Antes mesmo de ser eleito presidente dos Estados Unidos, no ano passado, Donald Trump já havia se tornado uma preocupação para multinacional brasileira Weg, fabricante de motores e equipamentos, que tem o mercado americano como o maior da empresa fora o Brasil.
O cenário de dúvidas sobre os caminhos da política econômica fez com que as vendas tivessem queda naquele país no quarto trimestre de 2024. No período, a receita para o mercado da América do Norte alcançou US$ 498,7 milhões, queda de 6,5% sobre o faturamento do trimestre anterior, com US$ 533,4 milhões.
Nesse sentido, o reflexo das incertezas no cenário econômico americano, a partir da disputa em que Trump derrotou Kamala Harris, influenciou o resultado financeiro da companhia de 2024.
“A desaceleração de demanda de ciclo curto no quarto trimestre teve impacto nas indefinições de quem venceria [a eleição americana] e como ficaria o mercado”, disse André Salgueiro, diretor de finanças e relações com investidores da Weg, no início da tarde de quinta-feira, 27 de fevereiro, durante a teleconferência de resultados.
No balanço do período, os Estados Unidos foram a única área geográfica que teve redução de receita para a Weg. Na soma do mercado externo, o faturamento em dólar dos últimos três meses de 2024 cresceu 1,4%, para US$ 1,1 bilhão.
“Estamos em um cenário de crescimento baixo para padrões históricos de ciclo curto. Há algumas incertezas sobre o processo de atividades econômicos nos Estados Unidos, sim”, afirmou Salgueiro.
O executivo da Weg, no entanto, avalia que há espaço para reverter o cenário desafiador no país. “A perspectiva para 2025 é que a gente comece a ver uma retomada e um crescimento um pouco maior para Estados Unidos, principalmente sobre motores, automação e os produtos que temos para atender o mercado norte-americano”, disse o executivo.
No cenário de oportunidades está também a possibilidade, daqui para a frente, de aumento na demanda de transformadores e equipamentos da Weg, especialmente no segmento de distribuição e geração de energia. A pista está no chamado processo de reindustrialização dos Estados Unidos, propagado por Trump.
Por outro lado, há preocupação em relação aos anúncios de taxação de 25% sobre o aço importado aos Estados Unidos, e que também deve afetar o México. Na quinta, 27, Trump anunciou que a taxação sobre os produtos vindos de Canadá e México entrará em vigor em 4 de março. É do país da América Central que sai o produto da Weg que chega nos Estados Unidos.
Mesmo assim, a empresa decidiu manter os investimentos previstos em território mexicano. “Estamos em um momento em que faltam informações, mas o México é um polo importante industrial para a Weg não só em relação à exportação, mas também pelo mercado local”, disse André Rodrigues, CFO da companhia.
O diretor de relações com investidores afirmou que, nos primeiros meses deste ano, houve um incremento de pedidos justamente sobre transmissão e distribuição de energia.
“Carteira está relativamente longa, praticamente fechada para este ano, e boa parte da carteira do ano que vem”, disse Salgueiro. Na avaliação dele, isso explica os investimentos feitos globalmente para aumentar a capacidade produtiva especificamente neste segmento, principalmente no México, para atender a demanda norte-americana.
No acumulado do ano, a Weg alcançou receita operacional líquida de R$ 37,9 bilhões, alta de 16,9% sobre o volume reportado em 2023. O lucro líquido do exercício foi de R$ 6 bilhões, um acréscimo de 5,4% sobre os R$ 5,73 bilhões do ano passado.
Para 2025, a empresa anunciou investimentos de R$ 2,6 bilhões, principalmente para ampliação de fábricas em Itajaí, Guaramirim, expansão de fábricas da área de transmissão e de tintas no México, além da unidade de motores de alta tensão na China e de motores na Turquia.
De uma forma geral, o mercado reagiu mal ao resultado da companhia, divulgado ao mercado na quinta-feira, 26 de fevereiro. A ação recuou 8,7% no pregão. E foi menos pelo resultado financeiro, mas acima de tudo pelas margens alcançadas, consideradas abaixo da expectativa.
O Itaú BBA considerou os dados levemente negativos, com a margem Ebitda 0,5 ponto percentual abaixo da expectativa (22,1% reportado ante 22,6% esperado). O J.P. Morgan disse que a margem Ebitda foi compensada pela alta de cerca de 26% da receita líquida operacional, de R$ 10,8 bilhões no quarto trimestre.
Relatório produzido pelo BTG Pactual aponta desafios e oportunidades para a empresa no território norte-americano por causa das ações protecionistas de Trump. O documento mostra que há perspectivas positivas sobre o segmento de transformadores, setor em que a Weg detém 5% do mercado.
Nos últimos 12 meses, as ações da B3 registraram alta de 30,22%. A empresa está avaliada em R$ 202,9 bilhões.