Após um 2024 turbulento, com sua governança duramente questionada, a Vivara iniciou 2025 buscando acalmar os ânimos do mercado. Mas isso não significa que a rede de joalherias saiu totalmente dos holofotes. O balanço do primeiro trimestre trouxe um novo sinal de alerta para desafios de execução da empresa.

A resposta a essas incertezas e riscos começa a ser dada agora. Essa é, ao menos, a visão do CEO Ícaro Borrello, à frente da operação desde novembro de 2024, que se apoia nos números do segundo trimestre reportados pela companhia na noite desta quinta-feira, 7 de agosto.

“Estamos começando a colher tudo aquilo que vínhamos plantando, em diversas linhas do nosso resultado”, diz ele, ao NeoFeed. “A margem bruta, por exemplo, foi nossa principal dor no primeiro trimestre. E, agora, registramos a maior margem bruta de um segundo trimestre da nossa história.”

O marco nesse indicador – que, de fato, foi bastante questionado há três meses -, se traduziu em uma margem bruta de 70,6%. O índice representou uma evolução de 1,8 ponto percentual sobre o patamar apurado nesse mesmo intervalo de 2024. E veio acima da projeção do Itaú BBA, de 68,5%.

Além da gestão mais apurada de preços em todos os segmentos do seu portfólio, esse avanço é explicado por outra iniciativa: a elevação do percentual do portfólio da Life, a marca mais acessível do grupo, produzido pela própria Vivara, em sua fábrica em Manaus (AM).

Esse trabalho começou a ser implantado no terceiro trimestre de 2024, sob a tese de reduzir a dependência da importação de produtos. “No início de 2024, esse índice de internalização era de cerca de 55%. Hoje, estamos próximos de 80% e nosso desejo é chegar acima de 90%”, afirma Borrello.

CFO da Vivara, Elias Leal Lima ressalta que o investimento feito nessa ampliação foi marginal e centrado, basicamente, na ampliação do quadro de funcionários da unidade. “Estamos alcançando a produtividade que mirávamos e isso começa a aparecer no nosso resultado.”

Outra métrica do balanço na mira dos analistas e investidores, o nível elevado dos estoques foi mais um foco no trimestre. O grupo chegou a esse estágio crítico ao acelerar, em 2024, a compra de matéria-prima, numa tentativa de se proteger de novas altas nos preços da prata e, em particular, do ouro.

Agora, a gestão da Vivara tem três frentes em execução para reduzir, gradativamente, esses volumes. A primeira, em curso desde abril, envolve a redistribuição de estoques de lojas que não são eficientes em determinada categoria para unidades que têm um bom giro nesse segmento.

Em outra vertente, a varejista vem derretendo um excesso de 8% em seu estoque de joias de ouro. Na prática, com base em seu histórico de vendas, a rede transforma parte do volume de produtos - que não terão tanta saída - em matéria-prima.

“São peças que foram fabricadas há dois anos. Esse é um ouro muito mais barato do que o que está no preço de tela agora”, afirma Borrello. Ele ressalta que a companhia já derreteu cerca de 50% desses produtos, numa estratégia que se conecta com uma terceira alavanca para reduzir o nível dos estoques.

“Estamos derretendo algo que não íamos vender para fabricar produtos de alto giro”, diz o CEO. “E, em paralelo, não vamos precisar comprar ouro até o fim de 2025.” Com essas três frentes, o grupo reduziu seu nível de estoque de 614 para 593 dias entre o primeiro e o segundo trimestre.

Já em uma terceira linha no radar dos investidores, as vendas mesmas lojas, a companhia apurou um crescimento de 11%, em base anual, no consolidado. E de 9,1% na marca Life, principal alvo das preocupações de analistas.

Também na comparação anual, a Vivara reportou um lucro líquido ajustado de R$ 126,2 milhões, alta de 14,3%. A receita líquida cresceu 16%, para R$ 761 milhões. Enquanto as vendas digitais avançaram 15,1%, para R$ 126,6 milhões, e o Ebitda ajustado evoluiu 18%, para R$ 194 milhões.

Em outros indicadores, a rede registrou uma geração de caixa operacional de R$ 169,1 milhões, contra R$ 111,4 milhões, há um ano, e uma queima de caixa de R$ 173,6 milhões no primeiro trimestre de 2025.

A dívida líquida ficou em R$ 290,2 milhões, uma ligeira redução frente aos R$ 292,3 milhões contabilizados nos primeiros três meses desse ano. Nessa mesma base, a alavancagem permaneceu no mesmo patamar, de 0,4 vez.

Governança e novas avenidas

O trimestre foi marcado ainda por mudanças no conselho de administração. Em 18 de julho, a Vivara nomeou Marina Kaufman como nova presidente do board, após a renúncia de seu pai, Nelson Kaufman, o fundador da rede.

Para a vice-presidência do colegiado, até então, ocupada por Marina, a rede anunciou o retorno de Paulo Kruglensky, sobrinho de Nelson, com uma passagem anterior de 17 anos pela empresa, da qual foi CEO entre 2021 e 2024.

Sua saída, em março do ano passado, veio justamente na volta inesperada de Nelson Kaufman ao dia a dia da empresa. Em uma passagem relâmpago, o fundador assumiu como CEO e, dez dias depois, deu lugar a Otávio Lyra, que, por sua vez, deixou o cargo em novembro.

Entre outras questões que marcaram o ano de 2024, na trilha do retorno do fundador da rede, as intensas movimentações no C-Level só reforçaram as dúvidas quanto à governança da operação e abalaram a empresa, até então, uma das top picks do mercado.

Agora, na visão de Borrello, essas incertezas ficaram definitivamente para trás. “Nós já viramos essa página”, diz o executivo. “E não vemos mais nenhuma troca necessária do ponto de vista de executivos. Ao contrário. Vemos adições pontuais para algumas novas frentes.”

Com essa percepção, em paralelo aos avanços na execução da sua estratégia, o executivo e seus pares já começam a pensar nessas novas avenidas de crescimento, que devem passar a ganhar tração, em boa medida, a partir de 2026.

Uma delas é a tese de expansão, com destaque para a Life, na qual o grupo vê um potencial de abertura de mais de 300 lojas. Hoje, a marca tem 192 unidades, dentro de um total de 469 pontos de venda da Vivara. Nessa pegada, um dos formatos em avaliação para a bandeira são as lojas de rua.

Enquanto isso, a Vivara está confortável para entregar o guidance de 2025, na faixa de 40 a 50 aberturas de lojas das suas duas marcas, em um patamar mais próximo da borda inferior dessa estimativa. “Já temos tudo dentro de casa, seja em obras ou em fase final de ajuste de contratos”, diz o CEO.

Em outra fronteira, literalmente, ele acrescenta que a empresa vê margem para começar a expandir sua operação no exterior. Em outubro de 2024, a rede abriu sua primeira loja no Panamá, como um projeto-piloto dessa estratégia.

“É um primeiro teste, mas estamos tendo boa aceitação, já que 98% dos nossos clientes lá não são brasileiros”, afirma. “O Panamá é um país que comporta de quatro a cinco lojas. Então, num futuro próximo, nós gostaríamos de adensar um pouco mais para testar o país como um todo.”

As ações da Vivara fecharam o dia cotadas a R$ 27,58, alta de 0,99%. Os papéis registram uma valorização de 43,2% no acumulado de 2025. A companhia está avaliada em R$ 6,48 bilhões.