Com a Taxa Selic na casa dos dois dígitos, a frase mais repetida pelos especialistas tem sido uma velha conhecida do investidor: o Brasil é o paraíso dos rentistas. Convencer o brasileiro a diversificar neste cenário de renda passiva atrativa não tem sido um trabalho fácil. Mas o BTG Pactual pensa diferente e colocou a alocação internacional das carteiras como um dos objetivos de crescimento mais agressivos no ano.

Para cumprir essa estratégia, o banco mexeu recentemente na área de distribuição de fundos de terceiros (ou TPD, da sigla em inglês Third Party Distribution). Com R$ 2,6 bilhões de ativos sob intermediação e projeção de crescer 50% em 2023, o gestor William Landers passa a liderar a área de Nova York.

Ignácio Pedrosa, que está baseado em Miami e cuidava do segmento, é o novo chefe para a América Latina e os mercados offshore dos EUA da suíça Vontobel Asset Management, que detém US$ 117 bilhões em ativos sob gestão.

Então chefe da área de fundos de ações do BTG, a migração de Landers indica o apetite do banco por um mercado que exige conhecimento e curadoria de bons produtos. A experiência de mais de duas décadas no universo das asset managements permite a ele pegar alguns atalhos para entender a estratégia que faz sentido para o investidor local.

“Temos uma competição dura com a renda fixa no Brasil, além de incertezas em ativos como moeda, bolsa e tudo mais, algo que se repete também em vários outros países”, afirma Landers em entrevista ao NeoFeed. “Mas nosso trabalho é trazer novas ideias e oportunidades para os potenciais investidores.”

O mercado brasileiro de alocação em fundos offshore gira em torno de US$ 160 bilhões. Desse montante, cerca de US$ 75 bilhões estão em fundos abertos. É esse o universo que Landers tem para navegar e atrair clientes. E uma competição muito acirrada.

Em julho do ano passado, o Itaú desembolsou US$ 166 milhões por 35% de participação na Avenue Securities, a corretora que se tornou referência em investimentos internacionais para brasileiros. Dois meses antes, a XP lançou sua conta de investimentos offshore para o varejo. E ainda há plataformas especializadas na criação de feeder funds, com a Gama Investimentos.

Para o BTG, o diferencial está na curadoria dos produtos. Atualmente, 13 gestoras estão no portfólio do BTG, como Janus Henderson, Mobius Capital Partners e Invesco. Os investidores mais parrudos, como private, institucional, single ou multi family office, conseguem fazer o aporte diretamente no exterior.

Para os clientes do varejo e tíquete menor de aporte, 17 feeder funds estão à disposição na plataforma do banco, numa estratégia parecida com a de fundo de fundo que permite acesso em reais ou com hedge cambial.

“Com a minha experiência como gestor, sei o que funciona ou não. Uma equipe trabalhando junta, que participou de vários ciclos de mercado, é importante, mesmo que tenham tido um ano ruim”, diz ele. “Alguns gestores podem ter perdido o brilho no ano passado, pela performance ruim, mas não mudaram a cultura de investimento ao tentar ir contra suas convicções.”

Um exemplo é o Pictet Global Megatrend, da gestora suíça Pictet Asset Management, que está na prateleira do BTG. O fundo tem como tese escolher os melhores ativos dentro de megatendências que afetam a economia global, como nutrição, energias limpas, robótica e cidades inteligentes. O rendimento em 12 meses, até 20 de março, era de -6,58% ante um ganho de 13,3% do benchmark.

“Esse fundo teve um ano passado bastante difícil, mas tem times específicos olhando as tendências, é diferenciado e a gestão continua sem mudança. Depois dessa correção que pegou o mercado como um todo, esse me parece um fundo bem interessante”, diz Landers.

Na visão dele, não basta oferecer apenas os gurus dos investimentos globais - esse fundo da Pictet, por exemplo, é tocado por Hans Portner, que está na gestora desde 1997. É preciso garimpar o que faz sentido como diversificação de carteira. Se trouxer três ou quatro fundos de growth estrelados, estará entregando a mesma estratégia para os investidores.

Will Landers BTG Pactual
Will Landers, head do third party distribution do BTG Pactual

Num momento de instabilidade global após os acontecimentos envolvendo o Silicon Valley Bank (SVB) e o Credit Suisse, a inflação resistente em várias partes do mundo, a guerra entre Ucrânia e Rússia e as questões fiscais, em particular, do Brasil, Landers destaca a necessidade de conhecer bem como é feito o controle de risco por essas gestoras. São momentos como esse que ajudam um distribuidor a ponderar o que foi feito pela casa ao longo de um ciclo completo de baixa de mercado.

“Toda essa ansiedade do mercado, seja pela preocupação com o crédito no Brasil ou os casos dos bancos americanos e do Credit Suisse não ajudam a diversificar e investir em fundos”, diz ele. "O importante é manter essa conversa mostrando o valor da diversificação para estar bem posicionado quando o juro baixar.”

Landers estava em Nova York quando a crise financeira que teve início em 2007 levou o banco de investimentos Lehman Brothers à falência no ano seguinte. Desta vez, ele diz não sentir a mesma apreensão, mesmo em meio ao socorro do Federal Reserve aos bancos regionais. E por uma razão: há 15 anos os bancos centrais de todo o mundo não estavam preparados para lidar com a crise e cometeram uma série de erros nas suas decisões.

“Se voltássemos para 2008, acredito que o Lehman não ia quebrar e teria sido feito algo diferente. O efeito cascata foi desastroso e por sorte não terminou pior”, diz ele. “Hoje, os reguladores estão com reações bem diferentes e os grandes bancos do mundo estão com balanços mais saudáveis e as pessoas físicas, bem menos endividadas.”

Nesse mundo de distribuição de produtos de fora, o universo é tão grande que alguma coisa sempre está dando certo para o investidor. Só é preciso saber escolher.