Após figurarem entre as operações mais afetadas pela Covid-19, as companhias aéreas começam a enxergar melhores perspectivas, a partir da combinação da recuperação da demanda pelas viagens internacionais e domésticas com um ambiente de preços mais favorável.

O horizonte, porém, ainda mostra alguns desafios como a volta da normalização na oferta por parte dos fabricantes de aeronaves. E, no balanço desse cenário pós-pandemia, enquanto alguns players reúnem boas condições de levantar voo, outros têm muitas turbulências pela frente.

Esse é o contexto no centro de um relatório divulgado na sexta-feira, 2 de fevereiro pelo BTG Pactual. E, como parte dessa equação de altos e baixos, o banco revisou as recomendações para a Gol e a Azul, dois dos principais players do setor no País.

No caso da Gol, o BTG rebaixou a recomendação de neutro para venda, reduzindo o preço-alvo da ação de R$ 10 para R$ 1. Na direção oposta, o banco elevou a Azul de neutro para compra, atualizando o preço-alvo do papel, de R$ 20 para R$ 33.

A revisão na recomendação da Gol acontece na esteira do pedido de proteção contra a falência feito nos Estados Unidos no último dia 25 de janeiro, quando a companhia, com uma dívida de R$ 20,2 bilhões, acionou o Chapter 11, o equivalente à recuperação judicial no país.

A companhia também obteve autorização da justiça americana para ter acesso a uma parcela inicial dos US$ 950 milhões de um financiamento na modalidade debtor in possession (DIP). Nesse processo, além de projetar uma grande diluição patrimonial, de cerca de 90%, o BTG enxerga outros riscos.

“À medida que o processo de reestruturação de capital se desenrola, prevemos algum redimensionamento da capacidade, levando a uma dinâmica moderada dos lucros no curto prazo”, escrevem os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Marcelo Arazi.

O trio fez uma série de ajustes nas estimativas da Gol para incorporar esse novo contexto. Em termos de receita, o banco aponta agora para uma receita de R$ 18,5 bilhões, em 2024, contra uma projeção anterior de R$ 20,5 bilhões.

Na última linha do balanço, o banco prevê um prejuízo de R$ 403 milhões em 2024, alterando a projeção anterior de um lucro de R$ 764 milhões. No Ebitda, a estimativa foi reduzida de R$ 5 bilhões para R$ 4,5 bilhões.

No relatório, os analistas também ressaltam algumas diferenças na recuperação judicial da Gol em comparação ao caso da Latam, que também seguiu o mesmo caminho ao ingressar no Chapter 11 em maio de 2020.

A Latam saiu da recuperação judicial em novembro de 2022 e conseguiu reduzir sua dívida bruta em cerca de 40% nesse processo. O ponto é destacado pelo BTG, assim como o fato de a empresa ter cumprido esse trajeto durante a pandemia, com a demanda reduzida.

“No caso da Gol, a empresa está buscando apoio financeiro para aumentar a capacidade em meio à recuperação da demanda e às restrições de oferta de aeronaves”, observa um outro trecho do relatório.

Os analistas ressaltam ainda que, hoje, a empresa tem mais de 20 aeronaves ociosas que necessitam de manutenção. E que a Gol está explorando ativamente alternativas de financiamento para atender a essas necessidades.

No que diz respeito à Azul, a elevação da recomendação é embasada por fatores como uma estrutura de capital fortalecida após a empresa concluir, em outubro de 2023, a renegociação de obrigações com parte de seus arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos.

Como parte dessa estratégia, a companhia aérea também anunciou, na época, a emissão de US$ 370,5 milhões em títulos de dívida, além de US$ 570 milhões em ações preferenciais.

Os analistas citam ainda questões como nenhuma exposição da empresa a problemas recentes de fornecimento que afetaram outras companhias aéreas; um valuation atrativo, com desconto de 34% sobre a média histórica; e também uma menor concorrência a partir da situação da Gol.

“O potencial redimensionamento de capacidade em um de seus principais concorrentes também pode ter um impacto líquido positivo para a Azul, levando a uma potencial expansão da participação de mercado e um ambiente de retornos mais atraentes”, escrevem os analistas.

Com esse viés, o BTG revisou a projeção de receita da Azul para 2024 de R$ 20,5 bilhões para R$ 21,2 bilhões, e o Ebitda de R$ 5,7 bilhões para R$ 6,3 bilhões. Já o lucro estimado agora é de R$ 553 milhões, contra a previsão anterior de R$ 740 milhões.

As ações da Azul estavam sendo negociadas com alta de 3,3% por volta das 13h30 na B3, cotadas a R$ 13,69 e dando à empresa um valor de mercado de R$ 4,7 bilhões. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 14,8%.