A segunda-feira, 19 de agosto, começou diferente para os clientes da Warren e da Renascença. Após dois anos de convivência paralela, as corretoras para os públicos de varejo e institucional passam a ser uma só e os clientes começam a operar apenas em uma plataforma de negociação.

A decisão da Warren Investimentos, que tem R$ 22 bilhões sob gestão, foi “tombar” os cerca de 100 mil clientes de varejo da Warren para a infraestrutura utilizada pelos 650 clientes institucionais da Renascença. E, com a integração, a marca Renascença desaparece.

“Por um período curto, os clientes Warren ainda vão ter de fazer a TED para a Renascença, mas isso é até acertarmos o nome na B3, que deve ser rápido”, diz Tito Gusmão, CEO e cofundador da Warren, ao NeoFeed.

A escolha pela plataforma da Renascença não foi tecnológica nem de inovação, mas pragmática. A corretora para o investidor institucional já tinha contratos e licenças com grandes players globais. Se a escolha fosse diferente, todo esse processo teria de começar do zero para plugar um cliente desse porte.

Parte desse movimento de unificação das estruturas também é justificado pelo apetite em atrair outros grandes players para negociar na plataforma e aumentar o volume transacionado. No ano passado, o investidor institucional transacionou R$ 1 trilhão pela Renascença, um recorde para a empresa. Só no primeiro semestre deste ano o volume chegou a R$ 990 bilhões.

“Muitos institucionais só podem ‘treidar’ com corretoras top 10 no ranking”, afirma Gusmão. “Com o volume de negociação do varejo, vamos elevar a posição da Warren e destravar a entrada de grandes bancos, por exemplo.”

A B3 possui diversos rankings de negociação, alguns públicos e outros privados. Entre as corretoras que trabalham com a Trader, a plataforma de negociação eletrônica de produtos de renda fixa da bolsa, a Renascença figurava na sexta posição entre os top brokers. E entre as que negociam NTN-B, a corretora detém cerca de 23% de market share.

Mas quando se pega o total consolidado entre a renda fixa e a variável, a Warren somada à Renascença gravita em torno da 20ª colocação, uma posição distante para áreas como a tesouraria ou gestoras institucionais.

Chamada de Warren-Rena, a corretora Renascença, uma das principais corretoras institucionais de títulos públicos do País e uma das mais tradicionais do mercado nacional, foi adquirida em setembro de 2021. A aprovação do Banco Central aconteceu 12 meses mais tarde.

A transformação de duas corretoras em uma trará uma redução de custo de mais R$ 6 milhões anuais para a Warren, que tinha de conviver com muitas estruturas duplicadas.

Nos últimos meses, a Warren vem trabalhando para enxugar sua estrutura em nome da eficiência. Em 12 meses, a Warren conseguiu uma economia de 40% com as despesas. E encerrou o segundo trimestre com receita recorde de R$ 54,2 milhões, uma expansão de 17% sobre o mesmo período do ano passado. O breakeven da operação foi alcançado em 2023.

“Ano passado foi de muito amadurecimento. Deixamos para trás negócios pouco sinérgicos, enxugamos a estrutura corporativa e focamos toda energia no que nascemos para ser”, diz o CEO da Warren. “Seguimos muito focados em eficiência neste ano.”

Lobos solitários

No ano passado, a Warren decidiu entrar na disputa pelo assessor de investimento. Mas a ideia nunca foi competir com XP e BTG e brigar pelas placas mais estreladas e com um grande número de profissionais.

Essa foi uma grande transformação na cabeça dos fundadores e do management da Warren: entender que é possível acelerar a distribuição dos produtos via parceiros.

Foram embarcadas na estrutura pouco mais de duas dezenas de parceiros, como MHZ, Notoria Investimentos, Genius, Agata Investimentos, entre outras. Todos chegaram e mantiveram suas próprias bandeiras, recebendo um “by Warren” para dar mais peso.

Agora, a Warren está rodando pilotos nas cidades de Cuiabá, Ribeirão Preto e Curitiba de um modelo inspirado na empresa americana de serviços financeiros Charles Schwab, que tem 20% de sua receita via franchise.

A ideia foi criar um “as a service” para dar acesso à plataforma e condições de operar no mercado aos chamados lobos solitários, nome que a Warren dá aos profissionais que podem fazer a distribuição de produtos em um bairro ou região, mas não tem capacidade e tamanho para montar a sua própria estrutura.

Dessa forma, uma pessoa ou um time de até cinco pessoas ultrapassam rapidamente o desafio de escalar uma empresa do zero ao se associar a uma marca já conhecida como a Warren. E todos os advisories chegam com a regra da remuneração via modelo fee based.

Na visão da Warren, o maior atrativo para esses parceiros é o que eles chamam de esteira de eficiência. O assessor cuida apenas do relacionamento com o cliente e todos os demais processos são feitos por meio da tecnologia ou por áreas especializadas.