Na noite da terça-feira, 27 de junho, Marcio Cohen pôde, enfim, entregar uma tarefa que vinha preparando há mais de um ano. Fundador da Eleva, ele lançou oficialmente a primeira unidade da rede de escolas premium, bilíngues e integrais em São Paulo.

A estreia no mercado mais concorrido de educação também marcou o primeiro movimento de expansão após o Inspired Education comprar o ativo, em maio de 2022, por R$ 2 bilhões - entre dos investidores estava Jorge Paulo Lemann. Com o acordo, a rede se juntou às mais de 80 escolas que o grupo britânico, avaliado em € 5 bilhões, opera no mundo.

Parte agora dessa equação, a Eleva já tem definido a fórmula para ampliar o seu alcance. A matemática envolve um investimento de aproximadamente R$ 170 milhões na inauguração de duas unidades em 2024, incluindo a de São Paulo, além da abertura para aquisições.

“São Paulo era uma ambição antiga e uma etapa necessária do nosso projeto”, diz Cohen, CEO da Inspired Education no Brasil, ao NeoFeed. “O único motivo para não termos entrado antes foi o real estate. Demoramos para encontrar o lugar ideal.”

Instalado em uma área de 9,6 mil metros quadrados, o espaço que encerrou essa procura é o prédio que abrigava a Faculdade Belas Artes, na Vila Mariana, bairro da zona sul da capital. Entre obras de infraestrutura e outros recursos, o empreendimento concentrou um aporte de cerca de R$ 100 milhões.

O projeto arquitetônico leva a assinatura do brasileiro Miguel Pinto Guimarães e da dinamarquesa Rosan Bosch. Com dupla nacionalidade – brasileira e americana – e uma passagem de sete anos na direção da Chapel School, tradicional escola bilíngue de São Paulo, Lucy Nunes irá comandar a unidade.

A escola inicia sua operação em fevereiro de 2024 com mensalidades na faixa de R$ 8 mil e turmas da educação infantil ao ensino fundamental. O ensino médio será incorporado gradativamente ao colégio, cuja grade, das 8h às 16h, vai combinar o currículo brasileiro com programas internacionais.

Além das matérias tradicionais, a unidade terá atividades complementares e temáticas. Desde aulas de programação e de public speaking até esportes e artes. Em música, por exemplo, os alunos terão duas salas de aula e espaços individuais para praticarem suas habilidades.

Outro recurso serão os programas de intercâmbio com escolas da rede do Inspire no mundo. Cohen cita algumas das opções nesse leque. De cursos de moda, em Milão, passando por inglês e arte na Inglaterra até golfe na Espanha ou montanhismo na Costa Rica.

“Nossa projeção para o primeiro ano é ter 300 alunos”, afirma Cohen. “A unidade já pode receber mil estudantes, mas nossa estratégia é sempre começar pequeno para entender melhor o público.”

Pouco mais de um ano após desembarcar no Brasil, o Inspired tem 7,5 mil alunos e dez unidades no País. A Eleva está presente no Rio de Janeiro, no Recife e em Brasília. A operação inclui ainda as marcas Batutinhas, no Rio, Leonardo da Vinci, em Vitória (ES), e Gurilândia, em Salvador (BA).

Essa última bandeira está no centro de outro projeto greenfield. Com um investimento de aproximadamente R$ 70 milhões, a Gurilândia irá inaugurar, em 2024, uma segunda unidade num espaço de 15 mil metros quadrados em Pituba, bairro nobre de Salvador.

Expansão pelo Brasil

O Nordeste é uma das regiões no radar de expansão, em praças como Fortaleza (CE). Assim como Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e toda a região Sul. Essa tese estará restrita a capitais, com exceção de São Paulo, onde o mapa pode incluir uma segunda unidade na capital e cidades como Campinas.

Em todos os casos, a decisão pelo investimento passará por critérios como a quantidade de famílias de alta renda e a avaliação da concorrência. O plano é ocupar um espaço entre os colégios tradicionais dentro desse perfil e as escolas internacionais com atuação em cada mercado.

Com duas negociações em curso e em estágio avançado, o foco nos M&As são escolas premium, com boa infraestrutura, proposta pedagógica aderente, operação saudável e uma mensalidade compatível com essa oferta. “Não queremos comprar escolas que precisam ser recuperadas”, explica Cohen.

Entre escolas tradicionais e internacionais, não faltam nomes dispostos a endurecer essa disputa por com a Eleva e as demais marcas da Inspired por uma vaga na dianteira desse mercado. E, mesmo que com algumas diferenças em suas propostas pedagógicas, alguns deles estão com recursos no caixa.

É o caso da Red House International School, que, em agosto de 2022, recebeu um aporte de R$ 100 milhões Gama Capital. Antes, em 2020, a gestora já havia investido R$ 110 milhões na rede, que vem expandindo sua operação em São Paulo e tem presença ainda no Recife e em Curitiba.

Em termos de M&As, quem tem sido bastante ativa é a Inspira, grupo que tem entre seus investidores um fundo administrado pelo BTG Pactual. A empresa já investiu mais de R$ 1 bilhão em aquisições e conta com mais de 100 escolas, de diferentes perfis, em sua rede.

Entre outros exemplos, a lista inclui nomes como a Start Anglo, franquia de escolas bilíngues lançada há um mês pela Somos Educação. O maior rival, porém, é o Grupo SEB, do empresário Chaim Zaher, que, no modelo bilíngue, atua com marcas como Concept, Pueri Domus e Maple Bear.

Cohen ressalta que o acesso à rede global da Inspired abre caminho para aprendizados e trocas com escolas do mesmo perfil, o que dá um diferencial à operação. E o grupo, por sua vez, também está capitalizado. Em 2022, a empresa recebeu um aporte de € 1 bilhão da americana Stonepeak.

“Dinheiro não é problema, seja para investir em uma unidade ou na compra de uma escola”, diz Cohen. “Temos recursos para comprar em questão de semanas, meses. Desde que a oportunidade esteja no preço certo.”