A notícia de que a Eletrobras vendeu sua participação na Eletronuclear para a J&F gerou um sentimento de alívio entre analistas e investidores, que veem no movimento a resolução do último grande risco para a tese de investimento da companhia, privatizada desde 2022.
A venda foi anunciada na manhã de quarta-feira, 15 de outubro. A operação prevê a alienação da participação integral da Eletrobras na Eletronuclear — 36% do capital votante — por R$ 535 milhões para a holding controladora da JBS e da Eldorado Celulose, além da transferência de garantias e da assunção de debêntures ligadas à União, que somam R$ 2,4 bilhões. A expectativa é de que a transação seja concluída em 2026.
Com a venda, a Eletrobras deixa definitivamente o segmento de energia nuclear, liberando a companhia das responsabilidades remanescentes com sua coligada, abrindo espaço para investimentos em matrizes renováveis e maior distribuição de dividendos.
A notícia foi bem recebida pelos investidores, colocando as ações da Eletrobras entre as maiores altas do Ibovespa. Por volta das 12h35, os papéis preferenciais classe B (PNB) subiam 2,82%, a R$ 56,09. No ano, os ativos acumulam alta de 48,4%, elevando o valor de mercado para R$ 124 bilhões.
“Com o anúncio desta transação, a empresa atingiu todos os principais marcos de redução de risco dos últimos meses, iniciando um novo e claro impulso para a tese”, diz trecho do relatório do Itaú BBA.
A redução de risco é o principal tema entre os analistas, tornando até o valor da transação positivo. Segundo o Bradesco BBI, mesmo os R$ 535 milhões acertados com a J&F sendo bem inferiores ao valor contábil dos investimentos realizados — cerca de R$ 7,8 bilhões — o encerramento das obrigações da Eletrobras com a Eletronuclear compensa.
“A principal vantagem não está no preço de venda do ativo (já que o mercado precifica a Eletronuclear em zero na avaliação da Eletrobras), mas na redução de risco na taxa de desconto da companhia”, diz outro trecho do comentário.
Ainda assim, a Eletrobras informou que deve registrar uma provisão de cerca de R$ 7 bilhões no balanço do terceiro trimestre, um impacto contábil negativo pontual, segundo avaliação da Ativa Investimentos.
O movimento é o mais relevante do plano de desinvestimentos da Eletrobras, que inclui a venda de ativos termelétricos para concentrar esforços em geração renovável e transmissão. Um dos negócios foi fechado neste mês com a J&F, que adquiriu a termelétrica de gás natural Santa Cruz, no Rio de Janeiro, por R$ 703,5 milhões.
“A venda da Eletronuclear é coerente com o foco estratégico da Eletrobras de se consolidar como a maior empresa de energia elétrica renovável do país após a privatização, reforçando a tese de otimização de capital e simplificação corporativa”, afirma a Ativa.
Outro ponto destacado pelos analistas é que a venda libera caixa e contingências na Eletrobras, permitindo investimentos mais alinhados às diretrizes da empresa e abrindo caminho para maior distribuição de dividendos. Em termos de alavancagem, o efeito é pequeno, de cerca de 0,2 vez.
“Embora seja cedo para afirmar se a empresa poderá distribuir dividendos extraordinários desse valor, estimamos que o dividend yield adicional poderia ser de aproximadamente 0,4%”, conclui o relatório do Itaú BBA.