Com a economia brasileira apresentando uma atividade baixa nos últimos anos, o tema do crescimento ganhou relevância dentro do Itaú Unibanco, considerando o peso que o banco tem no mercado brasileiro e o avanço da concorrência vinda de fintechs e bancos digitais para ganho de market share.
Para encarar esse cenário, de olho nos próximos 100 anos, o banco entende que o processo de transformação conduzido pela evolução de sua base tecnológica e na troca da visão estratégica, em que a experiência do cliente vem antes dos produtos oferecidos, cria as condições para não ficar refém da macroeconomia.
“Esse é um grande desafio [crescimento], porque um banco não consegue estar fora do ambiente econômico onde está inserido”, disse Pedro Moreira Salles, copresidente do conselho de administração do Itaú na quarta-feira, 19 de junho, durante o Itaú Day. "Temos crescido mais que a concorrência tradicional, mas abaixo de quem começa com base muito baixa e hoje cresce mais."
Em conversa com Roberto Setubal, com quem divide a presidência do board do Itaú, Moreia Salles afirmou que para aproveitar as janelas de oportunidades da economia, o banco não “pode tirar o olho da questão da eficiência”. “O jogo se dá olhando o numerador e o denominador, tendo a linha de receita crescendo um pouco acima das despesas”, disse Moreia Salles.
Para Setubal, o banco tem conseguido estabelecer algumas alavancas de crescimento para os próximos anos, muito ligadas à tecnologia. Ele destacou a criação do superapp para os clientes pessoa física, que vai “incorporar alguns milhões de clientes” à operação, um ganho que deve ser visto nos próximos 12 meses.
“Isso vai possibilitar uma aceleração da receita, porque estamos trazendo para a nossa plataforma clientes que tem uma ligação com o banco, mas por um produto como financiamento de imóvel, de carro, cartão de uma financeira que temos sociedade”, disse Setubal. “Ao trazer esses clientes que são monoproduto, podendo oferecer toda nossa gama de produtos, isso vai possibilitar um grande crescimento.”
A adoção da inteligência artificial (IA) pelo Itaú também ganhou destaque na conversa entre os copresidentes do conselho. Segundo Moreia Salles, o banco possui 250 projetos de IA, com boa parte deles voltados para ganho de eficiência, mas alguns começam já serem utilizados na ponta.
“Mas cada vez mais vemos projetos sendo incorporados na linha de receita, seja na asset, na visão produtos, começando a interagir com o cliente, ou no apoio dado ao cliente”, disse ele. “Quão mais amigável, simples, lógico e transparente for se relacionar com a enorme base de cliente que temos, mais rápido conseguimos fazer a transformação e crescer.”
Moreia Salles destacou ainda que um dos riscos para a organização é o “excesso de complexidade” e que os investimentos em tecnologia podem ajudar a companhia a ser mais ágil .
“No caso da tecnologia, saímos da fase de simplesmente consertar o legado, com 60% das áreas de produtos e serviços praticamente na nuvem, ganhando agilidade e capacidade de resposta”, disse. “Isso pode abrir uma vantagem competitiva para nós, que começamos a fazer isso há tempos.”
O tema do crescimento também foi assunto de Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, durante a sessão de perguntas e respostas, na parte final do evento. Segundo ele, o banco está bem posicionado nos diversos segmentos em que atua e que a palavra de ordem é crescer, mas com qualidade, levando em conta o cenário macro.
“Não é crescer a carteira [de crédito] e olhar a receita crescendo se o custo de crédito vir numa proporção muito maior e, por tanto, fazer uma má alocação do capital”, disse. “Olhamos o todo, o cliente e vemos qual a real capacidade que temos de crescer de forma sustentável.”
Maluhy disse ainda que o Itaú não quer ter ciclos de expansão de curto prazo, com crescimento vertiginoso e, na sequência, ser obrigado a explicar o custo do crédito, a margem financeira líquida. “Isso significa crescer quando tem oportunidade”, disse.
Ele destacou ainda que continua confiante em cumprir com o guidance de crescimento de carteira estabelecido para o ano, ainda que no primeiro trimestre, em termos anualizados, o Itaú tenha tido um desempenho um pouco abaixo do esperado. A expectativa é de que a carteira de crédito total expanda entre 6,5% e 9,5% no ano.
Os presidentes do conselho de administração do Itaú destacaram ainda a questão dos dividendos, afirmando que se trata de uma discussão permanente num momento em que o banco trabalha para crescer, de olho no longo prazo.
Segundo Moreira Salles, o banco não tem intenção de reter recursos “se não tiver uso alternativo melhor que distribuir aos acionistas” ou se não tiver um crescimento muito robusto do crédito. Neste caso, a distribuição pode ocorrer via dividendos ou recompra de ações.
“Nossos acionistas podem contar com isso à medida que o banco continuar performando nos patamares que está performando”, disse.
Maluhy, por sua vez, afirmou que “tudo leva a crer” que o banco deve fazer mais um pagamento extraordinário de dividendos, considerando temas como a perspectiva para a economia, as obrigações regulatórias e o nível de capital necessário para os próximos 12 meses. Ele não deu pistas de quanto poderá ser pago, nem o prazo.