Nos últimos dias, o consenso entre analistas de bancos era o de que o Nubank apresentaria um lucro líquido de US$ 159 milhões no trimestre. Mas a fintech de David Vélez surpreendeu e bateu – de longe – as estimativas. É o que revelam os números que acabam de ser divulgados pela empresa.
“Performamos muito melhor do que o mercado esperava”, diz David Vélez, cofundador e CEO do Nubank, ao NeoFeed. O banco apresentou um lucro líquido de US$ 224,9 milhões contra um prejuízo de US$ 30 milhões no mesmo período do ano passado; a receita cresceu 60% em relação ao trimestre passado atingindo US$ 1,9 bilhão e o ROE ajustado da holding atingiu 19%. O índice de Basileia, por sua vez, ficou em 20,2%.
No primeiro trimestre, o Nubank havia divulgado o ROE do Brasil separado, o que gerou uma certa polêmica no mercado em um relatório divulgado pelo Santander. “Desta vez juntamos todas as operações e, mesmo com as operações de Colômbia e México, com ROEs negativos, apresentamos os 19%”, diz Vélez. Sobre as operações nos outros países, ele diz que “vão continuar dando prejuízo por um tempo e continuará investindo nelas.”
No Brasil, o banco continua em franca expansão tanto na base de clientes como de produtos. Dos 85 milhões de clientes do Nubank, 80 milhões estão no País e o banco digital vem adicionando 1,5 milhão de clientes por mês – o que totalizou 4,6 milhões de clientes no trimestre.
Vélez explica que o Nubank vem extraindo mais valor porque, cada vez mais, os clientes estão usando mais serviços e produtos do banco. “Há quatro anos, precisávamos de 40 meses para que a maior parte da nova safra de clientes usassem o Nubank como a conta principal. Hoje, em cinco meses conseguimos isso”, afirma. “Uma vez que viramos o banco deles, os clientes usam mais produtos.”
Hoje, a fintech chega a 4 produtos por cliente em cinco ou seis meses. Isso leva, evidentemente, a maior monetização. A receita média mensal por cliente ativo (Arpac, na sigla em inglês) saltou de US$ 8,60, no primeiro trimestre do ano, para US$ 9,30 neste trimestre. “Nos clientes que estão conosco há mais de 60 meses, temos uma monetização de US$ 23”, afirma Vélez.
“Já somos uma das instituições financeiras mais eficientes da América Latina”, diz Vélez. A eficiência operacional é de 35,4%. Há 12 meses, esse índice era de 58%. Isso significa que consegue atingir mais clientes gastando menos do que os concorrentes. “Usamos dados e tecnologia para tomar decisões de crédito.”
A carteira de crédito do Nubank saiu de US$ 12,8 bilhões para US$ 14,8 bilhões no trimestre. O empréstimo pessoal saltou de US$ 2,3 bilhões para US$ 2,8 bilhões. No cartão de crédito, de US$ 10,5 bilhões para US$ 12 bilhões. O índice de inadimplência de 15 a 90 dias caiu de 4,4% para 4,3%. No caso do índice acima de 90 dias, subiu de 5,5% para 5,9%. “Estamos navegando muito bem esse ambiente de inadimplência”, diz Vélez.
Além de trazer mais produtos para a mesa como conta, investimentos, seguro, empréstimo pessoal, adquirência, PJs, entre outros, Vélez credita o crescimento também a uma construção de confiança de marca. “Poder mostrar a rentabilidade foi um gatilho muito importante para um segmento de clientes que ainda desconfiavam do banco”, diz ele. “Era um desafio quando não gerávamos lucro.”
O segmento ao qual ele se refere é o cliente de alta renda. São pessoas com renda entre R$ 15 mil e R$ 25 mil por mês e que podem investir entre R$ 100 mil e R$ 150 mil. Estima-se que existam 7 milhões de brasileiros que se encaixam nessa faixa. “Temos 60% desses clientes, mas não usam o Nubank como o banco principal”, diz Vélez. E prossegue. “É o cartão número dois, o banco do filho.”
Para suprir essa lacuna, o Nubank se prepara para fazer barulho com a marca Ultravioleta, voltada para os clientes de alta renda, com uma campanha robusta no quarto trimestre. “Estamos preparando muitos benefícios para serem lançados”, afirma.
No crédito consignado, outra frente que o Nubank aposta, Vélez diz que a fintech ainda está em fase de testes, melhorando o fluxo e já emprestou algumas centenas de milhões de reais. “Mas ainda não escalamos a uma velocidade de cruzeiro”, afirma. E ressalta. “Vamos mostrar o poder de ser o jogador mais eficiente do mercado oferecendo o menor juros do mercado. Estamos com 1,35% ao mês.”
Ainda estão no horizonte da companhia, o consignado de FGTS, novas modalidades de seguro – como o de residência, lançado na semana passada – e venda de viagens e passagens aéreas dentro do marketplace do Nubank. No México, onde lançou a Nuconta há dois meses, já alcançou um milhão de usuários. “Está crescendo mais rápido do que no Brasil.”
Mesmo com todos esses números que refletem um crescimento consistente, há um ponto de interrogação que pode mexer com o papel da fintech. Trata-se de uma possível mudança nas regras dos juros do rotativo do cartão de crédito. O governo estuda estipular um teto para os juros.
Um estudo do UBS BB aponta que o Nubank seria o maior prejudicado caso isso aconteça, a fintech teria um impacto negativo de 4% em sua margem financeira. No ebitda, o impacto negativo seria de 20%. Indagado sobre isso, Vélez diz que o Nubank vem conversando com os players do mercado e com os reguladores.
“Uma decisão unilateral seria muito ruim para o Brasil. Criar um teto vai tirar muito cartão do mercado”, diz ele. “Estima-se que cerca de 60 milhões de brasileiros seriam cancelados, vai excluir muita gente do sistema financeiro.” Segundo Vélez, há outras ideias na mesa como reformular o rotativo com juros menores. “Precisa de uma solução elegante e com muito cuidado.”
Cotada a US$ 7,91 na bolsa americana, a ação do Nubank acumula alta de 122,2% no ano. Em 12 meses, o papel sobe 43,3%. O valor de mercado da instituição financeira é de US$ 37,1 bilhões.