Em dezembro de 2021, o Nubank escolheu dois caminhos para o seu tão aguardado IPO. O primeiro foi tocar o sino na Bolsa de Nova York. Em paralelo, a empresa fez sua listagem no Brasil, a partir da negociação de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), com o discurso de democratizar a bolsa de valores brasileira.

O modelo da dupla listagem se mostrou bem-sucedido. A empresa captou cerca de US$ 2,8 bilhões e foi avaliada em US$ 41,5 bilhões, uma cifra, na época, superior aos valores de mercado do Itaú Unibanco e do Bradesco. Além de atrair um volume recorde de 815 mil investidores do varejo com suas BDRs.

Mas, dez meses depois, o banco digital fundado por David Vélez está recuando em uma dessas vias. A companhia acaba de divulgar que o seu Conselho de Administração decidiu dar início ao processo de descontinuidade de seu programa de BDRs Nível III.

Na prática, o Nubank deixará de ser uma companhia aberta listada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no Brasil, e seguirá com o capital aberto apenas nos Estados Unidos. Entretanto, a empresa continuará a negociar BDRs na B3, mas em outra categoria, o BDR Nível I, emitido por empresas estrangeiras sem que seja necessário que a operação em questão seja listada no País.

No fato relevante divulgado na noite desta quinta-feira, 15 de setembro, a companhia ressaltou que a decisão foi tomada com o racional de “maximizar a eficiência e minimizar redundâncias consequentes de uma companhia aberta em mais de uma jurisdição.”

O fato é que, à parte desse discurso oficial, o anúncio dessa quinta-feira também encontra, possivelmente, outra motivação: a baixa liquidez dos BDRs da empresa. Conforme apurou o NeoFeed, em setembro, por exemplo, o volume médio negociado desses ativos ficou em torno de 5%, bem abaixo do volume de ações da companhia na Bolsa de Nova York.

De acordo com dados do Trademap sobre a liquidez das ações do Nubank e de outros bancos brasileiros, em agosto, o volume financeiro médio diário das BDRs do Nubank foi de R$ 38,8 milhões.

No mesmo período, o montante das ações preferenciais do Itaú Unibanco foi de R$ 878,5 milhões, seguido pelas ações ordinárias do Banco do Brasil, com R$ 798,1 milhões; as ações preferenciais do Bradesco, com R$ 576,9 milhões; e as units do BTG Pactual, com R$ 249,8 milhões

Em abril, o Nubank alcançou sua média mais baixa no levantamento, de R$ 17,7 milhões. Nesse intervalo, as ações preferencias do Itaú Unibanco registraram um volume médio de R$ 812,8 milhões e as do Bradesco, de R$ 761,6 milhões.

Motivações à parte, o plano será submetido à aprovação da B3 e o Nubank observou que irá divulgar, em breve, mais detalhes sobre os trâmites. Caso seja aprovado, ele só poderá entrar em vigor a partir de 9 de dezembro, quando a empresa completa um ano como companhia aberta, prazo que é um dos requisitos para que uma companhia possa negociar BDRs Nível I.

Com a aprovação, os detentores das BDRs Nível III terão três opções. A primeira, manterem-se como acionistas a partir do recebimento de ações ordinárias classe A negociadas na Bolsa de Nova York.

Esse expediente só será válido para investidor que tiver, no mínimo, 6 BDRs Nível III, que equivalem a uma ação ordinária classe A, e uma conta ativa em uma corretora nos Estados Unidos.

Uma segunda alternativa na mesa será manter-se como detentor de BDRs do Nubank por meio da troca, na proporção de um para um, para os BDRs Nível I. E uma terceira opção é vender esses ativos na bolsa brasileira ou dos Estados Unidos, em processo de venda facilitado a ser instituído pela empresa.

A alegação do Nubank para a deslistagem no Brasil dialoga com o discurso que vem sendo adotado desde que a empresa abriu capital e passou a ficar sob os olhares atentos dos investidores. Nas comunicações com o mercado e nas conferências com analistas, a palavra eficiência vem se tornando um mantra da companhia.

Parte dessa preocupação reside em um dos principais questionamentos sobre a operação: a última linha do balanço tingida de vermelho. Quando abriu capital, o prospecto da empresa mostrava um prejuízo de R$ 528 milhões de janeiro a setembro de 2021.

No segundo trimestre deste ano, o Nubank apurou uma perda de US$ 29,9 milhões, um avanço em relação ao prejuízo reportado três meses antes, de R$ 45,8 milhões. Mas uma piora na comparação com a perda de US$ 15,8 milhões registrada em igual período de 2021.

Hoje, em Nova York, as ações do Nubank encerraram o pregão cotadas a US$ 5,51, alta de 1,66%. Em 2022, os papéis acumulam uma desvalorização superior a 41%. A empresa está avaliada em US$ 25,7 bilhões.