O empresário Marcos Boschetti, fundador e CEO da Nelogica, provedora de tecnologia para o mercado financeiro, sobretudo aos traders, tem como costume analisar inovações que estão surgindo para agregar ao seu negócio.

Foi assim que ele se deparou com uma solução da europeia Bookmap, com 300 mil usuários entre traders, gestoras e bancos – a maioria nos Estados Unidos. E o que era uma conversa para firmar uma parceria acabou virando o maior M&A da história da Nelogica.

A empresa brasileira acaba de comprar uma fatia majoritária, de valor não revelado, na Bookmap, fundada por israelenses, sediada no Chipre, com 80 funcionários. “A solução deles combinada com a nossa é única no mercado de global trading no mundo”, diz Boschetti com exclusividade ao NeoFeed.

Boschetti explica que a Bookmap criou algumas metodologias para entender o que está acontecendo nas entranhas do mercado através do fluxo de ordens. “Conseguem ver, por meio de mapas de calor, movimentos de mercado muito difíceis de perceber. São insights nada óbvios e eles traduziram isso em uma ferramenta visual”, afirma.

A plataforma mostra o movimento de fluxo comprador em dólar ou algum índice, por exemplo, logo no início. “As pessoas conseguem surfar esses movimentos por um tempo, assim como podem ver quando aquele fluxo começa se começa a exaurir”, diz Boschetti. “É uma startup que trabalha com uma tecnologia bem profunda.” Não à toa, players como a Thinkorswin, plataforma de trade da Charles Schwab, usam seus serviços.

Além de trazer uma nova tecnologia para dentro de casa, a expansão da Nelogica na Europa abre as portas para a companhia iniciar o processo de internacionalização com mais força. O próximo destino da empresa será os Estados Unidos. “Vamos montar uma operação lá em 2025”, diz Boschetti.

Antes da aquisição da Bookmap, 91% das receitas da companhia vinham do Brasil e o restante do exterior. Agora essa proporção vai passar para 80% Brasil e 20% exterior. “Temos mercado endereçável para crescer pelos próximos 50 anos”, diz o CEO da Nelogica. E são várias as avenidas de crescimento.

O empresário vai explorar oportunidades no varejo e no mercado institucional, em classe de ativos e geográficas. Desde o ano passado, a companhia, que conta com 700 funcionários, começou a olhar o mercado institucional com mais atenção e passou a atender players como Banco do Brasil, B3 e outros grandes bancos.

Em breve, deve passar a operar o B2B também em outros mercados como EUA, Ásia e Europa. Para se diferenciar neste segmento, a companhia lançou duas plataformas que, segundo a Nelogica, reduzem o tempo de envio e a confirmação de ordens com a Bolsa. “O institucional já representa 30% do nosso negócio. No ano passado era 15%”, afirma Boschetti.

O plano é que esse segmento represente 50% do faturamento da empresa dentro de dois anos. No segmento pessoa física, a operação já está consolidada. Os softwares da Nelogica estão nas telas de mais de 4 milhões de traders espalhados em 160 países.

Muitos deles usam os serviços diretamente e outros usam sem saber que por trás funciona o motor da Nelogica, que trabalha como um white label para bancos e corretoras. São sistemas e algoritmos que trazem dados de mercado, cotações em tempo real, além de ferramentas de análise, entre outras funcionalidades.

No total, a Nelogica oferece 11 produtos. Essa gama de ofertas veio a reboque de um processo de expansão e aquisições nos últimos tempos. Isso se intensificou a partir de 2020, quando a empresa recebeu um cheque de R$ 550 milhões em uma rodada liderada pela Crescera Capital e pela americana Vulcan Capital.

Desde então, a empresa lançou uma plataforma focada em negociação de criptomoedas; comprou a sua então concorrente Solution Tech; adquiriu a plataforma de dados ComDinheiro; trouxe para dentro a empresa de ferramentas tributárias para investidores Akeloo; lançou uma área de educação financeira batizada de Invest Academy e, a julgar pelo apetite de Boschetti, vem mais por aí.

“Nós somos uma máquina de decisão de negociação eletrônica”, diz Boschetti. E avisa: “A gente sempre rodou a linha do crescimento com units economics sustentáveis.” No playbook de M&As da Nelogica, ao que parece, isso é – e continuará a ser – um mantra.