Alvos de grandes aquisições em movimentações recentes do mercado de mineração, a britânica Anglo American e a canadense Teck Resources estão unindo forças em um negócio que, além de ser o principal do setor em mais de uma década, se consolida como um dos maiores já feitos nessa indústria.

As duas empresas anunciaram nesta terça-feira, 9 de setembro, a junção de suas operações, classificada como uma “fusão de iguais” e que cria, na prática, uma gigante de mineração com valor de mercado de mais de US$ 53 bilhões, posicionada entre os cinco maiores produtores globais de cobre.

Nos termos do acordo, que ainda depende de aprovação regulatória e está sujeito a ajustes, a Anglo American passará a deter uma participação de 62,4% na empresa resultante dessa combinação, que será batizada como Anglo Teck, enquanto a Teck Resources ficará com a fatia restante de 37,6%.

“Estamos desbloqueando um valor excepcional tanto no curto quanto no longo prazo – formando uma empresa global campeã em minerais críticos com o foco, a agilidade, as capacidades e a cultura que caracterizam ambas as companhias há tanto tempo”, afirmou, em nota, Duncan Wanblad, CEO da Anglo American.

CEO da Teck Resources, Jonathan Price complementou: “A união de nossos ativos de cobre de classe mundial, operações premium de minério de ferro e zinco, e um excelente pipeline de projetos de crescimento de alta qualidade proporciona enorme resiliência e opcionalidade”.

Depois da conclusão do acordo, prevista em um prazo de 12 a 18 meses, a Anglo Teck terá Wanblad como CEO. Price atuará como vice-CEO, enquanto John Heasley será o CFO. Boa parte das lideranças estará baseada no Canadá, com o restante do time dividido entre a África do Sul e o Reino Unido.

Com sede em Vancouver, a nova empresa deverá ter a Bolsa de Valores de Londres como seu principal balcão, com listagens secundárias em Toronto e Joanesburgo, além de ADRs na Bolsa de Nova York, em processos que estarão sujeitos à aprovação ou aceitação de cada um desses balcões.

Já no que diz respeito ao portfólio, a Anglo Teck deterá seis ativos de cobre no Chile, Peru e Canadá, com projetos brownfield e greenfield em desenvolvimento em seis países, e uma produção anual combinada de 1,2 milhão de toneladas, além de negócios de minério de ferro, zinco e insumos agrícolas.

De acordo com o comunicado, a projeção é de que a produção de cobre crescerá em aproximadamente 10% até 2027, para cerca de 1,35 milhão de toneladas. A expectativa é que esse segmento represente mais de 70% da matriz produtiva da operação.

Essa representatividade dialoga com a visão de que o cobre é essencial no cenário de transição energética, com ampla utilização em carros elétricos, parques de energia solar e eólica, chips, sistemas de refrigeração e outros componentes para data centers turbinados pela onda da inteligência artificial.

Com uma produção de 61 milhões de toneladas, o segmento de minério de ferro premium da Anglo Teck, por sua vez, contará com minas na África do Sul e no Brasil. Já a operação de zinco inclui minas nos Estados Unidos e no Canadá.

Segundo as duas companhias, a expectativa é que a fusão gere sinergias anuais de aproximadamente US$ 800 milhões até o fim do quarto ano após a transação ser concluída, com aproximadamente 80% desse montante sendo capturado até o fim do segundo ano.

No comunicado, as empresas também ressaltaram que irão trabalhar com stakeholders e parceiros nas minas de cobre de Collahuasi, da Anglo American, e Quebrada Blanca, da Teck Resources, no Chile, para otimizar o valor desses ativos e capturar US$ 1,4 bilhão em sinergias na linha do Ebitda.

A Anglo Teck seguirá desenvolvendo a exploração e a descoberta de minerais no Canadá, América Latina, Estados Unidos, Europa, África do Sul e Austrália. E planeja investir 300 milhões de dólares canadenses (US$ 217 milhões) nessa frente em cinco anos após a conclusão do acordo no Canadá.

Curiosamente, a fusão acontece pouco tempo após as duas empresas rejeitarem ofertas de rivais. Em 2024, a Anglo American recusou uma proposta de US$ 49 bilhões da BHP, interessada justamente em seus ativos de cobre. Um ano antes, a Teck negou a investida de US$ 23 bilhões da Glencore.

No caso da Anglo American, a recusa foi seguida por um plano de reestruturação, que incluiu a revisão e a simplificação do seu portfólio, tendo como resultado a decisão de se concentrar em seus negócios de cobre, minério de ferro e insumos agrícolas.

“Essas ações representam as mudanças mais radicais para a Anglo American em décadas”, afirmou Wanblad, o CEO do grupo, em maio de 2024, quando o plano foi anunciado. Na época, o executivo destacou que a companhia seria “extremamente valorizada” até o fim de 2025, quando esse processo seria concluído.

Como parte dessa estratégia, em fevereiro deste ano, a Anglo American anunciou a venda de 100% dos seus negócios de níquel no Brasil. O acordo foi fechado com a MMG, subsidiária da China Minmetal, empresa estatal e uma das maiores mineradoras da China, por US$ 500 milhões.

No comunicado de hoje, a Anglo Teck ressaltou que seguirá “comprometida” com essa simplificação do portfólio anunciada pela Anglo American, em um esforço que inclui o processo em curso para separar a De Beers, seu negócio de diamantes, além da conclusão de vendas em carvão e níquel.

As ações da Anglo American registravam alta de 9,81% na Bolsa de Londres por volta das 13h30 (horário local), dando à empresa um valor de mercado de £ 26,7 bilhões. Em Toronto, os papéis da Teck Resources fecharam o dia de ontem com alta de 1,98%. A empresa está avaliada em 23,7 bilhões de dólares canadenses.