No início de fevereiro, a americana Equifax soltou um comunicado ao mercado afirmando que havia fechado “um acordo definitivo para a aquisição da Boa Vista Serviços”, numa transação que avalia a companhia em R$ 4,3 bilhões. Mas, ao que parece, a conclusão desse negócio não será tão fácil quanto se imagina.

O NeoFeed apurou que um grupo de acionistas, que totalizam cerca de 40% de participação na companhia, entre eles a empresa de private equity TMG, com 21,59%, e outros que contam com entre 2% e 7%, acaba de enviar uma carta ao presidente do conselho de administração da Boa Vista, Alfredo Cotait Neto, questionando o deal.

Eles dizem que o preço da proposta é baixo e, além disso, reclamam de condições diferentes oferecidas a outros acionistas. Entre eles, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que é dona de uma posição relevante da companhia com uma participação de 30,04%.

Para a ACSP, que tem um voto de peso na assembleia e se comprometeu com a conclusão do negócio, foi oferecido um contrato de prestação de serviços por 15 anos e participação na futura empresa de capital fechado. Pelo contrato, a ACSP receberia R$ 14,5 milhões por ano corrigidos pelo IPCA anualmente.

Para que a compra da Boa Vista seja aprovada na assembleia geral extraordinária, ainda sem data para ocorrer, é preciso ter 50% dos votos mais um. “Tem saído notícias que o negócio está fechado, mas não tem nada definido”, diz uma fonte a par das negociações.

E uma venda, mesmo que seja concluída, não está isenta de uma disputa judicial. Afinal, há um conflito de interesses no deal. A Equifax, que é um dos maiores bureaus de crédito dos EUA e tenta fechar o capital da Boa Vista, tem 9,95% da empresa. Ou seja, tem voto de acionista com o interesse de compradora.

A proposta da Equifax, feita em dezembro do ano passado, foi de R$ 8,00 por ação com um prêmio de 70% sobre o preço de tela na época. “Em um período em que as ações no mundo inteiro estavam em baixa”, diz um analista que conhece a operação. “Os múltiplos na Bovespa estão 37% abaixo da média dos últimos 15 anos. Mas é uma questão de tempo para isso reverter.”

Em dezembro, tirando o gasto com banco de dados, uma prática das empresas do setor, a Equifax estava sendo negociada a múltiplos de 19,3 vezes o ebitda e ofereceu pela Boa Vista um múltiplo de 8,9 vezes o ebitda – o que vem sendo considerado baixo pelos acionistas que enviaram a carta ao conselho.

A tese deles é a de que a companhia é uma “joia rara” da bolsa. Em 2020, a companhia fez o IPO na B3 com as ações a R$ 12,20. Desde então, a receita da empresa cresceu e o lucro aumentou em um período de Covid e dificuldade econômica.

De janeiro a setembro de 2020, quando aconteceu o IPO, a Boa Vista teve um lucro líquido ajustado de R$ 37,8 milhões. No mesmo período de 2022, o lucro atingiu R$ 229,9 milhões. Trata-se de um salto de 508%. “Estão oferecendo R$ 4 a menos do que a ação valia no IPO e por uma empresa que hoje é muito melhor do que na época do IPO”, diz um gestor que conhece a companhia.

Os acionistas estimam que o preço ideal seria R$ 16,00 – valor 31,1% acima do negociado no IPO, o dobro do que foi oferecido pela Equifax e 109% maior do que o negociado no fechamento do mercado desta segunda-feira, 27 de fevereiro, quando o papel bateu em R$ 7,65.

Os acionistas alegam que a Boa Vista é a porta de entrada do mercado brasileiro para quem pretende dominar a América Latina. E há uma barreira de entrada muito grande nesse mercado. Não basta ter apenas tecnologia. É necessário um colossal banco de dados de, no mínimo, cinco anos. Além disso, não há outras opções disponíveis por aqui. Os acionistas da Boa Vista sabem e vão cobrar mais alto por isso.