Desde o ano passado, quando o governo federal reformulou o programa Minha Casa, Minha Vida, as perspectivas têm se mostrado mais favoráveis para boa parte das empresas de construção e incorporação voltadas ao segmento de baixa renda. Já nas últimas semanas, duas novidades reforçaram esse cenário.

A primeira, o RET 1, reduz de 4% para 1% a alíquota de imposto cobrada de imóveis da faixa 1 do programa. Já a segunda, o FGTS Futuro, permite que trabalhadores com carteira assinada e que recebem até dois salários mínimos usem depósitos futuros do FGTS para comprar suas casas próprias.

Esses dois fatores, aliados a outros componentes específicos de cada empresa, estão no centro de atualizações divulgadas pelo Santander na terça-feira, 2 de abril, para dois dos principais players nesse espaço: a Tenda e a MRV.

No caso da MRV, o banco manteve a recomendação outperform (acima da média do mercado), mas elevou o preço-alvo da ação, de R$ 13,50 para R$ 14, citando a contínua melhora nas métricas operacionais e na geração de caixa, que devem ser aprimoradas com o RET 1 e o FGTS Futuro. O papel abriu o pregão de segunda, 2, aos R$ 7,66, o que indica um potencial de valorização superior a 82%.

Mas as principais mudanças envolveram a Tenda. O Santander elevou a recomendação da incorporadora, de neutro para outperform, e o preço-alvo do papel, de R$ 13 para R$ 17, ressaltando a maior confiança no turnaround da operação, novamente, em função do RET 1 e do FGTS Futuro. Com o preço de abertura de R$ 12,55, a potencial valorização para o papel é de mais de 91%.

“Mantemos nossa perspectiva positiva para as construtoras de baixa renda, pois acreditamos que as recentes mudanças no Minha Casa Minha Vida continuarão a impulsionar positivamente a demanda do setor”, escreveram os analistas Fanny Oreng, Antonio Castrucci e Matheus Meloni.

O trio acrescenta que a recente implementação do RET 1 e do FGTS Futuro deverá melhorar ainda mais as condições para os players com grande exposição a faixa 1 do programa. Na MRV, cerca de 35% das vendas estão nesse segmento e, na Tenda, aproximadamente 60%.

Entre outros fatores, as revisões também incorporam indicadores recentes e outros dados da dupla. Na Tenda, além de a ação estar sendo negociada com um bom desconto, o Santander parte do balanço do quarto trimestre de 2023 para atualizar algumas de suas projeções para a operação.

O banco está elevando, por exemplo, as estimativas de lançamentos e de pré-vendas para 2024 em 9% e 7%, respectivamente, com a percepção de que a empresa vai acelerar essas duas frentes a partir das mudanças recentes no Minha Casa Minha Vida.

Em outra frente, os analistas projetam agora um lucro líquido de R$ 123 milhões para 2024 e de R$ 350 milhões em 2025, o que representa saltos de 67% e 29%, respectivamente, em relação às suas estimativas anteriores.

“Embora a margem bruta da Tenda esteja se recuperando mais lentamente do que prevíamos, acreditamos que a implementação do RET 1, FGTS Futuro e o potencial aumento dos limites das faixas de renda ao longo dos próximos meses poderão acelerar o processo de recuperação”, aponta o banco.

O Santander ressalta ainda questões como a perspectiva de melhoras na margem bruta, maior rentabilidade nas vendas das novas safras de empreendimentos e provisões potencialmente mais baixas na operação.

“Além disso, também vemos riscos de alta em nossas estimativas de ganhos para 2024-26 caso a cidade de São Paulo contrate mais unidades no âmbito do programa Pode Entrar, já que a Tenda ainda tem um pipeline de cerca de R$ 523 milhões que poderia ser contratado em 2024”, acrescentam os analistas.

O valor atrativo das ações também embala a análise sobre a MRV, que também teve como base o balanço do quarto trimestre de 2023 e o guidance apresentado pela empresa durante o MRV Day, realizado no último dia 15 de março.

Entre outros indicadores, o Santander está ampliando em cerca de 4% as projeções para o Ebitda ajustado da companhia em 2025 e 2026. Já no lucro líquido, a estimativa é de R$ 296 milhões, em 2024, e R$ 929 milhões em 2025, queda, respectivamente, de 9% e alta de 3% em relação ao esperado anteriormente.

O banco frisa ainda que vê um risco limitado de queda nas ações da MRV e ressalta que, atualmente, os papéis da empresa estão precificados em um cenário excessivamente conservador. E pontua que a manutenção da recomendação de outperform reflete a diversidade de negócios da companhia.

As ações da MRV têm queda de 32,2% em 2023 e a empresa está avaliada em R$ 4,2 bilhões. Já as ações da Tenda, que está avaliada em R$ 1,5 bilhão, acumulam uma desvalorização de 14,8% no ano.