A gigante da inteligência artificial Nvidia surpreendeu o mercado nesta quinta-feira, 18 de setembro, ao anunciar um investimento de US$ 5 bilhões na fabricante de chips americana Intel, que vem passando por um período crítico, tentando recuperar sua relevância no disputado mercado de tecnologia.
A parceria prevê que a Intel desenvolverá CPUs x86 personalizadas para a Nvidia, integradas às plataformas de infraestrutura de IA da empresa. Também serão criados sistemas de chips para os chamados “chiplets” usados em PCs.
Embora o acordo não envolva as cobiçadas GPUs da Nvidia, utilizadas em treinamentos de IA, ele representa um avanço significativo para a Intel.
“Juntos, expandiremos nossos ecossistemas e lançaremos as bases para a próxima era da computação”, afirmou o CEO da Nvidia, Jensen Huang. Após o anúncio, as ações da Intel dispararam, chegando a subir 30% no pré-mercado, enquanto os papéis da Nvidia valorizaram 3%.
O investimento chega semanas após o governo dos Estados Unidos converter US$ 9 bilhões em subsídios prometidos em participação acionária, tornando o Departamento de Comércio o maior acionista da Intel, com 10% de participação. A iniciativa é parte de um esforço coordenado pelo governo de Donald Trump para revitalizar a capacidade de produção de chips no país.
Além da Nvidia, o Softbank, de Masayoshi Son, também apostou na recuperação da Intel, investindo US$ 2 bilhões no mês passado. Para analistas, essas movimentações representam uma guinada histórica para a empresa, que vinha enfrentando prejuízos bilionários e dificuldades em manter sua competitividade.
“Estas foram semanas de ouro para a Intel, depois de anos de sofrimento e frustração para os investidores”, afirmou Dan Ives, diretor da Wedbush Securities, em nota a clientes.
Nos bastidores, o acordo também revela uma complexa rede de interesses políticos. Executivos do setor vêm dialogando com o governo Trump sobre formas de apoiar a Intel, enquanto Huang, o CEO da Nvidia, intensificou articulações nos Estados Unidos e na Europa buscando autorizações para exportar chips avançados à China.
Recentemente, Trump autorizou a exportação do chip H20, da Nvidia, anteriormente restrito, em troca de 15% das vendas. A China, por sua vez, orientou empresas locais a evitarem o produto, numa possível estratégia para pressionar o acesso a versões mais avançadas.
A expectativa é que, com o apoio do setor privado e do governo, a Intel consiga se recuperar. A fabricante de chips vem vivendo a pior crise de sua história, ficando para trás em relação à concorrência no desenvolvimento de microprocessadores para IA, a ponto de se tornar alvo de outras companhias e fundos.
Este ano, a empresa foi liderada por dois executivos interinos, que assumiram o comando em dezembro depois da demissão de Patrick Gelsinger. A nomeação de Lip-Bu Tan, em março, como novo CEO – o quarto em sete anos – trouxe esperança de recuperação, mas ele inicialmente foi alvo de críticas por parte de Trump por supostos vínculos com a China.
A entrada em cena do Softbank, no mês passado, anunciando um investimento de US$ 2 bilhões na compra de aproximadamente 87 milhões de ações ordinárias da companhia americana - o equivalente a uma participação de cerca de 2% - foi decisiva para levar Trump a se acertar com o CEO da Intel e mirar a aquisição de 10% da companhia pelo governo americano.
O Softbank disse que o investimento na Intel se baseia em sua visão de longo prazo de possibilitar a “revolução da inteligência artificial”, acelerando o acesso a tecnologias avançadas que dão suporte à transformação digital, computação em nuvem e infraestrutura de última geração.
A aproximação com a Intel já vinha em curso há mais tempo, como parte de uma estratégia do Softbank para criar uma alternativa à Nvidia, na qual o grupo japonês também investe.
Ao mesmo tempo, um acordo ajudaria a Intel a ganhar terreno na produção de semicondutores para inteligência artificial, um espaço hoje amplamente dominado, por meio da fabricação para terceiros, pela Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC).
Nos números mais recentes, relativos ao segundo trimestre, a Intel reportou um prejuízo líquido de US$ 2,9 bilhões, contra a perda de US$ 1,6 bilhão registrada em igual período um ano antes. A receita, por sua vez, ficou estacionada em US$ 12,9 bilhões.