúbicos por dia.

Outro ponto ressaltado no período foi a parceria com a Easy Volt, startup de redes de recarga elétrica. Além de marcar um dos primeiros investimentos do corporate venture capital lançado pela Vibra no período, a associação rendeu frutos na rede de postos da companhia.

“Nesse trimestre, lançamos algo que vinha sendo demandado pela indústria, que foi a carga ultrarrápida nos postos de rodovias”, disse Ferreira. “O primeiro foi instalado no posto na cidade de Roseira, no quilômetro 82 da Dutra e instalaremos mais 70 postos de carregamento até o fim de 2023.”

Resultado

Enquanto trabalha para construir tre abril e junho, a Vibra apurou um lucro líquido de R$ 707 milhões, o que representou uma alta de 85,1% sobre igual período de 2021. A receita líquida da operação foi de R$ 47,1 bilhões, um crescimento de 62,5%.

A receita líquida ajustada da rede de postos registrou um salto de 52,5%, para R$ 27,8 bilhões. Já no segmento B2B, o mesmo indicador avançou 53,8%, para R$ 14,2 bilhões, enquanto no mercado de aviação, a receita líquida ajustada foi de R$ 5,1 bilhões, alta de 198,7%.

No trimestre, a Vibra reportou um Ebitda ajustado de R$ 1,6 bilhão, um desempenho 58,3% superior ao registrado há um ano. A margem Ebtida ajustada de R$ 175/m³, um salto anual de 52,3%. Os dois indicadores foram os maiores já obtidos pela companhia.

A empresa fechou o período com uma dívida bruta de R$ 16 bilhões, 10,5% superior ao montante reportado no primeiro trimestre. Já a dívida líquida cresceu 30,2% na mesma base de comparação, para R$ 13,2 bilhões. O nível de alavancagem, medido pela relação dívida líquida/Ebtida ajustado, ficou em 2,4 vezes.

Em relatório, o Credit Suisse ressaltou o resultado sólido e acima das “altas expectativas” da Vibra no período, especialmente no que diz respeito aos recordes registrados no Ebitda ajustado e na margem Ebitda ajustada.

“Reiteramos nossa preferência pela Vibra e vemos as ações da companhia sendo negociadas a uma avaliação mais atrativa em 2023 em comparação com as ações da Ultrapar”, escreveram os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, que têm recomendação outperform (acima da média do mercado) para o papel e preço-alvo de R$ 25 para a ação.

Na B3, porém, as ações da empresa estavam sendo negociadas com queda de 3,34% por volta das 12h30. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 13,5%. A Vibra está avaliada em R$ 20,6 bilhões.