Austin - Os criminosos virtuais não são os principais inimigos do Homem de Ferro, mas o ator Robert Downey Jr. quer ser o herói da cibersegurança. Na tarde de sábado, 11, no Texas, onde acontece a South by Southwest, o festival de inovação para diferentes áreas mais conhecido por SXSW, ele mediou um painel sobre crime cibernético. Suas credenciais sobre o tema? Ser investidor e garoto-propaganda da Aura Identity Theft Protection.
Ao entrar no palco de terno escuro, camisa azul clara listrada e gravata e meias amarelas (com o cabelo raspado), Downey Jr. avisou a plateia que, além de estrelar a propaganda exibida nos telões minutos antes, ele tinha se tornado um investidor da Aura.
Downey Jr., que viveu o Homem de Ferro em 10 produções cinematográficas, tinha, até aqui, seis startups no seu portfólio. Ele havia investido em negócios como a Forethought, de inteligência artificial; a Kindred Motorworks, de veículos elétricos e a Pocket.watch, um estúdio de criação para youtubers. A Aura é a segunda empresa de cibersegurança na sua carteira ao lado da canadense 1Password.
Fundada em 2019 em Boston por Hari Ravichandran e Manuel Molina, a Aura se posiciona como um aplicativo de segurança contra crimes digitais, do financeiro aos de identidade. A empresa realizou quatro rodadas e captou um total de US$ 500,7 milhões. A última, realizada em outubro de 2021, teve como investidor líder a Madrone Capital, que se juntou a outros cinco, como a Warburg Pincus.
“O potencial de perder seus ativos online é mais provável do que na vida real”, disse a estrela de Hollywood como introdução ao tema em meio a problemas no teleprompter (equipamento utilizado para o apresentador ler um texto). Em meio à falha, Downey Jr. brincou que não esperava improvisar como Chris Rock.
Para voltar à seriedade do tema, ele falou que o Federal Bureau of Investigation (FBI) reportou uma perda de US$ 10,3 bilhões nos Estados Unidos via crime digital em 2022, um montante superior ao PIB de 50 países. E três vezes mais do que o crime comum.
“O crime cibernético não é o hacker. Nos acostumamos a falar que o criminoso é o hacker por conta da dark web. Mas esse tipo de crime é comum e está em todo o ciberespaço tentando enganar os usuários, inclusive nas redes sociais”, disse Erick O’Neill, um consultor de segurança e ex-FBI. Ele trabalhou durante anos como um “fantasma” na instituição para desvendar operações suspeitas e ficou conhecido por desmascarar o espião russo Robert Hanssen, que estava há 25 anos no próprio FBI - a história se transformou no filme “Breach”, de 2007.
Nos EUA, a média é de 25 aplicativos por aparelho celular. Com tamanha hiperconectividade, esse tipo de crime vem registrando um crescimento entre 30% e 40% ao ano. O mais interessante é que não precisa de muita sofisticação para fisgar as vítimas. Na maioria dos casos, alerta o CEO da Aura, os criminosos envolvem as pessoas com as informações públicas encontradas nas redes sociais.
“Eles parecem ser amigos. Chegam falando com intimidade e, por exemplo, mostram a oportunidade de ficar rico com uma nova criptomoeda. A conversa envolvente vai para uma tela de crescimento do ativo e você se sente tentado a investir todo o seu dinheiro, afinal, chegou a sua hora de enriquecer. Mas, sem perceber, todo o seu dinheiro some”, disse Ravichandran.
As dicas básicas de segurança no mundo digital foram reforçadas, como não esperar pelo banco quando perceber uma movimentação estranha no cartão; preferir a biometria ao login e senha em instituições financeiras; evitar a senha única para tudo e criar acessos diferentes que dificultem a tentativa de quebra; e fechar as redes sociais. O alerta serve para brecar o roubo financeiro e de dados, algo que respinga em todas as corporações com informações sensíveis.
“Cuidado com as informações sobre sua família, suas férias e os lugares que você marca como localização nas suas redes sociais. Esteja certo que esses dados deixam você vulnerável”, alertou Ravichandran.
E O’Neill completou: crianças e idosos são os mais vulneráveis para dar informações. Os criminosos cibernéticos trabalham como artistas, fingindo ser pessoas próximas, com um discurso amigável. “Crianças e idosos devem saber que tudo no mundo virtual deve ser suspeito e não passar nenhum tipo de informação”, disse o ex-FBI.