A A.P. Moeller-Maersk, gigante dinamarquesa de transporte e logística, divulgou nesta quinta-feira, 4 de maio, seus resultados do primeiro trimestre que apontam para uma forte queda de receita, indicando que o ciclo de crescimento de volumes de fretes para atender à demanda global pós-pandemia chegou ao fim.

O grupo dinamarquês, que inclui operações de terminal e serviços de logística junto com seu negócio de transporte de contêineres Maersk Line, registrou uma queda do lucro operacional de dois terços em comparação com o ano anterior, registrando US$ 2,3 bilhões. A receita do grupo no primeiro trimestre caiu 26% em relação a 2022.

Os resultados da unidade de transporte reforçam a queda na demanda e uma desaceleração iminente na economia global. O grupo dinamarquês responde por um em cada cinco contêineres transportados pelo mar, cerca de 12 milhões de unidades.

A receita desse segmento caiu 37%, impulsionada por uma queda de 9,4% nos volumes de contêineres em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e pela erosão dos preços nos mercados da Ásia-Europa e transpacífico.

O segmento em que a Maersk atua reflete com precisão a oscilação do comércio global de produtos. O transporte de contêineres passou por um boom extraordinário após a primeira onda da pandemia de Covid-19 em 2020, com o setor ganhando mais dinheiro em três anos do que nas seis décadas anteriores em meio a um apagão logístico - faltaram navios e contêineres para atender a demanda.

O custo dos fretes oscilou de acordo com o avanço do coronavírus. Para se ter uma ideia, o custo médio de frete de um contêiner de 40 pés da China para o Brasil alcançou US$ 13 mil no final de 2021, com forte demanda.

No começo da pandemia, nos primeiros meses de 2020, em meio ao lockdown global, o valor dos fretes spot desabou para US$ 400. Na retomada, após disparar para até US$ 17 mil, baixou para cerca de US$ 10 mil no segundo semestre de 2022. Hoje, está variando entre U$ 1,5 mil e US$ 2,5 mil.

Depósitos cheios

Os números mostram que os depósitos de contêineres - usados para abrigar os contêineres após serem descarregados - agora estão lotados ou cheios, num indicativo da redução de encomendas internacionais. Isso explica a queda de 37% nas taxas de frete registradas pela Maersk no primeiro trimestre.

Dois fatores reforçam essa redução de demanda. Embora a reabertura da China tenha dado algum impulso a novos pedidos, as empresas ainda mantêm estoques em excesso de produtos encomendados na retomada pós-pandemia.

Por outro lado, a inflação persistente nos Estados Unidos e Europa, o aumento das taxas de juros e dos temores sobre uma recessão iminente também reduziram o ímpeto das famílias e empresas quanto aos gastos.

“Até agora não vemos um movimento forte em direção à normalização. Alguns clientes estão chegando ao fim da redução de estoque, mas não é consistente”, disse o presidente-executivo da Moeller-Maersk, Vincent Clerc, ao anunciar os resultados do grupo.

O CEO da Maersk, por sinal, acredita que o primeiro trimestre provavelmente será o mais forte do ano, “já que os clientes renegociam gradualmente os contratos de longo prazo a taxas mais baixas”.

O grupo dinamarquês não é o único a enfrentar problemas. A Mediterranean Shipping Company, líder do mercado, e outras transportadoras marítimas estão se preparando para um 2023 difícil, com queda média de 30% em sua capacidade.

Os navios contratados pela Maersk, por exemplo, começaram a navegar lentamente, reduzindo as velocidades de navegação para economizar no consumo de combustível. A gigante dinamarquesa também diminuiu o número de embarcações que freta, numa tentativa de minimizar os custos.