Há um sentimento misto em relação aos resultados do Banco BV divulgados no fim da tarde de terça-feira, 6 de fevereiro. Por um lado, o CEO Gabriel Ferreira tenta passar uma mensagem de que o banco está próximo de finalmente superar os resultados obtidos em 2021. Por outro, os números consolidados do ano deixam dúvidas.

“Você provavelmente vai ver entre 2024 e 2025 o BV batendo recorde de resultado”, diz Gabriel Ferreira, CEO do Banco BV, em entrevista ao NeoFeed. O otimismo se dá por conta dos resultados do quarto trimestre do ano passado, quando o banco registrou lucro de R$ 302 milhões, 8,5% maior do que o registrado um ano antes.

Por outro lado, o lucro líquido recorrente de 2023 foi de R$ 1,15 bilhão. O resultado é 21,2% inferior ao registrado em 2022, quando a instituição financeira reportou lucro líquido de R$ 1,46 bilhão. O ROE caiu 3,1 pontos percentuais para 9,1%.

A justificativa para a queda está na inadimplência. “Começamos a apertar os padrões de concessão de crédito”, afirma o executivo. “E começamos a olhar para a virada do ano de forma otimista porque o pior da inadimplência para a pessoa física ficou para trás em várias linhas de negócio.”

A projeção de dias melhores passa pela queda na inadimplência do quarto trimestre, que recuou 0,3 ponto percentual para 5,2%. A expectativa é de que em 2024 o indicador de atrasos acima de 90 dias volte à média histórica, próxima de 4,5%.

No mais, o destaque do balanço trimestral se deu com o financiamento de automóveis, que impulsionou a carteira de crédito do banco para R$ 87,6 bilhões no período. A originação de crédito para a aquisição de veículo bateu o recorde de R$ 7,1 bilhões e levou o portfólio do segmento para R$ 47,2 bilhões, alta de 14,9% ano a ano.

A carteira do atacado, por sua vez, registrou queda. O valor de R$ 24,9 bilhões foi 2,9% menor do que o registrado no mesmo trimestre de 2022. A redução se deve a uma postura mais conservadora do banco para este tipo de produto em relação ao cenário econômico adverso.

Ferreira explica que o BV vem realizando ao longo dos últimos anos um reposicionamento em sua carteira de crédito para o atacado. Até 2018, o portfólio do banco era concentrado em empresas com faturamento entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões. “Quando o large corporate tem um problema, o problema é muito grande”, diz Ferreira.

Após crises envolvendo empresas como Camargo Corrêa e OSX, o BV passou a atuar com low corporate, focando em empresas com faturamento entre R$ 300 milhões e R$ 2 bilhões. “Hoje, os maiores clientes do BV representam apenas 3% do total da carteira. Se eu tiver um problema, não vai afetar o banco”, afirma.

O BV registrou receitas totais de R$ 2,76 bilhões no trimestre, alta de 8,3% ante o mesmo período do ano passado, e de R$ 10,6 bilhões em 2023, o que representou um aumento de 7,1% em relação a 2022.

Ferreira comentou também sobre a atuação do BV em relação ao mercado de startups. O veículo de corporate venture capital foi criado em 2018 para diversificar o portfólio de negócios. Desde então, o BV já investiu em 11 startups de segmentos como e-commerce, energia solar, buy now pay later, insurtech e open finance.

De acordo com o executivo, uma reunião anual define quais serão as teses de negócio que serão exploradas pelo veículo de investimento a cada período. Para 2024, o foco está em operações voltadas para tokenização, blockchain e desenvolvimento do Drex. “É o que estamos chamando de dinheiro do futuro”, afirma.