O investidor David Rubenstein é um ícone do private equity, mas só recentemente passou a ser uma pessoa mais conhecida fora de seu círculo de atividade.
Sua popularidade cresceu a partir de 2016, quando ele passou a apresentar o David Rubenstein Show, no canal de televisão Bloomberg. Agora, ele diz que é parado nas ruas por conta das entrevistas que faz com os principais executivos e empresários dos Estados Unidos, como Bill Gates, Jeff Bezos ou Marc Benioff, entre tantos outros.
Mas a fama de Rubenstein, bem como sua fortuna, vai muito além de seu show. Ele é o chairman e fundador do Carlyle, um dos maiores grupos de private equity no mundo, que tem mais de US$ 200 bilhões em ativos sob gestão.
Nesta segunda-feira, 8 de maio, Rubenstein participou de uma live com André Esteves, controlador do BTG Pactual. Na ocasião, foi a vez de Esteves ser o entrevistador – algo que já tinha acontecido, em setembro do ano passado, durante a CEO Conference, organizada pelo banco brasileiro, em Nova York.
Rubenstein compartilhou sua visão deste momento. Disse que o mundo está numa recessão e que o retorno aos patamares anteriores ao da pandemia talvez demore mais do que o mercado imagina.
“Os mercados estão muito otimistas, mas eu estou cético. Por exemplo, o mercado de ações no EUA está mais ou menos no mesmo ponto de antes da Covid-19. E não parece que a economia vai estar onde estávamos em um mês ou dois.”
Por outro lado, Rubenstein se disse surpreso com os protestos antirracistas nos Estados Unidos, mas feliz com a reação. "As mudanças sociais não acontecem da noite para o dia. Mas claramente ocorreu uma mudança nas empresas dos EUA, que estão levando mais a sério essa questão. Isso é um certo progresso”, afirmou.
O NeoFeed selecionou alguns trechos da fala de Rubenstein. Acompanhe:
Mercado de ações
“Tecnicamente ainda não estamos numa recessão, pois os dados do segundo trimestre ainda não saíram. Mas estamos numa recessão. E quando você entra numa recessão, em geral, demora de três a quatro anos para se voltar para o pico de onde estávamos. Não sei se conseguiremos voltar ao pico em um ano.
Mas não há dúvida de que as pessoas estão ansiosas para voltar ao trabalho e estão cansadas de ficar em casa. Mas mesmo com a volta ao trabalho, não há garantia de que as empresas vão recontratar. Porque as empresas não sabem se as vendas vão voltar e se elas vão precisar das pessoas.
Acredito, sim, que o mercado de ações está à frente de onde a economia, de fato, está. Os mercados estão muito otimistas, mas eu estou cético. Por exemplo, o mercado de ações no EUA está mais ou menos no mesmo ponto de antes da Covid-19. E não parece que a economia vai estar onde estávamos em um mês ou dois."
Bolha de ativos
"Desde a Segunda Grande Guerra, há, em média, uma recessão a cada sete anos. E elas duram de três a quatro trimestres. Como não gostamos de recessão, fazemos o possível para evitar. Essa é muita grave e estamos fazendo tudo o que podemos para evitar. Mas os ativos vão aumentar de preço. Temos muitas bolhas. O dinheiro não é de graça. Se o dinheiro é emprestado de graça (com taxas zero), as empresas vão comprar a preços muito elevados.
Quando comecei o Carlyle, há 33 anos, se comprava uma empresa com múltiplos de seis a sete vezes. Hoje, para o mesmo tipo de ativo, o múltiplo é de 13, 14, 15 vezes. É ótimo com essas taxas baixas. Mas é preciso eliminar as bolhas e não se pode subsidiar o mundo com taxa zero. Esses valores vão cair e teremos o rompimento de algumas bolhas."
Relação Estados Unidos e China
"Durante a maior parte do tempo, a China tem sido um líder global. Apenas nos últimos anos, ela perdeu essa liderança. Mas, certamente, se tornará líder novamente. Os Estados Unidos já fizeram grandes ações para ajudar a China, criaram grandes parcerias e alianças. Mas os Estados Unidos ficaram dependentes da China na cadeia de suprimentos. (Donald) Trump não estava muito feliz e começou uma guerra de tarifas.
Essa guerra é bastante modesta. Se ele for reeleito, vai prosseguir com as negociações. E mesmo se não for, as negociações vão continuar. Antes das eleições, as discussões vão ficar mais intensas. O Trump vai culpar a China pela Covid. Vai jogar toda a culpa na China. Os democratas culpam a China pelos direitos humanos. O Trump não foca muito nisso.
Mas a China é inteligente e perspicaz e vai esperar passar as eleições e ver uma forma de negociar com os EUA. Já disse que, fora os Estados Unidos, a China é o maior lugar para se investir. São 1,4 bilhão de pessoas."
Protestos antirracistas nos EUA
"Abolimos a escravidão em 1863, mas continuamos com muitos problemas de discriminação. Isso não será resolvido da noite para o dia. Fiquei muito surpreso com os protestos. Por que foi tão grande? Talvez o vídeo fosse muito descritivo. E as pessoas queriam sair de casa. Era um motivo para mostrar a indignação. As pessoas queriam mostrar que estão lutando para tornar a sociedade mais equitativa e querem acabar com o racismo. Fiquei surpreso, mas fiquei contente que isso tenha ocorrido. As mudanças sociais não acontecem da noite para o dia. Mas claramente ocorreu uma mudança nas empresas dos EUA, que estão levando mais a sério essa questão. Isso é um certo progresso."
A indústria de private equity
"Esse é um negócio em que os investidores, entre três e cinco anos, conseguem taxas de retorno muito acima dos mercados públicos. Nos últimos 20, 30, 40 anos têm sido assim. Quando comecei o Carlyle, havia 30 empresas de private equity. Hoje, são mais de 8 mil. E vai continuar sendo assim. As taxas não serão talvez tão atrativas. Mas uma vez que a crise do coronavírus passe, ela vai voltar aos seus patamares anteriores."
A digitalização da sociedade
"Há 30 anos, a internet não estava difundida. Não havia smartphones. E muitas coisas feitas pela internet se tornaram realidade. Ela está aqui para ficar. Nos próximos 10 anos, ela fará coisas inimagináveis. Há muito tempo, ajudamos um jovem começando uma empresa. Era Jeff Bezos. Dissemos a ele que a empresa ia dar certo, mas que ele estava fazendo coisas erradas. Ele deu algumas ações para nós, mas vendemos. Não achávamos que a digitalização ia decolar como decolou.
Por isso que eu digo para pessoas da minha idade: converse com seus filhos e veja o que eles estão usando. Bilhões de pessoas estavam usando o WhatsApp antes de eu conhecer. Precisamos conversar com os jovens. Eles vão se adaptar mais rapidamente do que os mais velhos. Se você quer perguntar que rumo o mundo está tomando, não pergunte a mim. Pergunta aos jovens."