Foram quase 20 anos no Google. Primeiro, como CEO e presidente-executivo da empresa, entre 2001 e 2015. Depois, nos cinco anos seguintes, como presidente-executivo e consultor da Alphabet, holding que passou a abrigar a gigante de buscas e os diversos negócios desenvolvidos no seu entorno.
Com esse currículo, Eric Schmidt tem bastante propriedade para falar sobre a companhia, mesmo fora da operação desde 2020. E, ao que tudo indica, o executivo de 69 anos não está nada animado com os passos da sua antiga empresa na principal e mais nova corrida do mercado de tecnologia.
Segundo o The Wall Street Journal, em uma palestra recente realizada na Universidade de Stanford, Schmidt disse que o Google está perdendo a corrida da inteligência artificial. E foi além, ao eleger um culpado por essa situação: o home office.
“O Google decidiu que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ir para casa mais cedo e trabalhar de casa era mais importante do que vencer”, afirmou ele. “A razão pela qual as startups funcionam é porque as pessoas trabalham muito.”
Reforçando esse viés, Schmidt ressaltou que o trabalho presencial é fundamental e necessário para que uma empresa seja bem-sucedida, especialmente em um cenário extremamente competitivo como o das startups. E aconselhou os alunos de Stanford:
“Se todos vocês saírem da universidade e forem fundar uma empresa, vocês não vão deixar as pessoas trabalharem de casa e virem apenas um dia por semana se quiserem competir com outras startups”, acrescentou.
Com suas falas, o ex-CEO do Google engrossou um coro já adotado por outros presidentes e empresários no mercado americano. Entre eles, Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan, e Elon Musk, o bilionário por trás da Tesla e de negócios como o X e a SpaceX.
No caso do Google, após a adoção do home office no auge da pandemia e de políticas mais flexíveis em 2021, quando anunciou que cerca de 20% dos funcionários teriam permissão para trabalhar remotamente, as políticas de retorno aos escritórios voltaram a ser mais rigorosas a partir de 2022.
Os comentários de Schmidt em Stanford, por sua vez, vieram na esteira de uma pergunta sobre como ele via o Google posicionado na competição com a OpenAI. Dona do ChatGPT, a empresa ganhou fama, atraiu bilhões de investidores e se consolidou como o principal nome por trás da inteligência artificial.
Essa escalada da OpenAI, que teve início há cerca de dois anos, vem obrigando o Google e outros grandes players de tecnologia a se movimentarem para ocuparem seu espaço nesse novo campo de batalha.
No caso da gigante de Mountain View, as armas nessa disputa estão concentradas na Gemini, plataforma baseada em inteligência artificial generativa, que, até o momento, não rendeu grandes frutos para a empresa nessa trincheira.
O Google tem visto, inclusive, sua mais nova rival tentar avançar em um front no qual, historicamente, a empresa sempre reinou soberana. Há três semanas, a OpenAI anunciou o lançamento de uma versão de teste de seu próprio mecanismo de buscas, batizado de SearchGPT.
Antes, em maio, a Microsoft, maior investidora da OpenAI, informou que o Bing, seu serviço de buscas, havia sido embarcado na versão do ChatGPT Plus.