Em meio ao processo para concretizar a listagem de suas ações nos Estados Unidos, a JBS se viu no meio de uma disputa ruidosa, no fim de fevereiro deste ano, com a notícia de uma ação movida pela procuradoria-geral do estado de Nova York contra a empresa.
No processo em questão, a procuradora-geral Letitia James acusa o grupo brasileiro de praticar greenwashing, ao explorar “os bolsos dos americanos comuns e a promessa de um planeta saudável para as gerações futuras”.
Segundo James, a meta da empresa de zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040 não estaria alinhada com o plano da empresa de ampliar sua produção e, por consequência, sua pegada de carbono.
Exatamente uma semana depois de vir à tona, o caso ultrapassou as esferas legais e ganhou as páginas do The Wall Street Journal, que publicou um editorial intitulado “O modelo de negócios antinegócios de Letitia James”, em que questiona os argumentos da procuradora.
O texto parte de um trecho da acusação de que a JBS, maior produtora mundial de carne bovina, havia lucrado “com suas atividades comerciais fraudulentas e ilegais em todo o estado de Nova York”. E prossegue:
“Por favor, diga, como? O seu argumento é que comer carne bovina é ruim para o clima e que a JBS enganou os consumidores para que comprassem os seus produtos, fazendo promessas excessivamente ambiciosas de redução de emissões. Seriamente. Esse é o caso”, escreve o jornal americano.
Na sequência, ao observar que James apontou o fato de a JBS não quantificar o volume de emissões de escopo 3 de fornecedores e clientes, o editorial ressalta que, em qualquer caso, nem a lei de Nova York nem a lei federal determinam que as empresas devem divulgar esses dados.
O jornal faz referência a uma outra afirmação da procuradora, a quem chama de “politicamente ambiciosa”, sobre as metas de emissões da JBS serem incompatíveis com o seu plano de aumentar a produção de carne.
“O Grupo JBS prevê aumento na demanda por seus produtos nas próximas décadas e pretende atender a essa demanda”, escreve James, em um trecho destacado pelo The Wall Street Journal, que acrescenta: “Portanto, na sua opinião, o crime da empresa é fazer o que é seu dever fazer: produzir carne para satisfazer a crescente procura pública”.
Outro ponto questionado é quando a procuradora afirma que as emissões da JBS aumentarão, invariavelmente, porque não existe tecnologia para reduzir o metano produzido pelas vacas. E que comprar licenças de carbono para compensar essas emissões também seria excessivamente caro.
“Ela está certa ao dizer que não seriam baratos, mas as mesmas críticas se aplicam ao compromisso de zero emissões líquidas do estado de Nova York. Se a JBS cometeu fraude, o mesmo aconteceu com os democratas que controlam Albany”, frisa um outro trecho do texto.
O editorial prossegue salientando que o mesmo se aplicaria ao lobby climático que deturpou a visão de que o mundo pode reduzir suas emissões a zero simplesmente banindo os combustíveis fósseis. E afirma: “Desculpe, isso não será suficiente. As pessoas também terão de comer muito menos carne, entre outros sacrifícios forçados”.
O jornal também faz menção ao fato de James ter acusado a JBS de violar a Lei Executiva da Seção 63 (12), a mesma que a procuradora usou para processar o ex-presidente Donald Trump por “supostamente fraudar bancos ao inflar seus ativos”.
Ao citar esse caso, o editorial ressalta que os tribunais interpretaram a lei abrangente no sentido de prever a restituição de “ganhos ilícitos”, mesmo quando não há vítimas que perderam dinheiro. E que, assim como na ação contra Trump, os recursos do processo da JBS iriam para o Estado de Nova York.
“Nova York está lutando para pagar o crescente Medicaid e os cuidados com migrantes. A resposta da Sra. James é saquear negócios que são impopulares entre a esquerda. Quem é o próximo?”, questiona o jornal.
O editorial cita ainda outras ações movidas recentemente por James, como o caso envolvendo a AT&T, na semana passada, durante a interrupção dos serviços móveis da operadora.
Outro exemplo é o processo contra a PepsiCo, em novembro, por vender alimentos em embalagens descartáveis sem alertar os consumidores sobre os riscos dessa prática.
“O modelo político de negócios da Sra. James é processar empresas por fazerem negócios que ela não gosta. O seu processo na JBS também ilustra como a esquerda planeia explorar a regra de divulgação climática proposta pela Securities and Exchange Commission”, observa o jornal, que finaliza:
“As empresas serão forçadas a comunicar publicamente as suas emissões, o que as abrirá a processos por parte de advogados e políticos queixosos por alegadas declarações falsas. Que barulho”.